A Puxada do Mastro de São Sebastião, realizada anualmente em Olivença, possui um fundamento histórico na vivência dos povos indígenas que sempre habitaram a região. Com origem no século XVII, a festa se concentra na Praça Cláudio Magalhães, onde está situada a Igreja de Nossa Senhora da Escada, mantendo viva a cultura local, a tradição e a religiosidade.

No último domingo (14), moradores e turistas realizaram o cortejo, que teve início na Mata de Ipanema, com rituais indígenas, replantio de árvores e confraternização dos machadeiros, passando pelas praias do Sirihyba e Cai n’Água, até chegar à praça principal do bairro. Ao lado da multidão, o prefeito Mário Alexandre participou do evento, que marca o calendário turístico de Ilhéus, por sua potencialidade popular e cultural, sendo realizado no segundo domingo do mês de janeiro. A festa é realizada pela Prefeitura e pela Associação dos Machadeiros de Olivença (AMAO).

“São oito anos apoiando e prestigiando essa manifestação cultural do nosso município. Eu não poderia deixar de participar dos festejos, que mantêm viva a história de Ilhéus e fomentam o turismo. A riqueza de nossa cultura se deve à luta dos povos originários. Então, nós reavivamos essa festa e faremos muito mais”, disse o gestor.

A Puxada representa uma oportunidade de fortalecer os laços culturais e promover um ambiente de celebração e valorização dos rituais e tradições do Povo Tupinambá. A missa do tríduo a São Sebastião também integrou a programação e abriu o calendário religioso em homenagem ao santo padroeiro.

Ritual

Embora tenha vários ciclos, a Festa da Puxada do Mastro se inicia com a escolha da árvore, por um grupo de machadeiros, que determina qual será o mastro utilizado naquele ano. Nos dias que antecedem o evento, a comunidade local se dedica aos preparativos, como a ornamentação da Praça e atividades festivas paralelas.

No local onde a árvore é derrubada, acontece um misto de devoção, fé e sacralidade, onde indígenas reafirmam seus laços familiares e repassam a tradição para os mais novos, através do mastaréu, um mastro menor específico para que os adolescentes sejam iniciados na tradição, seguindo o exemplo dos adultos.

“A Puxada é celebrada desde a invasão, quando os nossos parentes da Nação Tupinambá iam à mata, tiravam um mastro e levavam para o centro da aldeia para fazer os nossos rituais e celebrar a colheita e a vida. A Nação Tupinambá teve um surto de varíola e a cura foi alcançada por São Sebastião. Então, a Puxada é realizada para agradecer pela cura”, explicou o Cacique Sussuarana Morubixaba Tupinambá.

Visando à sustentabilidade, novos rituais foram inseridos ao festejo, entre eles, o replantio de árvores no local da cepa. A sacralidade é um elemento fortemente presente na festividade. Após a derrubada da árvore, são adotadas práticas como retirada das cascas do mastro para fazer chá, com a certeza de cura de enfermidades e atração de sorte, quando colocadas na carteira.

Conforme a tradição e crença, as cordas utilizadas para puxar o mastro servem de enfeites e de proteção para o corpo e a alma. Transcorrida a festividade, o mastro é substituído na praça, o tronco novo é retalhado e o antigo guardado junto com o mastaréu para ser queimado nos festejos juninos.

Entretenimento

A festa serve de palco para a apresentação de artistas e bandas locais. De sexta-feira até domingo, o público se divertiu ao som de Naian Dimes, Allan Diniz, Sinho Ferrary, Axé Beach e Batuke Bom. Sérgio Oliveira, turista de Minas Gerais, participou do evento pela primeira vez. “Uma festa muito organizada, realizada para todas as idades. Aproveitei para trazer a minha família e pretendo retornar nos próximos anos”, comentou.