A Bahia alcançou as maiores notas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) desde que a avaliação foi criada, em 2005. O estado avançou nos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental e especialmente no Ensino Médio. Um dos fatores que contribuiu para esse crescimento foi o Plano de Formação Continuada Territorial, instituído no ano passado pela Secretaria da Educação, por meio do Instituto Anísio Teixeira.

Atualmente,  mais de 9 mil educadores e técnicos nos 27 Territórios de Identidade da Bahia participam da formação, direcionada a gestores escolares, coordenadores Pedagógicos e equipes técnicas das redes municipais e estadual. A ação conta com a parceria da União dos Municípios da Bahia (UPB), da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME) e do Itaú Social. Os encontros formativos reúnem para profissionais que atuam nos períodos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, segmentos nos quais a Bahia ainda não alcançou as metas estabelecidas pelo MEC.

Márcio Vila Flor, que atua desde o ano passado como formador junto às duplas gestoras (diretores escolares e coordenadores pedagógicos) conta que o grande foco na formação do ano passado foi discutir a gestão das aprendizagens das crianças, adolescentes e jovens e o lugar da avaliação. “Nós refletimos sobre as expectativas de aprendizagens dos estudantes, os descritores de aprendizagem, as matrizes curriculares de língua portuguesa e matemática. Tudo isso, sem sombra de dúvidas, apesar do pouco tempo, impactou positivamente nos resultados do IDEB que nós tivemos na Bahia. Em algumas escolas, nós alcançamos a meta e em outras, apesar de não termos alcançado a meta prevista, nós tivemos crescimento”.

O educador contou que o trabalho feito com as duplas gestoras se desdobrou em planos de ação, acompanhamento mais qualificado dos professores e em decisões curriculares ancoradas nas matrizes de referência. Ele também lembrou que o espaço da formação não tinha como objetivo alcançar as metas estabelecidas para as escolas, mas sim qualificar a aprendizagem dos estudantes. “Nós olhamos para os dados de aprovação, reprovação e abandono escolar como consequência da não aprendizagem, como uma escola que poderia estar distraída a esses aspectos que são tão caros para a manutenção dos estudantes e para o seu crescimento pessoal e profissional. Não podemos ter uma escola por onde os meninos passam e não logram sucesso na vida, no exercício da sua cidadania, nas relações sociais que estabelecem”.

Quando se traz discussões que norteiam o dia a dia dos educadores, há sempre a potencialização do que está em prática, defende o formador Anselmo Oliveira, do NTE 4.  “Questões como o que temos como ferramentas, que podem nos orientar e a partir delas, entender onde queremos ou podemos chegar, fazem parte da pauta dos encontros formativos”. Neste cenário, evidencia o propósito das avaliações, internas e externas: diagnosticar a aprendizagem dos estudantes. “Isso permite que a escola consiga identificar se as práticas implementadas naquele espaço tiveram êxito.”

Mais coordenadores, menos barreiras
Este ano, o diretor Leonardo Ferreira, do Colégio Polivalente de Caravelas, no sul da Bahia, soube pela primeira vez qual era o IDEB da sua escola. Antes da formação continuada, o gestor não conseguia mobilizar os estudantes da unidade, que possui quatro anexos, para realizar a prova do SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica), a partir da qual o IDEB é calculado. “As estratégias discutidas na formação favoreceram a superação dessa barreira e, sobretudo, otimizaram o desempenho dos nossos alunos, nos colocando acima da média das escolas estaduais na Bahia”.

Além da intensa campanha de sensibilização com os professores, estudantes e com a comunidade escolar, Leonardo conta que o SABE (Sistema de Avaliação Baiano de Educação) também teve um papel importante nesse processo. “O SABE possibilitou uma excelente dinâmica de apropriação do tipo de avaliação e apontou pontos específicos de dificuldade de cada aluno, otimizando o trabalho da coordenação pedagógica e dos professores”.

Gleidiane Rocha, que é formadora no NTE 7, no Extremo Sul, onde está a escola que Leonardo dirige, conta que a formação continuada ocorreu simultaneamente a outros dois processos: a chegada de mais coordenadores pedagógicos à rede estadual e o planejamento de ações para compreender melhor as avaliações externas. “A troca de experiências entre diretores e coordenadores pedagógicos foi essencial para o desenvolvimento da cultura da análise dos resultados para além dos números. Além de alcançar o percentual necessário para a divulgação da nota, a apropriação dos descritores no currículo da escola, assim como a familiarização da estrutura da SAEB a partir da aplicação da SABE e a tabulação e análise dos dados foram ações essenciais para melhorar o índice do IDEB”.

Mas é sempre importante lembrar que a nota do IDEB é o reflexo do trabalho, e não um fim em si mesmo. A formadora ressalta que o foco precisa ser sempre a aprendizagem dos estudantes. “A escola precisa funcionar em todos os seus âmbitos para cumprir esta missão sociocultural a que foi confiada. Por isso, a importância de se desenvolver uma equipe que compreenda o foco, que se entenda enquanto profissionais e colaboradores neste processo tão lindo que é educar”.

Aproximação com a comunidade
Professor universitário na área de Literatura, o formador Gildeci Leite, do NTE 03, na Chapada Diamantina, acrescenta que a relação com a comunidade é muito importante. “É preciso entender o entorno, ajudar os estudantes e a comunidade em geral a se envolver positivamente com a escola”. Na sua opinião, a formação traz essa relação desde quando investe no papel do coordenador pedagógico como mediador da integração, não apenas de professor e estudante, mas também do estudante com a comunidade na qual está inserido.

Em um processo formativo em que um dos primeiros encontros trouxe o plano de ação da dupla gestora, outra educadora, a coordenadora pedagógica Mônica Gomes, do NTE 04 (Sisal), reitera a potencialização do trabalho como fator preponderante no resultado do IDEB. O plano de ação da dupla gestora, uma das atividades a formação continuada do IAT propõe, deu origem à ideia de incluir os estudantes no planejamento e organização da realização das provas do SAEB, como forma de mobilização.

O Colégio Estadual Heraclides Martins de Andrade, a escola em que Mônica trabalha, fica no município de Tucano e também nunca tinha tido nota no IDEB, por não ter alcançado o contingente mínimo de participação dos estudantes. “A formação mexeu muito na ideia de planejar como fazer os estudantes participarem. Nos encontros formativos, percebi a importância de conversar com os alunos antes da prova.” Conseguiram 92% de participação e a nota de 3,3, próxima à média da Bahia, de 3,5.