Formada em psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 2021, Laura Fernandes dedica a sua residência, uma espécie de pós-graduação em serviço, no campo da saúde mental. A proposta é durante dois anos da atividade curricular, circular pela rede de atenção psicossocial do Rio de Janeiro e conhecer a sua realidade. No entanto, além dos serviços obrigatórios, a residência lhe permite passar por um estágio externo, onde pode ser escolhido o serviço que quer rodar durante o mês de agosto. É nesse contexto que Laura entra para a história do Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio, em Ilhéus. Ela tornou-se a primeira residente a atuar na unidade, que traz o perfil de hospital-escola.

Durante a graduação, Laura teve grande interesse na saúde materno-infantil. “Todo o processo de gestar, de se tornar mãe, puerpério, saúde mental, sempre interessaram”, explica. Mas ela também trazia uma outra vontade aliada a este interesse: conhecer essa mesma realidade em uma população de mulheres nas aldeias e ver de perto as suas principais dificuldades. Foi pesquisando na internet que ela encontrou reportagens sobre o hospital e o tema e passou a conhecer detalhadamente a proposta do HMIJS de ser, em breve, a primeira maternidade da Bahia a executar um programa de incentivo da atenção especializada para os povos originários do estado. A ideia consiste em dar qualificação na prestação do serviço, respeitando contextos interculturais, cuidados tradicionais e a presença de atividades de educação permanente nas aldeias, conforme previsto em Portaria do Ministério da Saúde. “Fiquei encantada com isso. Muita coisa me chamou a atenção”, assegura.

Esforço

Laura decidiu então manter contato com o hospital, considerando, inclusive, o aspecto de ser a única maternidade 100 por cento SUS do sul da Bahia. Para a diretora Domilene Borges ela explicou qual era a proposta do seu trabalho. No entanto, para ser acolhida pelo hospital era preciso vencer mais uma condição burocrática: ter a aprovação da Escola de Saúde Pública da Bahia, por onde passa a formalização dos estágios nas unidades hospitalares públicas do estado. Ela conseguiu. Laura permanecerá no HMIJS nas próximas três semanas.

Além de atuar no hospital ela irá acompanhar ações implantadas pela direção, a exemplo da roda de conversa em bairros da cidade, o apoio psicológico aos casos de violência contra a mulher, contribuir dando suporte psicológico às mães que amamentam como reforço à campanha do Agosto Dourado e ajudar no desenvolvimento da proposta de implantação de serviços para a comunidade trans. Laura ainda vai visitar, junto com a direção do hospital, aldeias da etnia Tupinambá.

“Vim com a ideia de pensar como é esta articulação da rede. Em apenas um dia já vi que é muita informação. São muitas propostas que vocês estão apresentando. Mas o que mais me chamou a atenção é esse pensamento territorial que a direção traz. Penso que isso é um diferencial e inovador”, afirmou. A ideia de sua participação, segundo Laura, é de conversar e entender o que a população está precisando, o que pode melhorar no serviço. O fato de ser a primeira residente a atuar na unidade é destacado pela profissional. “Feliz de que este momento esteja acontecendo comigo e quando for retornar para o Rio de Janeiro vou poder apresentar o resultado disso tudo. Espero que outros (profissionais) também possam passar por esta experiência”, comentou.

Produção de conhecimento

No perfil de hospital-escola, o HMIJS já trabalha com o internato de 49 estudantes de medicina (UESC, UFSB e FASA) e com estágio para os cursos de Enfermagem (UESC) e Técnico de Enfermagem (Centro Estadual de Biotecnologia e Saúde – CEEP). “Essa articulação da assistência com a educação é fundamental, é uma troca rica devolvendo para a sociedade o que ela paga de imposto”, resume a primeira residente do Materno-Infantil. O HMIJS tem um ano e 8 meses de funcionamento. Foi construído pelo Governo do Estado e desde então é administrado pela Fundação Estatal Saúde da Família (FESF SUS).