A Vila Cachoeira, localidade à margem esquerda do rio Cachoeira, formada em sua maior parte por trabalhadores rurais e pescadores, viu sua tranquilidade ser levada pelas águas ferozes que inundaram quase todas as edificações. Foi na enchente de 25 de dezembro, assim como ocorreu com os ribeirinhos de Itabuna.

A enchente, ação da natureza, portanto imprevisível e imparável, já está sendo tratada pela população como mais uma tragédia com que devem se conformar. Mas, apesar da simplicidade das pessoas, ninguém esquece do que poderia ser feito no momento seguinte. E a reclamação com o Governo Municipal é a tônica.

Cachoeira também teve seu herói improvável, que a muitos salvou usando uma jangada, enquanto a fúria de Iara se abatia sobre sua casa. O trabalhador rural Reginaldo de Souza Melo, o Gringo, perdeu tudo, salvou a sua e diversas outras vidas. Mas também é daqueles que não entendem o abandono do Poder Público.

Assim como em Itabuna, a enchente que destruiu a vila foi considerada a maior tragédia da localidade. O avanço das águas encobriu várias casas e chegou quase ao teto da Igreja Católica, que inicialmente servia de abrigo para as vítimas e também precisou ser evacuada às pressas, quando a água a invadiu. “Na verdade, só ficaram livres alguns pontos, verdadeiras ilhas naquele mar de água” relembra Gringo.

 

Para piorar a situação da comunidade, o Posto de Saúde também sofreu com o alagamento. “Tudo foi perdido. A Prefeitura não mandou sequer uma equipe para fazer a limpeza da casa. Estamos sem atendimento médico.  Se a prefeitura não tem quem mandar para fazer a limpeza, a comunidade mesmo pode fazer, basta eles autorizarem”.

Gringo teme que o posto não seja reativado logo, ou mesmo que jamais reabra  “Lugar pequeno, as pessoas já falam que não vai reabrir. O que piora é que a prefeitura manda que os moradores daqui procurem atendimento no posto de Banco da Vitória, mas é uma situação muito complicada. Não tem por que nos obrigar a fazer esse deslocamento tão grande”.

FGTS Calamidade

Como em Itabuna e várias outras cidades baianas atingidas pelas enchentes, a solidariedade marcou presença em Vila Cachoeira. Mas a realidade dura já está de volta. “Recebemos doações de roupas e outras coisas, mas foi só isso. Nem o FGTS foi liberado para as pessoas”, diz o trabalhador rural. Ele afirma que isso ocorre porque o governo municipal não fez o dever de casa, não tendo feito a declaração de estado de calamidade.

“Para a Caixa Econômica Federal, a gente não tem direito, porque o Município não fez a declaração de calamidade pública. Aqui muitos tem direito, porque trabalham na fábrica da Avatim”, conta. Em tempo: o blog  O Trmbone apurou, porém, que houve, sim, a formalização do decreto de calamidade.

Procurada, a Superintendência Regional da Caixa disse à reportagem que já está ocorrendo a liberação do benefício para os moradores de Vila Cachoeira, mas observa que pode estar havendo dificuldades de algumas pessoas com o aplicativo. Nesse caso, a orientação é procurar, presencialmente,  uma agência da Caixa em Ilhéus.

Tudo destruído

A indignação observada em Vila Cachoeira é semelhante ao que se viu esta semana em Salobrinho, outro bairro ilheense que cresceu à margem do rio. Ali, dezenas de moradores organizaram um protesto na segunda-feira (24), cobrando ações efetivas da prefeitura. Fecharam a pista, prejudicando o tráfego na BR-415, e chamaram a atenção da sociedade e das autoridades.

Em Cachoeira, foram 100 famílias atingidas com gravidade, e perderam todos os móveis. Sem falar em prédios de instituições como igreja e a própria UBS. As imagens, postadas ao longo desse texto, dão a dimensão do estrago. Gringo não vê, por enquanto, articulação de um protesto semelhante ao do Salobrinho. “Mas isso não quer dizer que não estamos precisando. Tudo aqui foi destruído, e precisamos do apoio das autoridades”, finaliza.

Veja abaixo algumas imagens da tragédia de Vila Cachoeira (clique nas imagens):