Ao final de sessão de ontem (16), na Câmara de Vereadores de Ilhéus, lideranças de trabalhadores do transporte público de Ilhéus se manifestaram do lado de fora do Palácio Teodolino Ferreira, sede do Poder Legislativo, sobre o trabalho do “motocobra” (motorista que faz também o papel de cobrador no transporte público da cidade) que vem sendo executado irregularmente pelas empresas concessionárias do sistema na cidade. Os trabalhadores pediram apoio dos parlamentares no intuito de combater a atividade ilegal, já que a função é proibida na Lei Orgânica do Município.

Há um ano a Câmara aprovou uma medida, determinando a presença de um segundo trabalhador em cada veículo. A decisão vem sendo descumprida pelas empresas. “Não há um só ônibus circulando pela cidade com a figura do cobrador”, protesta a vereadora Enilda Oliveira. “Esta Casa cumpriu o seu papel e, neste momento, precisamos ajudar os trabalhadores para que as empresas cumpram a parte delas”, completou.

Agente social colaborador

O tema já havia sido debatido durante a tarde no plenário da Câmara. O vereador Ivo Evangelista destacou que o cobrador também é um agente social colaborador que ajuda deficiente físico, idoso, no transporte de mercadorias no interior dos veículos. “O motorista sozinho tem condições de fazer estas coisas? Não.”, sentenciou.

Evangelista comparou a dupla função do motorista profissional à do condutor de um carro de passeio. “Somos multados pelo uso do celular ao volante. Mas o motorista de ônibus cobra e dirige ao mesmo tempo e isso não é correto”, afirmou.

Avanço da Covid-19

Presidente da Comissão de Transporte, Trânsito e Mobilidade, o vereador Augustão disse que o sistema público de transporte de Ilhéus é alvo de graves críticas. E ressaltou que a redução momentânea da frota tem provocado uma situação de ônibus lotados na maior parte do dia, o que, certamente, tem contribuído para o avanço da Covid-19 em Ilhéus.

O funcionamento do sistema, de acordo com o parlamentar Tandick Resende, não pode deixar de estar na pauta de discussão dos vereadores. “É um tema que ultrapassa a responsabilidade da Comissão de Transporte e deve ser uma luta de toda a casa”, disse. De acordo com Tandick, hoje os usuários são aviltados no seu direito de ir e vir, especialmente os residentes na zona rural. “A produção está ficando nas roças, perecendo, por falta de transporte público de qualidade”, lamentou.

Papel cumprido

Líder do governo municipal, o vereador Paulo Carqueija destaca que ao aprovar uma lei que impede a atuação do “motocobra”, a Câmara fez o papel que lhe cabia. “O executivo também fez o papel de cobrar o funcionamento correto do sistema, a empresa não abandonou o serviço, embora ruim, e o MP foi provocado. Encaminhou a demanda para a Justiça, que não se posicionou até hoje. Parece simplório. Mas não é”, explica.

“A cidade cresceu. Mas mantém uma estrutura de transporte público de 30 anos atrás”, destacou o vereador Gurita. “Não melhorou nada. Por isso a discussão perpassa por alguns projetos relevantes. É necessário discutir amplamente o tema”, disse.

Ontem, ao ouvir lideranças dos trabalhadores, os vereadores foram informados que no dia 6 de março completa um ano do descumprimento da lei que exige a presença de cobradores nos ônibus. “Vamos protestar com direito a bolo, velinhas e parabéns para marcar a data”, revelou uma das lideranças dos trabalhadores.