Foragido da Justiça do Rio Grande do Sul e da Bahia, por chefiar um esquema de pirâmide financeira, o itabunense Danilo Vunjão Santana leva uma vida de luxo nos Emirados Árabes. Após ter lesado vítimas no Brasil e no exterior, movimentando quase R$ 500 milhões ilegalmente, ele agora investe na sua carreira artística e se apresenta como músico, com o nome artístico Danilo Dubaiano.

O golpe era realizado através de site de apostas esportivas. Para se cadastrar, era preciso depositar uma quantia, com a falsa promessa de ganhos de 30% do valor investido. Só que esse lucro era fictício e o usuário não conseguiria resgatá-lo. Quem ganhava o dinheiro eram as pessoas que estavam no topo da pirâmide, convidando outras para entrar.

No Rio Grande do Sul, ele foi denunciado por estelionato, lavagem de dinheiro e organização criminosa. O Ministério Público estima que o esquema tenha feito milhares de vítimas.

Os crimes foram descobertos em 2017, após denúncias em Sapiranga, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Somente no RS, uma associação reúne cerca de 300 pessoas lesadas.

Uma das vítimas é a empresária Maria Rosinete Pereira, de Cachoeirinha, cidade da Região Metropolitana de Porto Alegre. "Eu perdi em torno de R$ 20 mil", relata. "Como um cara desses consegue ficar livre, não temos justiça, nada, nesse Brasil?", desabafa.

Outro gaúcho, que prefere não se identificar, conta também que perdeu bastante dinheiro. "Eu apliquei três cotas, deu o valor de R$ 20.280 na época", afirma.

Na Bahia, o Ministério Público recebeu inquéritos policiais que tinham sido abertos contra Danilo no Rio, em Pernambuco e em Mato Grosso do Sul. O órgão denunciou também a esposa, que vive com ele em Dubai, o irmão e a cunhada dele.

"Danilo fez uma movimentação criminosa através de relacionamentos familiares. Valores volumosos, R$ 38 milhões, R$ 36 milhões, que transitaram em contas bancárias dessas pessoas no período em que o empreendimento buscava seus empreendedores por meio de recrutamento", afirma o promotor de Justiça da Bahia Inocêncio de Carvalho Santana.

 

Sobre o golpe

O golpe era aplicado por meio de um site, chamado D9, que funcionaria como um jogo de apostas em campeonatos de futebol. Para as autoridades, era um disfarce para a prática da pirâmide financeira.

"Não havia apostas em futebol e nenhum outro esporte. As próprias vitimas que eram estimuladas a trazer mais parentes, mais conhecidos, e a fomentar então a pirâmide financeira", explica a advogada das vítimas, Caroline Baratz.

Os ganhos prometidos seriam de sites de apostas esportivas fora do Brasil. Danilo, porém, nega que o esquema fosse pirâmide. "O que a gente fez foi criar um curso pra ensinar as pessoas ter as análises estatísticas desses mercados", alega. Ele diz que quer devolver o dinheiro às vítimas. "A gente tem valores superiores ao que as pessoas que se sentiram lesadas têm a receber. Que tenha um ressarcimento, e eu sou a favor disso", diz.

Por enquanto, ele afirma querer focar na carreira musical. Entre seus planos, estão a gravação de um disco e uma turnê pelo Brasil. Ele nega também que tenha ido para Dubai com o objetivo de fugir da Justiça brasileira. "Hoje eu tenho meu projeto musical, todos sabem onde moro, você está aqui em minha casa, meu endereço sempre foi informado, nunca fui um foragido da polícia", declara. Seu advogado tenta reverter os mandados de prisão nos dois estados.

 

Vida de luxo

Danilo vive em um condomínio de luxo em Dubai, com direito a campos de golfe. Na frente da casa dele, é possível encontrar uma Ferrari e um Rolls-Royce.

Dentro da residência, está um estúdio, onde ele tem produzido suas músicas. "Eu sou empresário e investidor, e música eu sempre levei como hobby, e agora a gente tá fazendo com mais força", conta.

Em outubro, ele gravou um DVD, com direito a superprodução e convidados, em uma praia de Dubai. "A gente passou um período de praticamente um ano em laboratório e a gente selecionou a dedo essas 15 músicas", afirma o investigado.

Enquanto isso, as vítimas aguardam a conclusão do processo para receberem o ressarcimento do que investiram. Segundo a advogada Caroline, a D9 atuou em vários países.

"Nós temos [vítimas na] China, Paraguai, São Paulo, Bahia. Foi um golpe pelo mundo inteiro", afirma. A estimativa, conforme a advogada, é que o esquema tenha movimentado mais de R$ 500 milhões.

 

Prisão em aeroporto

Com os mandados de prisão, Danilo foi incluído na lista de procurados da Interpol. Segundo as investigações no Brasil, ele chegou a ser preso no aeroporto de Dubai ao desembarcar de um voo doméstico, dando ao início ao processo de extradição.

Porém, ele nega que isso tenha acontecido. "Eu nunca fui abordado em aeroporto. Nunca fui detido em aeroporto", diz.

Um documento do Ministério da Justiça, no entanto, informa à Justiça do RS que ele foi preso durante alguns dias. O Ministério Público do RS iniciou um pedido de extradição dele.

Em março deste ano, o Brasil e os Emirados Árabes acertaram um acordo geral de extradição, que está sendo analisado pelo Congresso.

"Se eu te disser que não existe um temor de extradição, eu tô mentindo. Mas eu sou muito tranquilo e eu acho que as coisas acontecem do jeito que tem que acontecer", diz Danilo. (Com informações do G1/)