Por Egnaldo França

Há 55 anos Rosa Parks recusou-se a ceder seu lugar no ônibus para uma pessoa branca, como determinava o capítulo 6, seção 11, da lei de segregação do código da cidade de Montgomery. Por esta razão Parks passou uma noite encarcerada até que seus amigos pagassem a fiança. Este episódio foi o estopim do movimento que foi conhecido como boicote aos ônibus de Montgomery três dias depois, em 4 de dezembro de 1955. Assim, mais de 40 mil negros usuários deixaram de utilizar o transporte coletivo por 381 dias. Em 1956, a Suprema Corte americana julgou inconstitucional a segregação racial em transportes públicos. O boicote liderado por Rosa Parks contou com o apoio de reverendos como Ralph Abernathy e Martin Luther King e desencadeou a luta pelos Direitos Civis nos Estados Unidos da América.

Há pouco mais de uma semana um reality show (BBB Brasil) em um canal de TV aberto tem causado controvérsias e um verdadeiro desserviço ao povo negro brasileiro, bem como à luta feminista e LGBTQIA+, quando artistas midiáticos e influenciadores digitais tomam posicionamentos contrários às lutas de séculos por respeito, igualdade e dignidade para este público. Enquanto dentro da casa estas pessoas, preocupadas com suas vaidades pessoais ou com um prêmio milionário vão na contramão das ideologias, das lutas e conquistas dos movimentos sociais, fora dela tornam-se cada vez mais visíveis os ataques racistas, machistas e homofobicos na tentativa de desqualificar estas lutas e comparar todos e todas as militantes aos narcisistas confinados. É importantes saber que quem sustenta o programa é justamente quem assiste.

Nesta perspectiva, nós negr@s que compomos a maioria do povo brasileiro, mulheres que também são a maioria desta população ou LGBTS que não são poucos, já devíamos ter aprendido com Rosa Parks como se faz um CANCELAMENTO POSITIVO, como foi feito em 1955 com os ônibus.

Portanto, DESLIGUEM A TV na hora do BBB e vamos provocar o debate sobre as questões raciais, LGBTQIA+ e feminismos com quem tem propriedade com a questão. Se o programa ZERAR A AUDIÊNCIA não vai ter quem banque a farra do desserviço.

ASSIM VAMOS APRENDENDO A FAZER REVOLUÇÃO!

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Egnaldo França é Mestre em Educação e Relações Étnico-Raciais, Especialista em Gestão Cultural, Historiador, Artista