Por José Antonio Loyola Fogueira

Na quarta-feira (25) a Agência IBGE Notícias apresentou ao povo brasileiros os números da Pesquisa Nacional de Saúde 2019, com recorte especifico de orientação sexual, e isso causa um reboliço nas manchetes de parcos veículos de comunicação. O que poucos sabem é o porquê de só agora o Instituto Brasileiro de  Geografia e Estatística (IBGE), resolver divulgar tais números. Para quem não está inteirado do que está por trás desta divulgação acerca do Censo 2022, há algumas pistas nesse link: https://www.otrombone.com.br/censo-2022-o-apagamento-de-uma-populacao/ ).

Os números apresentados hoje pela Agencia de Notícias do IBGE foram coletados através da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), em 2019, e represados até a presente data, quando foram apresentados ao público brasileiro, como uma verdadeira pérola. Contudo, essa grande apresentação torna claro algo que teve inicio lá em 2011, quando foram criadas as mentiras e falácias acerca de um “KIT GAY”, onde um projeto macabro iria transformar meninas em meninos e meninos em meninas. Então, na elaboração de documentos que iriam nortear os percursos educativos no Brasil, foram omitidos termos como Identidade de Gênero, e/ou Orientação Sexual, e assim sumiram do Plano Nacional de Educação e da Base Nacional Comum Curricular tais termos.

Conforme texto apresentando a pesquisa, é dito que “Cerca de 2,9 milhões de pessoas se declararam homossexuais ou bissexuais, no país, em 2019, o que correspondia a 1,8% da população adulta, maior de 18 anos. Já 1,7 milhão não sabia sua orientação sexual e 3,6 milhões não quiseram responder. Os dados divulgados pelo IBGE são da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) – Quesito Orientação Sexual, que investigou, pela primeira vez, e em caráter experimental, essa característica da população brasileira”.

Ao analisarmos o que está dito acima, para nós, pesquisadores do tema da sexualidade, gênero, saúde e educação, algumas questões gritam: por que 3,6% não quiserem declarar a sua Orientação Sexual? Qual a metodologia aplicada nesta pesquisa? Como podemos investigar Orientação Sexual, omitindo a Identidade de Gênero destas mesmas pessoas? Seria este um dos fatores dessas 3,6 milhões de negativas?

A quem beneficiou o represamento de tais números, coletados em uma pesquisa pública, realizada por um órgão oficial do governo, há quase três anos? Com certeza à população envolvida nos dados levantados é que não foi. A ausência de números impacta diretamente na vida de milhares de pessoas que vivenciam suas trajetórias de vidas com expressões e identidades sexuais dissidentes da prática hegemônica da hétero sexualidade, ancoradas em sistemas de poder e dominação durante séculos. Ao não se saber ao certo quantos são os indivíduos desta população, como se elaborar políticas públicas que atendam as necessidades de um grupo populacional crescente e plural? Simplesmente estas políticas não são feitas e quando são feitas não são efetivadas.

Desde que estes números foram apresentados que as principais redes de comunicação em torno do tema estão num amplo e profundo debate, o movimento nacional deseja ter maiores informações acerca do processo de como foi efetuada a pesquisa, e mais ainda agora, sabendo que só foram publicados para tentar uma resposta à uma parcela da população que não se sente representada e ou respeitada na condição de humanos com direitos neste sistema de governo brasileiro.

Nos principais canais de comunicação, estes números não são corroborados, eles são tidos como uma subnotificação, proposital, dentro de um projeto de apagamento e invisibilização de uma população. “Somos muites mais que estes números”. Uma coisa é o cenário apresentado desta população, outra o que que mostra a atividade econômica e política deste povo também brasileiro, que avança sem demonstrar qualquer intenção de retrocesso e/ou volta aos tempos do armário.

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José Antonio Loyola Fogueira é mestrando do PPGER, UFSB/CJA. Pedagogo(UESC), Especialista em Saúde Coletiva(UFSB), Especialista em Educação Afetiva e Sexual(UCAM).