Por Domingos Matos

O prefeito Augusto Castro se elegeu prometendo priorizar a saúde, e não poderia ter sido diferente, uma vez que a campanha eleitoral se deu no meio de uma pandemia mundial. Além desse detalhe, a gestão que estava findando havia fracassado homericamente nessa área. Natural que o tema saúde tivesse mesmo dominado os debates politicos durante todo o processo. Mas, aí veio a posse, e o discurso começou se evaporar.

Não que o prefeito não tenha dedicado atenção à saúde, pelo imperativo do momento. O problema tem sido a forma. Primeiro, a hiper concentração dos serviços (poder, orçamento) na Santa Casa de Misericórdia. Hoje, há uma terceirização não declarada dos serviços pelo Município para a centenária instituição. À primeira vista, para quem se atém a observar os aspectos técnicos e estruturais, ou mesmo apenas para quem se deixa levar pelo excelente branding marketing ali operado, a solução parece inquestionável.

Mas há que se pensar que a prestação de serviços em saúde pública leva em conta alguns princípios. Um deles é o da universalidade. Aí é onde entra o problema do fechamento da Maternidade Esther Gomes. Aqui, vamos nos permitir lembrar seu antigo nome: Maternidade da Mãe Pobre. Apesar de depreciativo, para o contexto da universalidade que se pretende demonstrar, cabe como uma luva. Quem vai atender as mães pobres, seus filhos e filhas? O Hospital Manoel Novaes terá pernas para realizar, sozinho, atendimentos obstetrícios e pediátricos, para pacientes de Itabuna e região?

O fechamento brusco da Maternidade Esther Gomes não pode ser aceito sem, ao menos, uma discussão aprofundada. E isso independe de torcida, de posicionamento político-ideológico e até de quem foi o candidato da preferência de cada um nas últimas eleições. Trata-se de um equipamento estratégico para a saúde de Itabuna e região. Não se está cobrando desrespeito à lei, muito menos que o atual gestor desenvolva alguma simpatia pelos dirigentes da fundação que mantém a maternidade. Se preferir, até, que encare a coisa como apenas mais um contrato: compre mil consultas, 500 partos e audite aquilo que for pagar. Just business.

Estranhamente as instituições das quais se esperam ações de fiscalização dos feitos do Poder Público seguem caladas, como se vivessem mais que uma quarentena, uma hibernação, um hiato funcional. A Câmara de Vereadores segue num silêncio revelador. Do prédio em formato de pizza, só se ouve, semanalmente, um conformardo “amém, senhor Prefeito!”. Do Ministério Público há muito não se tem notícia.

Sim, cabe questionamentos, sobre essas decisões, pelo risco de falha na cobertura do atendimento SUS a toda a população. Se não forem devidamente explicadas à comunidade ganhará força a percepção de que tudo não passa de perseguição política ou tentativa de apagamento da história de quem veio antes do prefeito de plantão. Até agora, o que ficou explicito foi o desejo do prefeito Augusto Castro de que o itabunense não lembre que um dia esse município teve outros gestores. Impossível, claro.

Mas, se ele realmente deseja ter a preferência nessas lembranças, poderia começar por fazer algo diferente, pelo menos, daquele a quem imediatamente sucedeu: cuide da cidade em todos os seus desafios, solucione o xadrez da saúde pensando no povo e, pra evitar comparações, tente não imitar o desafeto. Lidere a cidade daqui, na vivência dos problemas, no calor do povo – mantendo distanciamento e usando máscara. Do litoral, tomando água de coco, na sombra dos privilegiados não dá pra sentir as dores da população.

Ao prefeito Augusto Narciso Castro, um lembrete: na gestão pública, nem tudo é espelho.