Entrevista com Jackson Moreira, presidente do PT de Itabuna

Depois de vencer a eleição interna do PT, o administrador Jackson Moreira já promoveu uma complexa reaproximação com seus pares, muitos deles magoados devido à disputa dura que travaram no PED; enfrentou uma desfiliação do único vereador petista, e lida com correligionários que pedem votos para adversários. Mas nem tudo são espinhos. Quem conversa com Jackson tem a impressão de ele se preparou para isso a vida inteira. “Acredito que Rui Costa virá apoiar Geraldo”, declara, convicto. Nessa entrevista ele nos faz acreditar nas flores. Com os dedos todos furados.

O Trombone – Presidente, o PT passou recentemente por um processo de eleição direta (PED) bastante duro, muito disputado, e o resultado foi um partido aparentemente dividido. Como o senhor conta essa história do PED e como isso afeta, hoje, as relações do partido com a sociedade e também internamente?

Jackson Moreira – Na verdade eu reputo o PED como uma situação extremamente positiva para o PT em Itabuna. Foi um processo que envolveu aproximadamente 1.500 filiados, nenhum partido faz isso, exceto o PT, e foi muito importante a participação da militância nesse processo. Obviamente tinha que ter um vencedor, e nós obtivemos 12 votos a mais do que a nossa companheira Miralva, no segundo turno. E, a partir daí, fizemos um trabalho de aproximação com todas as correntes do partido, com participação do ex-prefeito Geraldo Simões, nosso pré-candidato; o deputado Josias Gomes, o ex-presidente do PT, membro do Diretório Nacional, Everaldo Anunciação, bem como nosso deputado estadual Rosemberg Pinto. Foram várias conversas, fizemos várias reuniões e concluímos na necessidade do PT ter um pré-candidato a prefeito de Itabuna.

Ficou algum trauma?

Absolutamente. Houve uma pacificação nas correntes, um entendimento de que nós deveríamos realmente disputar a eleição com um candidato forte. Esse entendimento resultou numa Resolução, onde toda a executiva municipal do partido se manifestou, definindo de forma unânime a pré-candidatura do ex-deputado Geraldo Simões.

Mas logo após o vereador Júnior Brandão deixou o partido. O senhor acha que essa decisão foi uma resposta ao direcionamento que o partido deu em favor do nome de Geraldo ou ele teve outros motivos? Ele chegou a conversar com o senhor?

Tivemos duas conversas. Ele disse que não se sentiu motivado a participar de um processo de disputa interna, ou seja, nós teríamos as prévias, que é o que o regimento do PT determina. Ele não se sentia motivado para essa disputa, porque achava que isso traria prejuízos do ponto de vista coletivo na nossa militância. Além do que, demonstrava também uma certa – eu não diria “amargura”, mas uma certa – “insatisfação” com a forma com que o governo do Estado e o Ciso encerraram o processo de locação do prédio onde funcionava uma escola estadual. Ele fez essa manifestação e por conta disso não se sentia a vontade de nem participar das prévias nem continuar no Partido dos Trabalhadores.

Qual o peso que o senhor percebe dessa atitude do Júnior Brandão, de sair do PT? Qual seria o peso hoje, em termos de prejuízo, para o partido? Ele chegou a levar lideranças petistas para outro partido?

Em primeiro lugar nunca é bom perder um companheiro do quilate do vereador Júnior Brandão, que vem fazendo um mandato extraordinário, encarnando, inclusive, o nosso projeto petista, nossa forma de participar do legislativo. Foi muito ruim nesse sentido. Nós gostaríamos que ele permanecesse no partido. Houve essa discussão da pré-candidatura e, não conseguindo ser o escolhido, sinalizamos com a necessidade de tê-lo como candidato a vereador, seria uma das prioridades do PT para a reeleição, considerando que ele já era um parlamentar municipal do partido.

“Acredito que saída do Júnior Brandão do PT foi compensada com a entrada do companheiro Lans Almeida”

Qual o tamanho do prejuízo dessa perda?

Todos os partidos sofrem perdas e conquistas e, imediatamente após a saída do Júnior Brandão tivemos a chegada do companheiro Lans Almeida, um técnico respeitado, uma pessoa com uma militância na esquerda, que veio somar nas fileiras do PT e é pré-candidato a vereador de Itabuna. Então, acredito que a saída do Júnior foi compensada com a entrada do Lans. Algumas lideranças acompanham o Júnior, por outro lado algumas lideranças importantes da nossa cidade estão acompanhando o companheiro Lans no processo de filiação e de disputa de uma cadeira no Legislativo municipal.

Por falar em Legislativo, como estão as negociações para construção da chapa proporcional? Essa semana houve uma discussão muito forte nos meios políticos em relação a isso, à força do PT na eleição proporcional. Como o senhor avalia essa discussão e como está a sua atuação com relação a isso?

Na verdade, um partido que tem 4.500 filiados, é um partido que tem uma gama extraordinária de pré-candidatos e de pessoas comprometidas com o melhor para nossa cidade. Nós temos historicamente excelentes pré-candidatos no processo eleitoral em Itabuna. Para se ter uma ideia, já sinalizando com a perspectiva de manter-se ou se lançar como candidato a vereador, temos vários nomes, a exemplo do próprio Lans, o Manoel Porfirio, o Rubenceu do Detran, Diego do Detran, professora Miralva, professora Ivone, professor Denelísio, enfermeiro Vitório, o ex-vereador Veridiano. Ou seja, temos um número extraordinário de gente qualificada, gente nova como jovem Tauan, que está chegando. Temos também a professora Cristina Bonin, que sinaliza com uma pré-candidatura. Além do que estamos conversando com outros pré-candidatos que, ou foram do PT num determinado momento, ou são simpatizantes do partido. Nós estamos em negociação com várias conversas, vários candidatos, com a perspectiva de trazermos para o Partido dos Trabalhadores, para disputa eleitoral.

Pode dizer quem são esses pré-candidatos?

Não posso dizer nomes, seria precipitado, mas são em torno de 4 a 5 pessoas, que estamos conversando para que possam participar, se filiar ao partido como o Lans fez, e a vir ser candidato a vereador. Ou seja, nós teremos uma chapa com 32 companheiros – 22 homens e 10 mulheres – da melhor qualidade, com condições concretas de fazermos três vereadores, pelo menos.

Como o senhor avalia que será a posição do governador Rui Costa em relação ao pleito aqui, já que nesse momento ele está bastante afastado do processo eleitoral, pelo menos do que é público. Diz-se que petistas sempre chegam junto, na “Hora H”. Acontece isso dessa vez ou se tem algum receio?

Não tenho dúvida que o governador Rui Costa, que é um homem de partido, é uma pessoa preocupada com a importância estratégica que Itabuna e o sul da Bahia representam no contexto eleitoral do estado da Bahia, estará em nosso palanque. Logicamente ele conduz, lidera, um grupo de partidos que o ajuda a governar o estado da Bahia. Mas a gente acredita que o governador Rui Costa, no momento oportuno, estará presente aqui na nossa cidade, participando intensamente no processo eleitoral no apoio ao nosso pré-candidato Geraldo Simões.

Essa é uma pré-campanha de bastidores, que ainda não “pegou fogo”. Existe uma expectativa de “esquentá-la”, de ir para a rua? O Partido dos Trabalhadores está indo para as ruas agora? Como está essa situação?

Como você mesmo disse, intensas conversas de bastidores, no sentindo de discutir a participação de vários candidatos na chapa proporcional. Como a janela de mudanças de candidatos ou filiação partidária para o pleito de 2020 se encerra em 4 de abril, nós estamos nessa fase da conversa de bastidores, intensificando as negociações, os convites, as participações dos filiados ou dos futuros filiados no sentido de buscar uma chapa competitiva. Após o fechamento da janela de mudanças de partido e/ou filiação para o pleito de 2020, aí sim estaremos preparados para ir para as ruas, discutir com a sociedade uma proposta bastante avançada do que é governar nossa cidade e apresentar também essa gama de candidatos de muita qualificação para a Câmara de Vereadores.

Todo tem visto nas redes sociais algumas postagens de petistas seguindo, apoiando, declarando voto em candidatos que não estariam hoje no espectro da esquerda, nem do PT, nem daquela chamada frente que tanto se comenta na cidade. Existe algum problema quanto a isso ou vocês estão abrindo para que todos procurarem seus candidatos?

Lamentavelmente isso ocorre, embora numa proporção muito pequena. A maioria esmagadora dos 4.500 filiados do Partido dos Trabalhadores e seus simpatizantes, está comprometida com a campanha, a pré-candidatura do companheiro Geraldo Simões, bem como a pré-candidatura dos nossos vereadores. Para esses que insistirem na prática, o regimento do partido estabelece os critérios para que essas pessoas sejam enquadradas dentro do que preconiza o próprio regimento. Existe a possibilidade de advertência, suspensão, e mesmo expulsão do partido, mas isso tem um rito regimental. Precisa que algum filiado ou algum membro da Executiva do Diretório Municipal, identificando essa insubordinação partidária, se manifeste com documentos, onde a Executiva do Diretório do partido vai se reunir e analisar o processo, encaminhar para a área competente que é o Conselho de Ética que, em cima do que o regimento diz, vai tomar as providências.

“Quem sabe como se proteger de um presidente que sabota seu próprio governo?

Isso não passa uma imagem de que o partido está dividido em Itabuna?

Poderia passar, mas, como eu sempre falei, essa junção de lideranças municipais e estaduais como o próprio Geraldo, o Josias, o Rosemberg, o Everaldo, tem sensibilizado todo os nossos filiados no sentindo de que cerrem fileiras com a nossa candidatura. Se, eventualmente, algum filiado permanecer com essa prática, o partido tomará as providências do ponto de vista regimental.

O Brasil vive hoje, assim como o mundo, uma situação de extrema apreensão em relação ao coronavírus. O senhor acha q isso pode afetar a forma como vai ser feita a campanha? E de que forma o senhor está vendo a condução desse problema?

Com muita preocupação, principalmente com a irresponsabilidade e a inconsequência com que o presidente Bolsonaro tem tratado essa questão, inclusive, prejudicando o bom trabalho que está sendo pelo ministro da Saúde. As notícias que chegam pela imprensa dão conta de que ele tratou de forma extremamente equivocada uma ação do ministro da Saúde com o governador de São Paulo, sabendo todos que em São Paulo é onde existe o maior número de infectados. Eram 136 até dois dias atrás.

Em Itabuna, vai prejudicar a campanha? Qual cenário o senhor vê à frente?

Nós não sabemos exatamente o tipo de prejuízo que teremos no processo eleitoral, até porque nós não sabemos o alcance do vírus e o período que ele vai permanecer. Agora precisamos de toda a cautela para esse momento que estamos vivendo. Sabemos que é uma doença muito agressiva no sentido de contágio mas, por outro lado, nossa preocupação maior não é exatamente com o vírus, porque os países estão convivendo com o vírus. A preocupação nossa é a forma que o governo vai conduzir esse processo de combate ao vírus. Então, nossa preocupação nesse momento é mais com o presidente Bolsonaro do que com o vírus em si. Sobre o vírus já sabemos das muitas formas como nos proteger. Mas quem sabe como se proteger de um presidente que sabota seu próprio governo?