De um lado, os órgãos públicos e empresas mantêm assistentes sociais no quadro funcional; de outro, tais profissionais apontam a gradativa substituição de seres humanos por robôs, dificultando o verdadeiro contato com a população. Este cenário foi, detalhadamente, discutido em recente sessão especial na Câmara de Itabuna.

Solicitado pela vereadora Wilma de Oliveira (PCdoB), o evento marcou a passagem do Dia do Assistente Social, que transcorreu no último dia 15. Uma das falas mais marcantes coube ao assistente social Charles de Jesus, funcionário do INSS – órgão que passou por greve extensa e passa por verdadeiro “desmonte”, denunciam os servidores.

Direto da plateia, ele trouxe questões bastante delicadas, que certamente justificam o fato de estar “congelado” o agendamento de perícias. Conforme o próprio Instituto Nacional do Seguro Social já anunciou, só serão possíveis novos agendamentos no próximo ano. Por falar nisso, uma das reclamações é exatamente pela “robotização”.

Ou seja, o cidadão precisa do contato com um assistente social para relatar a sua dor, mas consegue apenas um robô do outro lado da linha, para marcar um atendimento de forma absolutamente mecânica. “Jogaram  em aplicativos todo e qualquer tipo de atendimento feito pelo Estado brasileiro”, disparou Charles. 

E mais: revelou que há um volume enorme de serviços para os poucos assistentes disponíveis. “O processo de avaliação social, que era antes da perícia, também está sendo substituído por robôs; trocaram a ordem: a pessoa passa pelo perito primeiro”, denunciou o servidor, já ciente de que aquela greve não duraria muito tempo.

Para se ter ideia, os seis profissionais da agência de Itabuna são responsáveis por atender a um raio de 23 municípios. É por isso que os servidores clamam por concurso público, além de questões salariais que também entraram na pauta da greve. O último certame naquele órgão ocorreu em 2009.

Humanização versus robotização

Ainda sobre a sessão, também estiveram presentes os vereadores Francisco Gomes (PSD), Israel Cardoso/Agir (também assistente social), Kaiá da Saúde (Avante), Manoel Porfírio (PT), Ronaldão e Sivaldo Reis (PL). Eles compartilharam o debate com nomes como Luciana Seara, Diretora da Alta Complexidade na Secretaria de Promoção Social; Suse Mayre Moreira, do Conselho; da Secretaria de Assistência Social de Itabuna, Dulce Carolina Fonseca, Técnica da Alta Complexidade; a assistente social Alana D’el Rei, especialista em Saúde Pública.

 “É uma profissão que lida diretamente com as questões sociais e nós precisamos celebrar. São profissionais que viabilizam direitos, que tratam das políticas públicas. (…) Tenho certeza que estive do lado certo da história, porque estive na porta do INSS, lutando contra a Reforma da Previdência; na porta da Prefeitura, em lugares estratégicos contra a emenda 95 [Novo regime fiscal]”, recordou a vereadora.

Numa palestra que fomentou reflexões, Alana trouxe questionamentos a políticas estatais que individualizam as formas de trabalho. Ao mesmo tempo, destacou a importância do debate sobre a valorização do Serviço Social e manutenção do trabalho humano (versus a tão criticada robotização). “É importante essa união, para sairmos muito mais fortalecidos”, observou.