Por Maria Reis Gonçalves

A história sempre nos conta fatos e feitos de homens e mulheres que conseguem nos transmitir, com suas ações, a paz, o amor e esperança aos corações de um povo sofrido. A própria história universal está repleta de relatos em relação aos grandes atos desses heróis. Sabemos que existe uma grande necessidade humana de ter os seus heróis. Em momentos de dor, diante de grandes tragédias, a presença do herói é como um lenitivo aos nossos corações. Eles são necessários para nos dar a certeza de que não estamos sozinhos, que existe alguém a se importar com o que nos acontece.

Itabuna, no dia de Natal, passou por uma grande tragédia. As chuvas que caíram provocaram a maior enchente dos últimos 54 anos, foi uma verdadeira catástrofe. Em pouco tempo, muitos perderam tudo o que conseguiram ao longo da vida. Foram móveis, lembranças, e até a própria casa, construída com muito sacrifício.

A comunidade, mesmo atônita, perante o que assistia, não deixou de ajudar. Em nenhum outro momento o povo se uniu tanto em busca de aliviar a dor do seu semelhante.

E, em meio ao caos que se instalava, um homem surge, um pescador, de nome Jean, com a sua pequena jangada improvisada, e trona-se a salvação de 121 famílias. Ele vai a locais que já não se podia alcançar andando, e retira as pessoas que estavam ilhadas. Esse pescador, humilde, gente que vive na periferia, enquanto salva centenas de vidas, tem a sua própria casa invadida pelas águas, e seus pertences perdidos.

No entanto, o Pescador com sua jangada, não esmoreceu, não parou de salvar as vidas que precisavam de sua ajuda. Não sei o que falou a sua família, não sei se a esposa do pescador está zangada, se cobrou dele a presença no momento aflitivo; o que sei é que hoje, esse homem do povo, é o meu herói, é o seu herói, o nosso herói.

Tenho imaginado o que passou por sua cabeça, no momento em que soube que sua casa tinha sido devastada pelas águas. Qual a sua indagação a Deus, pelo que aconteceu. Ou será que, naquele momento, vendo a aflição dos que se encontravam perdidos em meio a toda confusão, e em risco de perderem a própria vida, ele nem se lembrou de pensar em si mesmo, nas suas próprias perdas, na sua realidade no pós-enchente. Não sei se ele pensou que a sua esposa e o seu filho também precisavam de ajuda.

O que eu sei, é que esse homem se tornou um novo símbolo para muitos, um novo herói para todos aqueles que foram salvos por ele, e para todos que o assistiram a remar sua jangada, levando e buscando os flagelados da enchente. Um herói que surgiu do meio do próprio povo sofrido, e que encheu os nossos corações de esperança, e da certeza que a solidariedade existe e que a humanidade ainda tem salvação.

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Maria Reis  Gonçalves é Psicóloga