Por Eduardo Duarte
Escrevo este texto a partir de uma inspiração singular que me surge em meio ao resgaste de algumas leituras já familiares, mas que, ainda assim, insistem em revigorar, em mim, a espirituosidade inerente a elas. Desta vez, justifico-me a partir da obra As migalhas dos dias, do escritor e estimado amigo, Adroaldo Almeida – o grande artista do Médio Sudoeste Baiano, com acentuada ênfase – e intencional pleonasmo – no artigo definido masculino.
Ler qualquer obra de Adroaldo Almeida é sempre uma satisfação ao espírito humano, pois a sua literatura é competente o suficiente para abarcar a árdua missão de se desdobrar sobre a complexa condição de existir, e o seu mundo é amplo, porque o seu cerne é um tema caríssimo à humanidade: o amor – não aquele hollywoodiano, mas o que está tanto nas atenções e nas gentilezas do nosso dia a dia quanto no esforço inconsciente pelo outrem.
No Jornal Dimensão, que, semanalmente, condimenta os nossos lares, agora temos a aprazível oportunidade de conhecer os microcontos contidos na supracitada obra do referido autor, onde o leitor deste rico periódico, para além da letra fria da informação, encontra a palavra sensível de uma literatura humanista e, em larga medida, inovadora. Saliento a característica inovadora, pois, até então, no Médio Sudoeste Baiano, eu desconhecia algum autor que escrevesse essa surpresa literária chamada microconto. Adroaldo, na irrequieta escrita de um literato que faz da vanguarda um imperativo, trouxe-nos esta grata novidade, à qual peço uma atenção especial aos qualificados leitores deste jornal.
Microconto é uma curtíssima narrativa que converte uma história num espaço de uma a cinco linhas, causando um impacto irremediável a quem leia – um sintoma literário dos nossos tempos, que alguns ousam chamar como sendo a tal “pós-modernidade”, tão fugazes e minimalistas, onde a palavra é, também, uma das vítimas. Mas, neste caso em específico, procedeu a máxima que ordena fazer dos limões uma limonada. Então, as poucas palavras são capazes de uma profundidade poética imensa para aqueles que são íntimos da escrita: este é o caso de Adroaldo Almeida.
Escreveria páginas e mais páginas a respeito deste grandioso artista, sobretudo pelo seu caráter multifacetado, mas me reservarei, aqui, a versar somente sobre a sua literatura, mais especificamente sobre seus microcontos, em virtude da clarividente pertinência. Espero que estas páginas do Dimensão reverberem no eco das cidades e nos ares do tempo, pois todo reconhecimento a Adroaldo é puro mérito.
Quis o destino que, neste ano, este mesmo escritor ficasse de fora das duas feiras literárias ocorridas em nosso município, mesmo sendo convocado nas outras inúmeras feiras literárias ocorridas Bahia afora – há coisas que chegam a ser mais incompreensíveis do que, até mesmo, as novidades apontadas pela mecânica quântica -, mas me felicito em ver que, nesta mesma cidade, um veículo de informação tão importante quanto o Jornal Dimensão, reconheça-o e ceda um merecido espaço para a literatura refinada da escrita deste nosso querido vizinho.




