FUI OBRIGADO A INTERROMPER MINHAS FÉRIAS

por Redação
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Por Walmir Rosário

Em plena manhã desta sexta-feira, 8 de agosto, me senti abatido, diria até exausto, em meio a um estudo comparado de rituais com vistas à elaboração de uma peça. A cabeça, os miolos, ou sei lá como explicar, ferviam com o vai-e-vem da leitura, justamente num dia considerado o início do fim de semana nos bares e botequins da vida.

Resolvi dar um tempo e me entreter assistindo ao filme “Meu Vizinho Adolfo”, iniciado na noite passada. De repente, ouço alguém bater à porta se passando por um entregador de uma dessas empresas internacionais de vendas pela internet. Desconfiado, pois não esperava a chegada de encomenda, mesmo assim abro o portão e encontro o amigo e irmão Arenilson.

Após risadas e o costumeiro abraço, me entrega um presente trazido em seu passeio pelas bandas de Bom Jesus da Lapa e Correntina: um litro da preciosa aguardente, ou melhor, cachaça, com o nome de Brejeira. Eu esperava um tijolão de rapadura, conforme promessa feita, mas resolvi não reclamar, haja vista a superioridade do regalo.

Enquanto examino o “precioso líquido”, adjetivo proibido nas boas redações, recebo, via whatsapp, o estímulo do amigo Toncar, direto de Campo Formoso, dando conta que o relógio badalava 11 horas, horário de abrir os trabalhos com o toque de um pequeno sino. Transmiti uma foto da Brejeira pra ele, que fez questão de me garantir que era uma das cachaças de sua predileção.

Confesso que minha estranha sexta-feira com o trabalho de pesquisa e nenhuma perspectiva de encontrar os amigos ao meio-dia em pino nos botecos bateu imediatamente em retirada. Guardei os rituais e escritos e me dirigi à cozinha para providenciar alguns tira-gostos à altura do presente recebido, alterando a rotina com um adeus em alto e bom som ao trabalho.

Muito reservadamente posso contar para você que me concedi férias há pouco mais de dois meses, após o trabalho estafante de editar o livro “O Berimbau – Valhacouto de Boêmios”, já impresso. Após alguns adiamentos, finalmente, no dia 26 de julho passado, realizamos o lançamento em grande estilo, no Mac Vita, um dos nossos mais acolhedores abrigos em Canavieiras.

De uma vez só conseguimos reunir a mais fina flor da boemia canavieirense e das redondezas, com a presença maciça dos membros das gloriosas instituições Confraria d’O Berimbau e do Clube dos Rolas Cansadas, como em tempos pretéritos. Uma festa pra ninguém botar defeito, regada a uma boa cachaça com Cambuí em infusão e cerveja bem gelada, e ao som luxuoso do saxofone de Cadu Perrucho.

Como era do procedimento regulamentar em alguns sábados na Confraria d’O Berimbau, os confrades prepararam com esmero o famoso “Tiquinho”, nome pomposo para os pratos elaborados e colocados à disposição dos estômagos famintos. Como sempre, para subverter a ordem, Trajano Júnior chegou com duas enormes panelas de com pernil suíno e fatada.

Não quero aqui falar mal ou reclamar do evento, mas fui bastante prejudicado por ter que me ater a receber os confrades e familiares, bem como autografar cerca de uma centena de livros, além de posar para as fotos. Enquanto isso os convidados se esbaldavam nas bebidas e comidas e nas rodinhas de bate-papo, lembrando com saudade os velhos tempos.

E eu, que sonhava com um longo período de férias, provando da inatividade e dos benefícios do ócio, fui obrigado a interromper a vagabundagem planejada com bastante esmero. Bem que minha mulher me avisou que essa ideia de aposentado tirar férias se tratava de redundância, no bom português, uma utopia desnecessária de ser sonhada. Realmente, por duas vezes fui obrigado a interrompê-la, mas faz parte da vida.

Com a chegada dos confrades do retiro espiritual em Bom Jesus da Lapa, também interrompido pelos passeios nas cachoeiras e alambiques em Correntina, só me aguardar o irmãozinho Batista. É que ele se recupera dos dissabores da gota de estimação e breve promoveremos uma inspeção nos botecos de Canavieiras. Desta vez, sem interrupção.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado

 

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