Três dias após o feminicídio da jovem Kezia Stefany da Silva Ribeiro, de 21 anos, que foi morta com um tiro, na madrugada de domingo (17), pelo advogado José Luiz de Britto Meira Júnior, o g1 detalha o conteúdo dos depoimentos colhidos pela Polícia Civil junto a testemunhas, policiais militares, e o próprio suspeito, que alega que o disparo foi acidental.

Em depoimento, o advogado descreveu a cena do crime e afirmou que não teve a intenção de matar a namorada, com quem mantinha, há dois anos, um relacionamento conturbado.

Os relatos coletados, até então, apontam brigas constantes entre o casal, suposto vício em drogas por parte da vítima, além da proibição da entrada dela no prédio em que o suspeito morava, no bairro do Rio Vermelho.

Os familiares da vítima prestam depoimento nesta quarta, portanto, ainda não há detalhes sobre a versão deles sobre os fatos.

Subtenente da PM que recebeu a informação sobre a morte da vítima:

  • Ele afirmou que recebeu informações por meio do Centro Integrado de Comunicações (Cicom) da Polícia Militar, de que uma mulher havia sido morta em um prédio no Rio Vermelho. Essas informações foram dadas por uma moradora do residencial, que ligou para a polícia ao ver as agressões pelo olho mágico da porta; [Confira o depoimento dela abaixo]
  • Com essa informação, a PM então foi para o Hospital Geral do Estado (HGE), para verificar se a vítima foi levada para a unidade;
  • Após confirmar a placa do carro dirigido pelo suspeito, foi acionada outra viatura, que viu o veículo na região da Pituba. A guarnição avistou o advogado entrando em um prédio – que seria de familiares dele. A partir disso, o subtenente manteve contato com o porteiro desse edifício, que confirmou a chegada do homem ao local;
  • Ao entrar no prédio, a equipe não encontrou imediatamente o suspeito, porque ele havia descido por outro elevador;
  • Ao encontrar ser encontrado pelos agentes, José Luiz afirmou à polícia que teria matado Kezia e que a arma do crime havia sido deixada no prédio no prédio onde ele mora;
  • O advogado disse que levou a jovem para o hospital no carro do cunhado, porque o dele estava na oficina.

 

Porteiro do prédio, última testemunha a ver Kezia viva:

  • Relatou que estava de plantão quando o casal chegou, por volta das 1h30 de domingo. Cerca de cinco minutos depois, ouviu a confusão entre o casal e a jovem pedindo socorro. Por volta das 2h, Kezia acessou o elevador e foi até a portaria, ensanguentada. Ao chegar, ela disse ao trabalhador: ‘Luiz quer me matar;
  • Ele narrou que acalmou a vítima e pediu que ela ficasse ali. A jovem ficou por cerca de 15 minutos na portaria. Após esse tempo, ela voltou ao apartamento e em seguida ele ouviu o barulho de disparo de um tiro;
  • Minutos depois, José Luiz foi até a portaria e bateu no vidro pedindo ajuda. Depois ele foi até o apartamento e trouxe Kezia baleada;
  • Ele relatou que o suspeito arrastou o corpo da vítima e deixou na portaria, enquanto foi buscar o carro;
  • Ele disse ainda que ligou para a polícia, por meio do 190, e registrou o caso, além de ter feito uma ocorrência também no livro do próprio condomínio;
  • À polícia, ele também disse que já havia presenciado brigas entre o casal, que José Luiz chegou a proibir a entrada dela no condomínio algumas vezes, mas que depois ele mesmo sempre a levava para o imóvel.

 

Vizinha do suspeito, que ouviu os disparos e denunciou feminicídio:

  • Durante a discussão entre o casal, a mulher ligou para a polícia e narrou que houve um feminicídio no local. Ela afirmou que ouviu gritos vindos do apartamento e disparo de arma de fogo;
  • Disse ainda que viu pelo olho mágico o momento em que o suspeito arrastou a mulher, desacordada pelo corredor do prédio, e detalhou que um rastro de sangue ficou no chão.

 

Suspeito do feminicídio, José Luiz de Britto Meira Júnior:

  • Afirmou à polícia que o disparo foi acidental e que não teve intenção de cometer o crime;
  • Confirmou que se relacionava com Kezia há cerca de dois anos e meio;
  • Disse que a jovem morava em Feira de Santana, mas que costumava passar os finais de semana na casa dele, e que ficava pelo período que quisesse. Na quinta-feira (14), na mesma semana em que Kezia foi assassinada, foi aniversário do suspeito e ela estava com ele;
  • O suspeito disse que Kezia era usuária de drogas, entre elas maconha e cocaína, e que inclusive era advogado dela em um processo por posse de drogas. g1 consultou o Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (TJ-BA) e não encontrou o processo ao qual José Luiz se refere;
  • O suspeito narrou ainda à polícia que na manhã do dia 16, que Kezia teria pedido para que ele comprasse uma porção de cocaína para ela, o que foi negado;
  • José Luiz afirmou que, com a negativa, a jovem pediu que ele desse dinheiro para que ela mesma comprasse a droga, o que também foi negado;
  • No dia 17, o casal saiu de casa por volta das 16h30 para ir a um show. Nesse evento, José Luiz narrou que Kezia usou drogas, porém, ainda não há um laudo policial que comprove essa versão;
  • Ainda em depoimento, ele disse que sempre deixou claro para a namorada que era contra o vício dela em drogas, e que ela fazia consumo de maconha diariamente;
  • Depois do show, José Luiz contou à polícia que o casal teria ido a um bar no bairro de Brotas e que passou a discutir com a namorada na volta para casa. A discussão foi motivada pelo suposto uso de cocaína, por parte da jovem, e houve ofensas entre ambos;
  • O suspeito afirmou que Kezia quebrou o aparelho dele, batendo em uma bancada, e que em seguida o agrediu com uma tesoura. Disse que foi ferido no braço direito, na altura do ombro, e que tentou tomar a tesoura das mãos dela;
  • Ele narrou também que Kezia quebrou o notebook dele que estava no sofá, e em seguida pegou uma faca para agredi-lo. Disse ainda que tentou tomar a faca da mão dela e que acabou se machucando. Com isso, ele teria dito à vítima que queria terminar o relacionamento;
  • Após esse momento, ele afirmou que Kezia deixou o apartamento e saiu sangrando. Ele então foi tomar banho;
  • Quando terminou de tomar banho, percebeu que Kezia havia voltado e que entrou no apartamento usando uma senha, já que a porta do imóvel era eletrônica. Disse que a jovem tinha essa senha;
  • Afirmou que durante a volta, Kezia gritava muito e estava bastante alterada. Neste momento, o casal teria discutido novamente e houve xingamentos recíprocos. Com isso, ele narrou que deixou a jovem no quarto e foi para a sala;
  • Instantes depois, o suspeito narrou que Kezia chegou na sala com a arma dele, uma pistola 9mm, já em punho. Disse que a arma é registrada e que estava em um cofre eletrônico, mas que a bateria do equipamento havia acabado e por isso ela teria conseguido ter acesso ao armamento;
  • Disse que a jovem apontou a arma para ele e “ciclou” o equipamento duas vezes, ou seja, teria preparado a munição para disparar. O suspeito disse que, neste momento, pediu para que ela parasse e tentou desarmá-la, foi quando houve o disparo;
  • O suspeito informou à polícia que Kezia caiu ao lado da porta e que ele ficou “completamente desnorteado”. Disse que não sabia informar em que parte do corpo a jovem foi atingida, mas que ela sangrava muito pela boca e que ele teria ficado desesperado;
  • José Luiz narrou que, em seguida, foi até a portaria do prédio pedir socorro, que bateu com muita força no vidro da portaria do prédio, porém, o porteiro não saiu para ajudá-lo;
  • Disse ainda que tentou carregá-la para prestar socorro e que a arrastou pelo corredor até chegar à garagem, por não aguentar o peso dela. Ele colocou a vítima no carro e a levou ao HGE, e afirmou que ela chegou viva ao hospital, o que contradiz as informações da Polícia Militar, de que a jovem já chegou morta;
  • Depois de deixar Kezia no hospital, ele contou que foi para casa da irmã, para buscar apoio, saber do estado de saúde de Kezia e ir até a delegacia. Afirmou que estava sem camisa, apenas de bermuda, e que estava todo ensanguentado e desnorteado;
  • Relatou que, ao saber que os policiais militares estavam no prédio onde a irmã mora, foi ao encontro dos agentes e contou o que havia ocorrido. Disse ainda que deixou a arma no carro, o que também contradiz as informações iniciais que ele deu à PM, de que a arma estava no prédio onde mora;
  • À polícia, José Luiz também disse que Kezia se tornava agressiva quando fazia uso de bebida alcoólica e consumia drogas. Afirmou que houve surtos anteriores por parte da jovem e que ela costumava ser violenta com ele;
  • Disse ainda que sempre que o casal brigava, proibia o acesso de Kezia ao apartamento, e que em uma das brigas a mãe da vítima pediu para que ele terminasse o relacionamento, mas ele não o fez por gostar muito da jovem.

Cunhado do suspeito de feminicídio:

  • O cunhado do suspeito, dono do veículo em que José Luiz levou Kezia para o HGE, confirmou a versão de que havia emprestado o carro porque o dele estava na oficina;
  • Informou que dormia na madrugada do dia 17 de outubro quando, por volta das 4h, o suspeito bateu na porta do apartamento muito agitado;
  • Descreveu que José Luiz estava sem camisa e que gritava muito que havia “acontecido uma desgraça”;
  • O homem disse ainda que José Luiz narrou que havia chegado da festa com a namorada, quando houve a briga entre os dois, que Kezia havia sido atingida pela arma de fogo e que ele a levou para o hospital, sem informar, no entanto, que ela estava morta;
  • Disse que aconselhou ao suspeito que ele se apresentasse em uma delegacia, contudo, que quando chegaram na garagem, já encontraram uma viatura da PM no prédio;
  • Também disse à polícia que não conhecia a vítima, apenas sabia que ela e José Luiz tinham um relacionamento há dois anos.

 

Irmã do suspeito de feminicídio:

  • Disse que estava dormindo, quando ouviu alguém batendo na porta do apartamento de maneira desesperada, e que ao se levantar encontrou o irmão com a roupa completamente ensanguentada e aparentemente desnorteado;
  • Relatou que José Luiz contou sobre a briga com a namorada, que ele teria dito que Kezia o agrediu com uma faca, que ela pegou a arma do suspeito, que tentou tomar a pistola das mãos dela. Neste momento, o irmão narrou para ela que houve o disparo acidental;
  • Ainda segundo a irmã do suspeito, José Luiz disse que socorreu a vítima para o hospital, mas não ficou na unidade por estar completamente desnorteado;
  • Ressaltou à polícia que o carro do irmão estava na oficina, reiterando as informações de José Luiz e do marido dela;
  • Afirmou que estava se preparando para levar o irmão à delegacia, quando a Polícia Militar chegou no prédio;
  • Reafirmou que o irmão era constantemente agredido pela vítima e que, por causa desse histórico, havia proibido Kezia de frequentar a casa dela, e que a jovem também não ia para nenhum evento da família. (G1)