Em sete de janeiro deste ano, uma blitz na BR-101, nas proximidades de Itabuna, sul da Bahia, mudou o rumo da história de perseguição por mais de 20 anos a Weber Sena de Oliveira, o ‘Paulista’. A prisão em flagrante, por transporte ilegal de 135 pássaros, colocou o maior traficante de aves silvestres do país no centro das investigações do Ministério Público da Bahia, realizadas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) e Promotorias de Justiça Regional Ambiental de Ilhéus e Itabuna, com apoio do Ministério Público de Alagoas, por meio do Núcleo de Defesa do Meio Ambiente (Nudem), e do Centro Operacional da Defesa do Meio Ambiente (Ceama) baiano.


Um total de cinco denúncias foram ajuizadas contra a organização criminosa, quatro delas no período de 29 de outubro, quando foi deflagrada a segunda fase da operação, ao último dia 10 de novembro, coincidindo com o início da COP30, em Belém do Pará, que tem entre tantas preocupações a proteção da fauna, sobretudo a situação de animais ameaçados de extinção. Segundo dados do ICMBIO, são reconhecidas atualmente como ameaçadas de extinção 1.254 espécies e subespécies da fauna brasileira.
Entre os denunciados, estão fornecedores, receptadores e transportadores da organização criminosa liderada por ‘Paulista’, cuja rede de atuação abrange principalmente os estados da Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro, com algumas ramificações no Espírito Santo. O grupo, segundo as denúncias, é formado por 14 fornecedores (dez deles com atuação na Bahia), cinco receptadores, três transportadores e uma operadora financeira.
Movimentação milionária


Aves como estevão, canário, chorão, papa-capim, trinca-ferro, azulão, pássaro preto, entre outros, eram capturados, com utilização de armadilhas e redes de 20 metros de comprimento que possibilitavam apreender até 500 passarinhos em um único dia. Há registros de venda de aves por R$ 80 mil.
Os animais eram alojados em cativeiros provisórios de extrema precariedade e sem alimentação suficiente, onde as aves aguardavam por muitos dias a chegada de ‘Paulista’, responsável por colocá-las em veículos de passeio e caminhões para remetê-las, em sua maior parte, ao estado do Rio de Janeiro e à capital baiana. A promotora de Justiça Regional do Meio Ambiente Aline Salvador destaca que dados da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas) indicam que 90% dos bichos capturados não sobrevivem durante o transporte, morrendo por maus-tratos, estresse ou condições precárias.


A rota do tráfico de animais silvestres (do Sudeste da Bahia e nordeste de Minas Gerais em direção ao Rio de Janeiro) foi identificada, por meio de estudo do projeto ‘Libertas’, da Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público de Meio Ambiente (Abrampa), a partir de 31 manchas de calor que indicam a recorrência das apreensões oriundas do tráfico de animais.
Operações articuladas


O oferecimento das denúncias decorre da segunda etapa da ‘Fauna Protegida’, deflagrada no último dia 29 de outubro nos municípios baianos de Monte Santo e Valente, de Almenara e Divisópolis, em Minas Gerais, e, no Rio de Janeiro, de Magé, Guapimirim, Rio das Ostras, Cabo Frio e Casimiro de Abreu. Foram cumpridos dois mandados de prisão preventiva e 17 de busca e apreensão. E realizadas três prisões em flagrante. A segunda etapa ocorreu em conjunto com ações simultâneas dos Ministérios Públicos estaduais, em parceria com polícias ambientais e órgãos de fiscalização, abrangendo onze estados. (veja lista de denunciados e presos abaixo).


Denunciados e presos
BAHIA (14):
Weber Sena Oliveira, “Paulista”, líder da Orcrim, preso preventivamente e denunciado desde setembro
Ivonice Silva e Silva, companheira de Paulista, operadora financeira
Uallace Batista Santos, fornecedor
Messias Bispo dos Santos, fornecedor
Gilmar José dos Santos, fornecedor
Ademar de Jesus Viana, fornecedor
Josevaldo Moreira Almeida, receptador
Donizete Gonçalves Dias, fornecedor
Judcael Ribeiro da Silva, “Cael”, fornecedor
Jocimar Ferreira da Silva, fornecedor
Valda Ribeiro da Silva, fornecedora
Allef de Oliveira Araújo, fornecedor
Carlito Araújo de Oliveira, fornecedor,
Lázaro Roberto Leal, “Lazinho”, receptador
MINAS GERAIS (3)
Alberto Figueiredo Oliviera, fornecedor, preso preventivamente na segunda fase
Íris Santos Batista, fornecedor
Carlos Alberto Rodrigo Pereira, “Tupet”, fornecedor
RIO DE JANEIRO (6)
Valter Nélio Eymael Júnior, “Juninho de Magé”, receptador, já preso em operação anterior, teve mandados de prisão e busca cumpridos contra ele no presídio de Magé na segunda fase
José Luminato Cortes, receptador, alvo de mandado de busca
Demisson Ferreira Passos, “Dedê”, receptador, alvo de mandado de busca
Gerson Freira Braga, “Loquinha”, fornecedor, preso preventivamente na segunda fase
José Roberto Cardoso da Silveira, “Zezé”, transportador, alvo de mandado de prisão preventiva na segunda fase, não foi localizado e se encontra foragido
Fábio Alexandre Amarante Bertacini, “Fabinho”, transportador
ESPÍRITO SANTO (1)
Vagner Sassemburg, transportador





