Por Walmir Rosário

Gostaria que meu velho amigo Dudu Rocha, herdeiro de uma família forjada nas hostes da Estrela Solitária, ainda estivesse entre nós. Estaríamos dando boas gargalhadas dos torcedores de outros times de expressão nacional, especialmente dos flamenguistas, que nunca quiseram enxergar a superioridade do Botafogo e seus torcedores, quando o tema é torcer pelo Glorioso.

Mas, infelizmente, como dizem os mais experientes, nós não nos governamos quando o assunto é nossa existência física aqui na terra, Dudu Rocha se foi há pouco mais de um mês. Mesmo assim acompanhou parte da atual trajetória meteórica do Botafogo, como sempre estávamos acostumados a vê-lo em outras ocasiões, para o desespero dos torcedores de outros times, como sempre.

Até aqui nenhuma novidade, não fosse a insistência desses torcedores, certamente incentivados pelos flamenguistas, que resolveram incorporar a “Mãe Dinah”, ao enxergar um futuro incerto e não sabido. Caolhos, ou acometidos por cataratas e outras enfermidades que não permitem enxergar um palmo à frente do nariz, as nebulosas previsões caíram por terra uma a uma.

Dudu Rocha – bem como milhares de botafoguenses – deram boas gargalhadas com as fotos postadas nas redes sociais, em que animais – cavalos, elefantes e outros bichos – pousavam em cima de árvores, marquises e outros locais que não permitem suas descidas por próprios meios. Sim, eles comparavam a posição do Botafogo na tabela do Campeonato Brasileiro da série A, com a posição esdrúxula dos animais.

Na visão caolha ou nebulosa – quem sabe, jocosa –, o Botafogo apenas passava uns dias no andar de cima da tabela, sem méritos, quem sabe ocupando lugares dos seus times, que se mostraram e ainda se mostram ineficientes quando o tema é vencer partidas. A cada uma vitória do Glorioso, diziam e dizem ser questão de tempo, pois seus times voltariam a ocupar o andar de cima. Até de vascaínos ouvi essa heresia.

Em vez de me zangar com o besteirol, passei a dar o tratamento merecido: chamar os torcedores adversários para o debate, análise dos jogos. Não fui feliz neste intento. Para não perder os amigos, me engajei nas piadas, em muitas delas dando a resposta em tom de galhofa, como merecia. Também não obtive sucesso. E a cada dia de jogo os números do Botafogo se apresentavam mais robustos.

E, paulatinamente, fomos ganhando as partidas contra esses tais times. Na surra que aplicamos no Flamengo, apesar de contrariar a arbitragem, esperei o dia seguinte para dar o bom dia nas redes sociais. Insucesso total! Nenhum flamenguista deu o ar da graça, o que me preocupou significativamente. O que teria acontecido com eles? Alguma indisposição durante os comes e bebes no horário do futebol? Continuei sem resposta.

Foi daí que percebi que o buraco era mais em baixo. Se antes dizíamos “segue o líder”, o slogan passou a ser “segue o vice, já que o líder disparou”. Ainda não consegui entender o motivo do prolongado sumiço das postagens contrárias ao Botafogo nas redes sociais. Até mesmo os cronistas desportivos foram desmentidos um a um, pelos craques botafoguenses, sem dirigi-los uma só palavra, apenas marcando gols.

E aí foi que a porca torceu o rabo, com a iminente adesão e credibilidade dos nossos cronistas sobre a futebol jogado pelo Botafogo. O goleiro era um paredão, a zaga impenetrável, o meio campo inteligente e o ataque matador. Todos com lugares reservados na próxima convocação da Seleção Brasileira. Não for burrice do técnico interino, todos envergariam arenas afora a camisa amarelinha.

Sempre é bom reconhecer o erro e nisso nossos cronistas agiram bem, com raríssimas exceções. Se na mídia houve essa mudança, o mesmo não aconteceu junto aos torcedores, que passaram a evitar os botafoguenses. Por mais que eu tente, não encontro espaço para bater uma bolinha sobre os jogos do Campeonato Brasileiro, Série A, mesmo que reconheçam meus méritos para tal peleja.

Me sinto injustiçado, discriminado, e sequer posso reclamar legalmente, pois não há diploma legal que me ampare nos tribunais. Um pouco antes, nem bem chegava num boteco, e até mesmo em supermercados e outros locais públicos, era prontamente aclamado e com assento privilegiado à mesa para falar sobre o futebol. Eu e outros botafoguenses éramos chamados da “turma da kombi”. Hoje, nem desculpas pedem pelas constantes quebras de recordes no estádio Nílton Santos.

Eu entendo perfeitamente a contrariedade dos flamenguistas, afinal foram muitos anos de sofrimento com as acachapantes derrotas para o Botafogo, muitas deles homéricas e porque não dizer vergonhosas. Mas a vida passa, novos campeonatos virão e a alegria é um direito de qualquer torcedor. As decepções – como a do craque Zico – são passageiras e esperamos que não sejam motivadoras de futuras depressões, mesmo que esportivas.

Como manifestei, sigam o vice, pois o líder disparou.

I’m sorry!

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado