Por Daniel Thame

Após 46 anos percorrendo os bares de Itabuna com sua inseparável bicicleta, vendendo amendoim e ovo de codorna, Dorival Higino da Silva, também conhecido como Dedé do Amendoim ou, por motivos óbvios, Tesão, pendurou as chuteiras e os pedais em 2016.

Com oito filhos criados graças à sua labuta incansável, ele decidiu que era hora de parar, curtir a família e torcer/sofrer com o Vasco da Gama, seu time de coração.

Como Pelé, deixou sucessores na labuta para ganhar honestamente o suado pão de cada dia, mas não substitutos, porque Dedé é dessas figuras que merecem o adjetivo “insubstituível”.

Dedé do Amendoim é, ao lado do Caboco Alencar, que teve que fechar o ABC da Noite por conta da pandemia mas ensaia uma reabertura gradual e segura, um dos personagens mais fascinantes da boemia itabunense, com histórias que dariam um livro.

Uma delas, ocorrida em meados dos anos 90, dá bem a dimensão do estilo Dedé. Vendia ele seus amendoins e seus ovos de codorna no Katiquero, vestindo com orgulho uma camisa do PT, quando um desses babacas que infelizmente poluem os bares perpetrou:

– Tira a essa camisa horrível que eu compro tudo…

Ao que Dedé respondeu na lata:

– Pois pra gente como você eu prefiro não vender nada…

E seguiu em frente, com sua bicicleta e sua dignidade.

Em tempo 1: Dedé recolheu-se em sua residência no bairro de Fátima, vitimado por grave enfermidade.  Com as complicações clínicas agravadas, Dedé do Amendoim, faleceu na madrugada deste sábado.

Dedé foi vender seus ovos de codorna e seus amendois lá no céu (fico aqui imaginando uma orgia angelical dados os efeitos propagados do amendoim).

Tomara que tenha deixado seu exemplo de dignidade aqui na Terra mesmo. Estamos precisando muito.

Em tempo  2: O Katiquero reabriu com outro nome e outro proprietário . Ou seja, não reabriu…

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Publicado originalmente no blog do Autor, na coluna “Memórias de um Dinossauro”