Por Walmir Rosário

No século passado estudar era uma dificuldade para as famílias menos favorecidas financeiramente lá pelos idos de 1930 até 1970, e poucos se aventuravam a concluir o curso ginasial e médio. O maior tabu era se diplomar nos cursos superiores. E os entraves era tirar um trabalhador da ativa, além conseguir uma boa escola e conseguir pagá-la, já que em sua maioria eram particulares.

No bairro da Conceição em Itabuna, onde cresci, a história nos mostra os caminhos tortuosos da educação, a começar que o ensino público não era, exatamente, uma prioridade de prefeitura e estado. Embora esses entes colaborassem, uma boa parte da educação ficava aos cuidados dos particulares e instituições religiosas, cujas mensalidades desencorajavam os pais de família com grande prole.Nas décadas de 1920/30, no bairro da Conceição, o ensino teve início na rua da Palmeira (hoje avenida Félix Mendonça), a céu aberto, tendo como líder a professora Otaciana Pinto, também parteira. E funcionava nos passeios das casas, com mesa, cadeira da professora e quadro-negro, colocadas nas calçadas, enquanto os alunos traziam tamboretes, bancos ou se sentavam nos passeios.

O grande problema eram as constantes chuvas, quando os alunos corriam com os apetrechos e entravam nas casas. De acordo com o Memorial “Bairro da Conceição e os Primórdios”, de autoria das professoras Edith e Jiunice e o engenheiro agrônomo Sandoval Oliveira de Santana, foi uma luta política instalar a primeira escola pública estadual no bairro, o que somente aconteceu em 1941.

Com três filhos pequenos e sem escola pública, um dos moradores mais antigos do bairro, Antônio Joaquim de Santana (Marinheiro) sentiu a necessidade de uma escola que possibilitasse a educação não somente de seus filhos, como a dos de seus amigos e demais moradores. Junto com o outro morador, Mecenas Oliveira, locaram uma casa para o funcionamento da Escola General Osório.

Em comum acordo com sua esposa, seu Marinheiro colocou à disposição de algumas professoras uma casa de sua propriedade, vizinha à sua residência, para que ali funcionasse a escola. Diante da precariedade das instalações, a escola expandiu-se e passou a funcionar em diversas casas nas ruas do Prado, Bela Vista, Liberdade e Santa Catarina em quais estudei nas décadas de 1950/60.

Em virtude da qualidade e dedicação das professoras, a Escola General Osório era uma das mais conceituadas de Itabuna, e passou a ser procurada por alunos do centro da cidade. Das professoras pioneiras destacam-se Cármen Santana, Cármen Vilas Boas, Primitiva Izaura Ferreira Oliveira e Bernadete do Amaral, Leonor Santos Pacheco, Juliana Lachert Caetano (depois diretora), Dalva Menezes, Elza Almeida Cordier, Terezinha Cordier, Vanda Sousa e Neidir Fortunato Borges.

Mesmo antes do Governo do Estado assumir a direção da escola (5 de julho de 1941), além do ensino formal, eram comemoradas festivamente com desfiles todas as datas simbólicas. Dia da Abolição da Escravatura, enaltecendo a Lei Áurea; Dia da Cidade; 7 de setembro, Independência do Brasil; Dia da Primavera; Proclamação da República; Dia da Bandeira, dentre outros.

Um dos autores do Memorial, Sandoval Oliveira de Santana, conta que a implantação da Escola General Osório coincidiu com o seu nascimento (5 de julho de 1941). A General Osório funcionou por 27 anos no imóvel emprestado por seu Marinheiro, dando estrutura educativa primária a gerações. A família recebeu o imóvel em ruínas, porém não se importou, pois o objetivo – a educação – foi alcançado.

Escola General Osório

Outra contribuição da família foi o exercício do magistério pelas irmãs Edith e Eurides por anos na escola, que junto com as novas professoras – Lélia Apê Portela, Maria Monstans, dentre outras deram continuidade ao ensino. Esses professores foram responsáveis pela formação educacional e de caráter de milhares de jovens que ali estudaram e hoje ocupam lugar na sociedade em que vivem.

A Escola General Osório promoveu por muitos anos o estudo primário das crianças do bairro da Conceição e do centro da cidade, se notabilizando pela qualidade da educação transferida aos alunos. E a cada ano o conceito dos alunos aumentava, pois ao prestarem a Admissão ao Ginásio, que era uma espécie de vestibular para ingressar no Ginásio, eles obtinham índices elevados de aprovação.

Até hoje a Escola Estadual General Osório continua na ativa, apenas mudou de endereço e está localizada em outro prédio confortável construído no final da década de 1960, na rua Aurora, bairro da Conceição, atendendo a cerca de 470 alunos. A escola existe, sim, mas com outro nome, Colégio Estadual Adonias Filho (que já é nome do Centro de Cultura), no “fabuloso” projeto petista de desmilitarização da história brasileira.

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Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado

P.S.: Quem é quem nas fotos:

Conclusão da turma de 1955: Escola General Osório – concluintes do primário de 1955 – 1ª fila: Neide Pureza Prado; Doracy Correia; Maria Izabel; Maria Bernadeth; Aides Alves Souza; Maryleda Jovita; Marylea Jovita; Maria Emília Almeida; Eunice Nunes Mota (+); Vera Lucia Midlej; Marina e Amândio Rebouças.

2ª fila: Maria Donata Reis (+); Maria Angélica (+); Antônio Carlos Reis (+); Guy Marinho; Profª. Leonor Santos Pacheco (+): Antônio Carlos Carvalho (+); José Vidal Silva; Sandoval Oliveira de Santana; Alcides Prates (+); Doralice Correia; Aroldo Espirito Santo (+); Etiene Marli; Maria Augusta (+).

3ª fila: Bartolomeu Cruz; Jorge Edmundo Portela; Oduvaldo Marinho; Alicio Nunes Mota; Braulino Santos (+); Adaílton Wasty Simões e Fernando. (+) in memorian. (Acervo Sandoval, 1955)

Conclusão da turma de 1957: Escola General Osório – Concluintes de 1957, nela encontram-se Maria Leopoldina, filha de Seu Marinheiro, Ruinalva Gallo, filha de João Gallo, Iara Lúcia Costa, filha de Seu Didi, e a Prof.ª Neidir Borges, dentre outros. (Acervo Família Santana)