Secretaria aponta para possibilidade de supressão racional, quando necessário, de plantas exóticas e destaca estratégias para o mercado de carbono

Um novo momento no desenvolvimento do cacau no Sistema Cabruca. Foi assim anunciada a mais recente investida da Seagri no setor, no sentido de impulsionar o desenvolvimento do manejo do sistema Cabruca, visando o planejamento do uso dos recursos naturais, tendo em vista a manutenção e aumento da produtividade do cacaueiro, bem como a conservação e uso sustentável do agroecossistema, destacando a produtividade somada ao aumento de captura de dióxido de carbono (CO2) no ambiente, em ação de combate ao efeito estufa, em consonância com a Política de Agricultura de Baixo Carbono ABC+.

A apresentação se deu no encontro da Câmara Setorial do Cacau do Estado da Bahia, realizado hoje (25 de março) e reunindo representantes dos variados setores da cadeia produtiva, sob a presidência de Valnei Pestana. Na ocasião, foi apresentado e discutido parecer do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) esclarecendo a possibilidade de supressão/manejo de espécies exclusivamente exóticas nas áreas de Cabruca, diminuindo e otimizando o sombreamento às plantas de cacau e aumentando a produtividade. Também foram anunciados os primeiros, e animadores, resultados de pesquisa que está sendo desenvolvida para se conhecer o potencial de sequestro de carbono no cultivo do cacau em Sistema Cabruca.

O Sistema Agroflorestal Cabruca é constituído pelo plantio do cacau à sombra das grandes árvores da mata, o que conservou espécies arbóreas nativas importantes ao equilíbrio natural do bioma Mata Atlântica. Mas há agricultores que reclamam dos patamares de produtividade nesse cultivo, por muitos considerados inferiores aos aferidos no plantio a pleno sol, que induz ao desmatamento. O projeto que vem sendo desenvolvido pela Seagri desautoriza esse raciocínio, mostrando que, com bom manejo, a produtividade na Cabruca pode ser muito boa. E aos ganhos com o cacau, na Cabruca, ainda podem ser associados a rendimentos com a captura de carbono, explorando esse novo mercado que cresce pelo mundo.

“O parecer do Inema abre caminho para desenvolvermos técnicas de manejo que tragam ainda maior produtividade ao cacau no Sistema Cabruca. A possibilidade de retirada de espécies exóticas da área de plantio irá viabilizar a adequação do sombreamento e isso, associado a outras práticas, aumenta a produtividade da planta. E queremos somar isso ao sequestro de carbono da atmosfera, propiciado pelo sistema agroflorestal, pela presença de grandes árvores da Mata Atlântica, em um planejamento que valoriza e conserva todo esse ecossistema”, esclareceu o secretário da Agricultura da Bahia, João Carlos Oliveira.

O secretário também fez questão de destacar que o manejo das espécies consideradas exóticas – ou seja, que não são nativas da Mata Atlântica, como erythrinas, jaqueiras e cajazeiras, dentre outras – não significa que “pode-se cortar as exóticas de qualquer forma, na quantidade que se quiser”. Mas, sim, passa a ser possível pesquisar e construir um manejo que busque o aumento da produtividade do cacau na Cabruca, sendo para isso aceitável a supressão de plantas exóticas da área em manejo, sendo dispensada a necessidade de autorização.

Soma-se a essa informação o fato de ainda existir a possibilidade do aproveitamento do material lenhoso, no caso de árvores isoladas, mortas ou caídas, ou aquelas em caso de grave risco e iminente perigo à segurança de pessoas e bens, para uso comercial ou industrial dentro ou fora da propriedade, a partir do que está estabelecido nos procedimentos previstos nas Portarias do INEMA n˚ 19.089 e 19.090 de 2019.

É nesse sentido, apontando para um manejo que balanceie produtividade do cacau com conservação da mata para a melhor captura possível de carbono da atmosfera, que caminham as pesquisas que vêm sendo desenvolvidas pelo Instituto Arapyaú, que apresentou resultados preliminares do estudo no encontro de hoje, destacando que o sistema Cabruca é capaz de estocar em média 66 toneladas de carbono por hectare.

“Estamos seguindo no sentido de verificar manejos que resultem em boa produtividade do cacau no Sistema Cabruca, com grande sequestro de carbono no ambiente. E nas pesquisas iniciais já localizamos exemplos de que isso é possível. Encontramos áreas que inclusive percebemos, na prática, isso: boa produtividade e bom sequestro de carbono. Essa é a conta ideal. Estamos nesse caminho”, disse Grazielle Cardoso, do Arapyaú.

São várias ações em curso, de instituições de ensino, pesquisa e extensão, localizadas na região Sul da Bahia, em prol do desenvolvimento do setor do cacau. Destacam-se as contribuições da Ceplac, com estratégia e tecnologia para a melhoria do manejo do Sistema Cabruca, apresentando alternativas para o aumento da produtividade do cacaueiro, na perspectiva da Conservação Produtiva.

O mercado do carbono – Ao lado das pesquisas de manejo, pela outra ponta do projeto, a Seagri irá seguir no acompanhamento e incentivo da regularização do mercado de resgate de carbono, um negócio que ainda está em processo de maturação pelo mundo, mas que apresenta amplas perspectivas. Consiste em empresas poluente – e que, por conseguinte, liberam muito gás carbônico na atmosfera – investirem em projetos ambientais nos quais se plante ou conserve árvores, que capturam esse dióxido de carbono da atmosfera, devolvendo oxigênio.

O dióxido de carbono é o grande vilão do efeito estufa, responsável por cerca de 60% do fenômeno. É proveniente da queima de combustíveis fósseis (carvão mineral, petróleo, gás natural…) e daí a ligação direta com a produção de grandes empresas, principalmente do ramo dos combustíveis, como as petroleiras. Gigante do setor, a Exxon Mobil, empresa de petróleo e gás dos Estados Unidos, calculou recentemente que existirá um mercado mundial de sequestro de carbono de US$ 2 trilhões em 2040.

“Vamos seguir na construção para a regularização do mercado de venda de créditos de carbono no Brasil. Ao mesmo tempo, seguimos no desenvolvimento de tecnologia para o aumento da produtividade do cacau no Sistema Cabruca. A expectativa é de que, logo na frente, essas duas possibilidades se encontrem, trazendo maiores ganhos aos produtores e agigantando ainda mais toda essa cadeia produtiva na Bahia. E com uma grande vantagem: conservando esses nossos patrimônios que são a Cabruca e a Mata Atlântica”, complementou o assessor especial da Seagri, Thiago Guedes, que também é secretário executivo da Câmara Setorial do Cacau da Bahia.

O Secretário João Carlos destaca ainda que está prevista uma próxima reunião com as instituições-membro da Câmara Setorial do Cacau da Bahia, envolvendo técnicos dos territórios de abrangência da cacauicultura, com o objetivo de aprimorar a metodologia para a efetivação da supressão/manejo técnico das espécies exóticas nas áreas de Cabruca, juntamente com as instituições financeiras para discutir o financiamento deste manejo.

Integram a Câmara Setorial do Cacau do Estado da Bahia representantes das seguintes instituições: Seagri, SDR, Secti, Adab, Bahiater, Ceplac, AIPC, WCF, CIC, Sebrae, Faeb, Desenbahia, Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Amurc, Aproc, Aiba, Arapyaú, além da Presidência da Câmara Nacional do Cacau, setores da agricultura familiar e associações de produtoras de chocolate.