As Faculdades Santo Agostinho (FASA) de Itabuna iniciou há cerca de dois meses uma procura singular e inédita entre instituições educacionais no Estado da Bahia: uma pessoa trans para ocupar uma vaga de Auxiliar Administrativo. A ideia, segundo aponta o diretor do campus, professor Luciano de Oliveira Souza Tourinho, já vinha sendo amadurecida desde que o Grupo Afya assumiu a gestão da rede.

Atualmente contando com um quadro de quase 380 estudantes e 80 profissionais entre equipe gestora, professores, administrativo e pessoal de apoio, a faculdade vem se destacando por alinhar com a sociedade uma maneira propositiva de ajudar em seu desenvolvimento, seja com ações diretas ou de maneira cooperada com outros agentes públicos e privados, especialmente no que se refere às políticas de Saúde, uma vez que o quadro discente da instituição é todo ele do curso de Medicina. “Entre intervenções diretas como reformas de escolas, ajudas com aquisição de mobiliário e reformas de postos de saúde, propõe-se novos olhares para todos os sujeitos que compõem as esferas sociais”, disse Tourinho.

Sobre a decisão de contratar uma pessoa trans, o diretor disse que a FASA visa justamente provocar um novo olhar sobre essa população específica, uma das mais vulneráveis não só em Itabuna, mas em toda e qualquer conjuntura social. “Nossa instituição tem lançado mão de políticas públicas de Saúde para populações vulneráveis, como a de negros, mulheres, população LGBTQIA+ e, agora, mais especificamente a de transexuais. Essa população é estigmatizada socialmente, seja pela falta de inserção no mercado formal de trabalho, seja pela falta de oportunidades”, explicou o diretor.

De fato, a estigmatização sobre a qual o diretor fala é corroborada em números e estudos apresentados por José Antônio Loyola Fogueira, pedagogo, especialista em Saúde Coletiva, coordenador municipal LGBTI de Itabuna. Loyola Fogueira aponta que, em Itabuna, há uma população de transexuais que pode chegar a até 200 pessoas, segundo mapeamento realizado pelo Grupo Humanus. “É uma oportunidade ímpar para uma população específica que, em sua grande maioria, tem imensa dificuldade em acessar ao mercado de trabalho”, apontou o ativista.

Essa contratação, contudo, não é a primeira nas Faculdades Santo Agostinho. Em Itabuna, a professora trans Isabella Santos Silva, mestra em Relações Étnicas e Raciais, passou a integrar o quadro docente da instituição e assumiu a coordenação do Núcleo de Artes, Diversidade e Cultura. Trata-se da primeira professora trans da rede, aponta Tourinho. “As competências e habilidades dessas pessoas precisam ser aproveitadas para que aconteçam verdadeiras transformações sociais, numa perspectiva de saúde coletiva, garantida na convivência no cotidiano”, definiu a mestra ao falar da importância desse processo seletivo.

Sobre a vaga

O diretor Luciano Tourinho disse que, desde que o processo seletivo foi oficialmente aberto há alguns dias, as devolutivas de apelo em cima do preenchimento da vaga têm apresentado números consideráveis: em uma hora, foram recebidos 20 currículos. Em menos de 24 horas, já eram 50. Além de Plano de Carreira homologado com cursos de qualificação e aperfeiçoamento profissional, com incentivos para que o novo funcionário ou nova funcionária adentre o Ensino Superior, a empresa oferece ainda Vale Transporte, Vale Alimentação e Plano de Saúde Coparticipativo.

O diretor dá dicas sobre o perfil de profissional que espera contratar: “alguém com bastante desenvoltura, que tenha como premissa boas relações interpessoais, boa comunicação, boa escrita”, finalizou.

O prazo para o envio de currículos, inicialmente previsto para ser encerrado no último dia 7 de julho, foi prorrogado e interessados em participar do processo podem enviá-los para o e-mail [email protected], até às 17h do dia 12 de julho de 2021. O diretor disse ainda que os currículos que não forem selecionados permanecerão no Banco de Dados da instituição, que pretende ainda tornar acessível para que outras empresas possam analisá-los e aproveitá-los.