Não durou cinco dias a palavra do prefeito Fernando Gomes, empenhada junto ao governador Rui Costa, com quem acertou a transformação do Hospital de Base em Referência para Covid-19. Na tarde de hoje (30), o prefeito assinou um ofício, em conjunto com o secretário municipal da Saúde, Uildson Nascimento, retornando o Hospital de Base Luís Eduardo Magalhães à condição anterior, ou seja, portas abertas para atendimentos emergenciais, clínico-cirúrgicos e traumáticos. Todos misturados com os casos de Covid-19 (clique na imagem para ver o decreto).

A atitude do prefeito está sendo avaliada como irresponsável por profissionais de saúde – que não querem se identificar -, uma vez que misturar pacientes comuns com os contaminados pelo novo coronavírus, altamente contagioso, é abrir uma grande porta para as infecções cruzadas.

“São pacientes que já estão, em muitos casos, muito rebaixados, ou seja, com imunidade comprometida, e que, expostos a essa possibilidade de contágio, certamente não resistirão e teremos muitos óbitos pela Covid-19. São óbitos que talvez não tivéssemos, se estivessem separados”, afirma um desses profissionais.

Políticos também se posicionaram em relação a essa tragédia anunciada. O ex-prefeito Geraldo Simões divulgou em suas redes sociais um texto em que classifica a ação como “muito ruim”, e alerta para o perigo de manter em um mesmo ambiente hospitalar, pacientes de que que nada tem a ver com a Covid-19, mas que podem vir a ser contagiados pelo coronavírus.

“Foi muito ruim a decisão do prefeito de Itabuna de recuar da proposta de transformar o Hospital de Base em referência para tratamento da Covid-19. Com o recuo, vai colocar em risco de contaminação cruzada pacientes que estão no hospital por outras doenças. É importante ressaltar que os pacientes que antes eram atendidos no Hospital de Base passariam a ser atendidos pelo Hospital Regional Costa do Cacau, enquanto durasse a emergência da Covid-19 no Estado. Não haveria desassistência e a população estaria livre de um risco desnecessário”, disse Geraldo em sua página no Facebook.

A verdade é que as medidas de proteção que estavam sendo adotadas pela prefeitura eram até elogiáveis, embora insuficientes para o enfrentamento da crise. Por exemplo, a proposta de tornar o HBLEM referência para Covid-19 deveria vir acompanhada da abertura do Hospital São Lucas, com o Município assumindo a gestão daquela unidade, segundo especialistas.

Para esses profissionais, o São Lucas seria retaguarda do Base, complementando os serviços, uma vez que os leitos previstos até aquele momento não seriam suficientes para atender uma demanda de quase um milhão de habitantes de nossa microrregião.

Em outra frente, seria necessário preparar as unidades de saúde de referência para o atendimento exclusivo do coronavirus, funcionando até às 22 horas. Seria o caso também de preparar um espaço de isolamento para profissionais de saúde que estão na linha de frente, no combate à Covid-19. Além disso, providenciar um centro de acolhimento para aquelas pessoas que não tenham condições de manter um isolamento eficaz em suas casas, além do fortalecimento da rede de proteção às pessoas em situação de rua.

Mas, com o recuo do prefeito, fica em xeque sua capacidade de planejamento e de antecipação às demandas, como tem sido visto na Bahia, sob a condução do governador Rui Costa, e do secretário Fábio Vilas-Boas.