Atividades do grupo foram retomadas após mobilização feita pelo Programa de Valorização da Cultura local do Porto Sul, na área do entorno do empreendimento

Os programas socioambientais da BAMIN estão continuamente em diálogo com o que há de mais vivo nas comunidades da região de Ilhéus (BA), que ficam na área do Porto Sul e seu entorno: as suas mais genuínas expressões culturais. As referências culturais daquela região, sejam elas materiais ou imateriais, foram mapeadas pelo Programa de Valorização da Cultura (PVC), um dos 34 programas socioambientais que a BAMIN desenvolve durante a implantação do projeto Porto Sul.

Caroline Azevedo, Gerente Geral de Meio Ambiente e Relacionamento com Comunidades do Porto Sul, conta que um dos objetivos do programa é valorizar e salvaguardar a cultura imaterial dessas comunidades. “Nessa direção, o ‘Bumba Meu Boi do Seu Oreco’ foi uma das manifestações culturais mais significativas identificadas durante o levantamento das referências e que estava adormecida por falta de apoio logístico e financeiro”. Depois da morte do seu criador, Seu Oreco, em 2019, as atividades do grupo foram suspensas, e a chegada da pandemia reforçou o afastamento do grupo. “A pandemia impactou de forma significativa a cultura popular”, completa.

Camile Maltez, supervisora do PVC, explica que o programa vem trabalhando nas comunidades, e entra com o suporte para que essas expressões culturais sejam reativadas. “Há um semestre, iniciamos um trabalho com o ‘Bumba Meu Boi do Seu Oreco’, através do seu neto, Jorginho, e amparamos as compras necessárias, montagem de figurinos, construção da armadura do boi. Tudo isso sempre mantendo o cuidado para preservar todas as características originais da tradição”.

Jorge Nascimento é o responsável por manter o legado do Bumba Meu Boi do seu avô, Orelino Alves Galdino, mais conhecido como Seu Oreco. Na atual formação, que conta com 16 participantes, Jorginho ocupa as funções de maestro e vaqueiro. “O Boi é uma tradição passada de pai para filho, e tenho a honra de, hoje, ser quem está à frente deste trabalho familiar”.

Ele conta que a equipe do PVC é a grande responsável pelo reengajamento das atividades. “Me sinto lisonjeado por fazermos parte deste programa de revitalização. Às vezes o desejo é grande, mas as dificuldades são maiores. Quando recebemos a notícia que o PVC daria este apoio, ficamos muito felizes. O boi está vivo, sempre falo dessa forma”, brinca Jorge.

Camile Maltez reforça que o trabalho do PVC é estimular o grupo para que se veja como uma expressão cultural forte em Ilhéus, de modo geral. “O ‘Bumba Meu Boi do Seu Oreco’ está pronto e se apresentando. Assim, temos o compromisso de trazer de volta outros grupos ao cenário da cultura popular da nossa região”, afirma.

RECEPÇÃO

Seu Oreco chegou à comunidade de Urucutuca, no município de Ilhéus, na década de 1940, e trouxe com ele a brincadeira do boi, e os personagens envolvidos nela, como a Jaraguaia. Ele levava essa manifestação cultural para todas as comunidades ligadas ao Rio Almada e era de grande importância para a cultura popular de Ilhéus e toda a região.

Jorge Nascimento destaca a importância das participações do ‘Bumba Meu Boi do Seu Oreco’ nas ações do Mutirão Reviver, ação desenvolvida pela BAMIN, que tem como principal objetivo acolher as comunidades do entorno do Porto Sul, afetadas pelas enchentes causadas pelas fortes chuvas que alcançaram o Sul da Bahia, em dezembro de 2021.

“A recepção nas comunidades é extraordinária. Me sinto privilegiado. É lindo ver as pessoas agradecendo, dizendo que lembram e acompanhavam meu avô, e agora ficam contentes de nos ver de volta. Essas coisas nos enriquecem”, declara.

O ‘Bumba Meu Boi do Seu Oreco’, que já apareceu até na novela “Renascer” (1993), da Rede Globo, será tema de documentário sobre a trajetória do criador e histórico do grupo, também abordando a expressão do Bumba Meu Boi, de modo geral. Os integrantes do grupo e moradores de Urucutuca participaram do processo de elaboração do roteiro, engajando todos nesta criação coletiva.