O filósofo, poeta, escritor, professor e ativista político Antônio Bispo dos Santos morreu ontem (3), aos 63 anos. Reconhecido como um dos principais pensadores sobre comunidades quilombolas do Brasil, Nêgo Bispo escreveu artigos, livros, deu aulas e palestras sobre a história de resistência do povo negro e criou o conceito de contracolonialismo. Ele defendeu que a preservação da cultura e da ancestralidade, além da organização social constituem uma resistência coletiva não somente dos quilombolas, mas dos povos colonizados diante das tentativas de imposição dos colonizadores. Um tipo de “antídoto” para a colonização.

Uma pessoa que dedicou sua vida à luta do povo negro, Nêgo Bispo contestou a hegemonia do conhecimento acadêmico tradicional e reivindicava a oralidade como essencial para as práticas contracoloniais. Como importante manifestação de defesa de territórios tradicionais, símbolos e modos de vida. Nêgo Bispo dizia que a oralidade é a matriz, a “base pulsante”. “Então para falar de tudo isso precisa de quem? Dos povos indígenas e dos povos quilombolas. (…) Então o nosso povo entra pelas cotas e nós entramos pelos encontros de saberes e pelas outras maneiras e hoje nós estamos botando conteúdo. Ou seja, como era o debate nas universidades até recentemente? Você primeiro escrevia, para depois falar e, depois, você falava para escrever de novo. O que que mudou? Hoje, primeiro se fala para depois escrever e, depois, se escreve para falar de novo”, disse o autor em uma entrevista.

Antônio Bispo dos Santos nasceu no Vale do Rio Berlengas, Piauí, em 1959. Membro do quilombo Saco Curtume, situado no município de São João do Piauí. Ele conquistou o feito notável de ser o primeiro de sua família a alcançar a alfabetização. Nego Bispo escreveu os livros “Quilombos, modos e significados” (2007) e “Colonização, Quilombos: modos e significados” (2015). Nas obras, o autor apresenta uma epistemologia afro-quilombola e anticolonial e analisa as desigualdades do país a partir das experiências e concepções das comunidades quilombolas e dos movimentos sociais que lutam pela terra. Na militância política, Nego Bispo atuou como liderança na Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Piauí (Cecoq-PI) e da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq).

Nêgo Bispo deu uma valiosa contribuição para a compreensão e preservação da cultura e identidade quilombola, apresentando ideias que desafiam conceitos tradicionais. Suas reflexões e ensinamentos sobre a importância do conhecimento ancestral, que veio conosco e antes de nós, pela fala, símbolos, alimentos, plantas, músicas, rituais devem ser perpetuados. Nêgo Bispo jogou luz sobre a identidade não apenas das comunidades quilombolas, mas sobre todas as pessoas “afro-pindorâmicas”. (Com informações do Brasil247)