Por Walmir Rosário

Já faz um bom tempo que venho matutando sobre a minha participação nas ditas redes sociais. Esse é um incômodo que vem me atormentando terrivelmente e, às vezes, me sinto devassado, a ponto de não saber mais se sou eu quem me domino ou os chamados amigos e seguidores. Volta e meia acredito que as pessoas sabem mais ao meu respeito do que eu mesmo.

De um certo tempo pra cá passei a ser mais seletivo ao atender ao telefone celular. Não sei como, todo o mundo sabe de cor e salteado o número do meu aparelho e tentam falar comigo. Não sou uma pessoa mal-educada, isso é fato, mas não tenho condições de atendê-los a qualquer hora do dia ou da noite. E o que é pior, atendo amigos que nem sei quem são e como os tornei do meu ciclo de amizades digitais.

Constrange-me viver a dizer não a essa legião de amigos, que entram em contato comigo com a finalidade de me servir. E bem, diga-se de passagem. Oferecem-me de tudo, desde dinheiro emprestado, cartões de crédito com recursos consideráveis liberados para que eu compre até o que não preciso. Sinto-me lisonjeado com a bondade de amigos que nem conheço e a confiança que em mim depositam.

Não raro me oferecem condições especiais para conhecer o mundo inteiro em moderno e maravilhosos transatlânticos, em viagens temáticas onde me sentiria um rei. Por vezes fico balançado em singrar os mares gozando do luxo disponível, mas nem sempre me sinto corajoso a ponto de me tornar um Pedro Álvares Cabral, um Américo Vespúcio a descobrir terras desconhecidas. Minhas combalidas finanças não aguentam essas aventuras.

Bobagem, me dizem ao telefone. Você terá um prazo de parto de égua para pagar e em módicas prestações. Recebo uma aula das vantagens e do custo-benefício, das mordomias em terra e além-mar, do luxo das cabines, das quase 10 refeições diárias, da festa de gala com o comandante. E sem mais nem menos arrematam, basta apresentar seu cartão de crédito internacional que terá uma banda do mundo à disposição. Mas é aí que a porca torce o rabo.

Há algum tempo descobriram que sou uma pessoa religiosa e a partir de então minha caixa dos Correios vive abarrotada. Recebo, regulamente, envelopes com terços, escapulários, fotos de santos, todas devidamente acompanhadas de um boleto com código de barras, onde descubro o preço dos mimos santificados a mim ofertados, desde que repasse uma contrapartida financeira.

O que mais me chama a atenção é que esses generosos amigos sabem tudo a meu respeito, como o número do telefone (é claro, não a operadora), o endereço, o tal do CPF, carteira de identidade e até o banco por onde recebo minha parca aposentadoria. Pelo que me lembro, nunca repassei esse tipo de informação, nem mesmo numa boa farra. Mas para nos ajudar os verdadeiros amigos fazem de tudo.

Num passado bem recente cheguei a receber – via e-mail – uma tentadora proposta de um corretor para adquirir uma linda e promissora fazenda no Mato Grosso, na qual poderia desfrutar de todos os prazeres da terra na casa mansão cercada de piscina, bares e churrasqueiras e áreas de esportes, enquanto administrava a propriedade. Aptidões não faltava para plantar soja, algodão e criar milhares de bovinos. Esse, sim, realmente é um amigo que quer o meu bem.

De vez em quando me pego pensando não ser uma pessoa sociável, pois nada faço para retribuir a amizade e generosidade quem têm para comigo. Sou incapaz de convidá-los para um fim de semana em casa, um almoço ou até uma chegada num bar para desfrutarmos umas cervejas com um belo torresmo mineiro. Juro a mim mesmo que mudarei essa minha personalidade individualíssima.

Mas confesso a vocês que nas redes sociais nem tudo são flores e já estou organizando uma lista para promover um corte na relação dos amigos de grupos de whatsapp, que enchem nossa paciência e a memória do celular. Esses, sim, são mais individualistas que eu, pois chegam ao cúmulo de firmar uma série de obrigações e, além de não cumprirem, ainda exijam que eu faça por eles.

Todos os santos dias recebo mensagens e mais mensagens com cartões onde fazem promessas aos seus santos padroeiros nos ameaçam caso não rezemos a quantidade de Pai Nosso e Ave Maria estipuladas. E é do tipo dá ou desce: se rezar sua conta no banco se encherá de dinheiro, mas caso despreze as recomendações todos os malefícios cairão sobre nossa descoberta cabeça. Fazem promessas e querem que eu pague. Porreta!

Prometo que deixarei as redes sociais e me aliarei ao capitão Miguel Fróes, ao comandante de longo curso Tedesco e ao artista plástico Aliomar Tesbita no estudo semanal das ilhas e barras canavieirenses. Singraremos da Barra Velha à Barra do Albino, com paradas para estudos e lazer, sem qualquer compromisso com redes sociais. Falta-me apenas adquirir uma cadeira reforçada como a de Tedesco, feita de alumínio e titânio para instalar na lancha, um reforçado isopor para as cervejas e zarpar na próxima viagem.

Sem qualquer sinal de internet!

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado