Por Walmir Rosário

Há quem diga que o Itabuna Esporte Clube entrou na década de 1970 com o pé errado. Não sou favorável a essa tese, pois esse era um comportamento dos clubes do interior e de alguns da capital baiana. De cara, afirmo que o “Dragão do Sul” soube aproveitar alguns bons momentos e fez do limão uma limonada, como chegar ao vice-campeonato profissional de 1970 e sagra-se campeão baiano juvenil, em 1971.

Somente por essa premissa posso afirmar que – dadas as situações daquele momento – torna-se um time vencedor, sabendo aproveitar as condições favoráveis, notadamente pela qualidade dos craques e dirigentes. Após mais uma crise, em 1971, o jornalista e promoteur Charles Henri assume a presidência do clube e o Itabuna sagra-se campeão baiano na categoria juvenil.

E era um timaço pra ninguém botar defeito, tanto pela qualidade dos jogadores, quanto pela firmeza do técnico Dão e do supervisor Adonias Braga, capitaneados por Charles Henri. No juvenil do Itabuna, o maior problema do técnico era conseguir montar um time com 11 titulares, deixando de fora cerca de outros 30 craques prontos para enfrentar quaisquer adversários.

E não era pra menos, pois aqueles jogadores que passaram pela rigorosa peneira dirigida por Dão no campinho do Banco Raso reunia o que tinha de melhor no futebol itabunense. Eram cinco goleiros: Raminho, Paulo César, Walmir, Edvaldo e Luiz Antônio. Ainda, Perivaldo, Genival, Luiz Alberto, Dete, Bira, Quinha, Zezinho, Magno, Newton, Nando Porroló, Sabará, Nenego, Zé Alves, Mona, Bento, Pereira, Josenaldo, e tantos outros.

E o técnico Dão pegava pesado nos treinos, muitos deles contra o Itabuna profissional. Nas dificuldades financeiras, entrava em campo Charles Henri com suas táticas promocionais. Numas dessas, articulou o Torneio do Cacau, com a participação do Galícia, Jequié e os times do Itabuna profissional e o juvenil, que empatou com o Galícia em 1X1; ganhou do Jequié por 4X3 e se classificou como vice, e o profissional como campeão.

Numa outra crise financeira de final de ano, o juvenil jogou contra os profissionais no campo da Desportiva e a renda salvava, sobretudo, o time profissional. Nas crises do juvenil, os atletas se reuniam, abriam aquele famoso livro de ouro, visitavam os empresários ligados ao futebol, solicitando recursos para a compra de passagens, dentre outras despesas para a viagem, muitas delas arcadas pelo empresário Ermano.

O goleiro Raminho lembra bem das dificuldades enfrentadas a cada jogo, superadas com muita determinação pelos atletas, técnico e supervisor, às vezes criando ciúmes entre a diretoria do Itabuna. Raminho reconhece que era um time fantástico e a vontade de ganhar fazia com que eles continuassem unidos, acatando as decisões tomadas pela maioria, o que sempre deu certo.

E o time do Itabuna juvenil não tinha medo de cara feia e enfrentava os adversários com altivez. Em 1971, aplicou 5X2 no time de Ilhéus; ganhou do Jequié pelo placar de 3X1; venceu o Atlético de Alagoinhas por 2X1; tropeçou contra o Vitória, perdendo por 2X1; e se classificou contra o Galícia, vencendo tranquilo por 2X0. Daí se preparou com afinco para a final contra o Fluminense de Feira de Santana, vencedor da outra chave.

Na primeira partida, em Feira de Santana o jogo terminou empatado em 1X1, com gols de Magno (Ita) e Bira (FF). A finalíssima foi realizada em Itabuna e terminou o jogo pelo mesmo placar: 1X1, com gols de Magno (Ita) e Joãozinho (FF), aquele que se tornou conhecido posteriormente como Nunes no Flamengo carioca. Com esse resultado, o campeão seria conhecido após a disputa dos pênaltis.

Na cobrança das penalidades, Perivaldo acerta a trave e perde o primeiro; Raminho defende o primeiro pênalti, batido por Joãozinho (Nunes); Quinha acerta o gol no segundo; Raminho defende o pênalti batido por Neinha; e Newton converte o terceiro gol. Justamente o gol do Campeonato Baiano. Após as comemorações em campo, ainda uniformizados, os jogadores se dirigem à Igreja de São José para agradecer pela vitória.

No Campeonato de 1972, Itabuna volta a brilhar, empatando por 1X1 com o Atlético de Alagoinhas, em Itabuna, e pelo placar de 2X2, em Alagoinhas, sagrando-se campeão do Interior. Para tanto, na cobrança alternada dos pênaltis, o goleiro Raminho defende duas bolas e o Itabuna Juvenil vence com o gol final de Luiz Alberto. Agora, restava a partida final para ir em busca do Bicampeonato Baiano de Juvenis, contra o Bahia.

A final foi disputada na melhor de três partidas, iniciando no campo da Desportiva, com o Itabuna saindo na frente ao vencer o Bahia por 2X0. Na segunda partida, em Salvador, o Itabuna, sem três titulares, Machadinho, Bastos e Sapatão, perde para o Bahia por 5X0. Na terceira partida, um empate chocho por 0X0 confere ao Itabuna o título de vice-campeão, com o desempate pelo critério de saldo de gols.

Sem tirar o brilho dos outros grandes atletas, um dos destaques da fantástica equipe do Itabuna juvenil foi o goleiro Raminho, ao defender pênaltis decisivos. Titular no campeonato de 71, Raminho foi para a reserva no primeiro jogo contra o Fluminense de Feira, dando lugar a Paulo César. Porém, nos treinamentos, Paulo César quebra um dedo e Raminho volta à equipe que recebeu a taça de Campeã Baiana de 1971.

O Itabuna juvenil era uma equipe fantástica.

Walmir Rosário é Radialista, jornalista e advogado

 

 

 

Legenda da foto: Sapatão, Dete, Machadinho, Josenaldo, Raminho, Bastos. Agachados, Magno, Naldinho, Quinha, Luis Alberto; time profissional: Chimba, Antônio Carlos Moura, Rê, Jacir, o secretário Bernado Spector, o prefeito Simão Fitermann e o time principal com o capitão Americano, Santa Cruz, agachados estão Douglas, Zé Carlos, Bel e Aílton.