Expandir mercado com foco na internacionalização dos chocolates da Bahia. É com esse objetivo que a economia solidária da Bahia pode alçar voos maiores por meio do projeto de inserção de cooperativas da agricultura familiar da Bahia nas cadeias produtivas sustentáveis internacionais, iniciativa do Núcleo de práticas em Economia e Relações Internacionais (Neri), da Universidade Salvador (Unifacs), que conta com a parceria do Centro Público de Economia Solidária (Cesol) Litoral Sul – política pública do Governo do Estado da Bahia.

Henrique Campos é mestre e doutor em ciências sociais pela UFBA e é professor no curso de Mestrado em Direito, Governança e Políticas Públicas (MDGPP) e na graduação em Relações Internacionais da Unifacs – Universidade onde se graduou em Negócios Internacionais e hoje coordena o Neri. De acordo com o pesquisador, a Bahia é o principal exportador de cacau do Brasil e um dos principais fornecedores mundiais, mas não apresenta exportação expressiva de chocolate.

“No último ano, a sua maior marca na série histórica não superou 1 tonelada do produto. Embora a Apex Brasil [Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos] sinalize que a exportação do chocolate brasileiro cresceu 12,7% em um ano, o principal destino é o Mercosul e se trata de chocolate convencional produzido pelas grandes empresas transnacionais da cadeia global de alimentos que vem reduzindo o percentual de cacau nas suas fórmulas”, destacou Campos.

Os chocolates da região Litoral Sul são produtos finos, mas ainda precisam conquistar o mercado internacional, segundo o especialista que sinalizou a demanda de mercado por empreendimentos sustentáveis e aderentes ao trabalho decente – que atenda aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). Uma reportagem recente do jornal britânico The Guardian aponta que a cadeia global do cacau e chocolate enfrenta sérios problemas com o trabalho escravo e infantil em meio a um cenário de pobreza.

O projeto de exportação pretende apoiar empreendimentos da agricultura familiar e cooperativas comprometidas com a garantia da qualidade dos produtos e com condições decentes de trabalho e sustentabilidade para o acesso ao mercado internacional. “A Bahia tem um potencial para ir nessa direção. Em 2019, a produção sustentável de cacau chegou a 1,5 milhão de toneladas dos quase 5,5 milhões totais e segue em tendências de alta, segundo o Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (IISD), em relatório de novembro de 2022”, acrescentou Campos.

Certificações e Consórcio de produtores

 

O acesso ao mercado global requer adequação a exigências de conformidade internacional e até mesmo de selos de sustentabilidade ou outros selos específicos que levarão os produtos certificados a nichos de mercado dispostos a pagar um valor maior pelo consumo. Uma das soluções, de acordo com o coordenador do Neri, pode ser a criação de um consórcio de produtores para diluir os custos fixos e operacionais da logística internacional como frete, seguro, armazenamento e agenciamento comercial.

A região tem condições de dobrar o volume exportado em 2022 – 2,4 toneladas de chocolate –, maior marca da série histórica desde 2011.

“Em termos globais, o mercado do chocolate está aquecido, sobretudo aquele que atende ao conceito de fair trade. Os consumidores da América do Norte e da Europa vêm evocando preocupação acerca da sustentabilidade dos produtos que consomem. Procuram evitar o consumo de bens decorrentes do trabalho infantil e análogo ao escravo. O território Litoral Sul Baiano, por meio da política pública de Economia Solidária implementada pela Secretaria Estadual do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre), vem superando essas questões há um bom tempo e a qualidade do produto só tende a melhorar”, afirmou o pesquisador.

Benefícios com a exportação

Os principais benefícios da economia solidária da Bahia com o projeto são a ampliação e diversificação da fonte de renda; qualificação e diversificação da cadeia produtiva do cacau tendo o trabalhador rural papel central e domínio sobre o processo; reafirmação e valorização do trabalhador rural; manutenção ou até mesmo ampliação da área de preservação da sociobiodiversidade produtiva da região; se tornar mais uma fonte de divisas internacionais para o estado.

“A parceria do Cesol Litoral Sul com o Neri é importante porque por meio dela ajudaremos empreendimentos econômicos solidários a colocarem seus produtos fora do Brasil. É um projeto pioneiro que levará o nome do nosso território, do estado da Bahia e do Brasil de forma mais ampla – país que no passado já foi o maior produtor de cacau e hoje produz chocolate de qualidade e sem conservantes”, comemorou o coordenador geral no Cesol Litoral Sul, Thiago Fernandes.

Além de ganhar prestígio por conseguir atender a exigências rigorosas dos mercados estrangeiros, o exportador aumenta sua competitividade ao disputar mercado com marcas internacionais, diversifica o portfólio de clientes e dilui o risco com questões de instabilidade política e econômica de um determinado mercado. “Por fim, acessar o mercado internacional amplia o volume vendido e com isso vem o ganho de escala que, por sua vez, amplia a competitividade”, explicou Henrique Campos que apontou a produção cooperativista do chocolate do Litoral Sul da Bahia como um dos caminhos para a redução de desigualdades e valorização dos trabalhadores e trabalhadoras rurais.

Rodada de negócios

Integrando parceiros e empreendimentos da economia solidária que atuam na cacauicultura com produção de chocolates, o coordenador do Neri e o coordenador do Cesol Litoral Sul realizaram, no início deste mês de abril, durante a Feira Origem Week, no Centro de Convenções em Salvador, uma rodada de negócios com marcas que se destacam por agregar selos de qualidade e premiações em concursos de chocolate.

Em diálogo para participação no projeto de exportação, a Benevides Chocolates já foi condecorada duas vezes pela Academy of Chocolate. Já a marca Modaka possui uma série de selos e certificações em conformidade com as barreiras não tarifárias dos mercados externos, além de inovar com uma linha de produtos veganos – nicho em ascensão. A Natucoa – marca da Cooperativa de Serviços Sustentáveis da Bahia (Coopessba) – também produz sem perder de vista a qualidade atrelada à sustentabilidade, possui produtos veganos e ainda tem o diferencial de ser uma cooperativa da agricultura familiar com preocupação com as tradições e respeito ao processo produtivo do chocolate.