Por Walmir Rosário

Ilhéus amanheceu tristonha nesta quinta-feira (27) com a notícia da partida de Antônio Olímpio Rhem da Silva, ou simplesmente AO. E ele deixa saudosos os ilheenses de todos os recantos e níveis sociais. Para AO, a figura humana não tinha a distinção que porventura é feita de acordo com os costumes, credos, situação financeira ou cor da pele. Era do tipo que conhecia todos como gente.

O anúncio de sua partida para o Oriente Eterno gerou uma grande comoção em Ilhéus. Após uma queda, há dias ele se encontrava internado para tratamento no Hospital São José, porém não resistiu. Aos 91 anos, deixa a viúva Maria Amélia e os filhos Marcus Flávio e Luciano, além de netos. Também deixa órfã uma grande legião de amigos que construiu durante sua vida.

AO é (ou era) um itabunense adorado pelos ilheenses. Foi prefeito por duas vezes e deputado estadual. Em sua primeira eleição, desafiou o status quo da política, se elegeu prefeito e foi responsável pela transformação da cidade e dos distritos. Soube buscar os recursos necessários e realizou obras de infraestrutura importantes, muitas das quais responsáveis por mudanças no cartão postal da cidade.

Antônio Olímpio prefeito, se notabilizou por dar vez e voto a uma nova geração de políticos, deixando de lado o varejo e o compadrio para entregar aos ilheenses uma Ilhéus planejada. Pelo primeira vez a prefeitura subiu aos morros fora da campanha política, com investimentos estruturantes, os distritos ganharam acessibilidade e Ilhéus passou a executar uma política turística de apresentar sua história e personagens ao mundo.

Foi o prefeito que trabalhou junto à população, o que não era nenhuma novidade, pois sempre circulou com desenvoltura em todas as camadas sociais da sociedade. Com a simplicidade que visitava os gabinetes em Brasília e Salvador, passeava em todos os recantos de Ilhéus, constatando os reclames da população e fiscalizando a execução das obras realizadas pela prefeitura.

Sua intimidade com a população era tamanha, que logo cedo conversava com os pescadores do Pontal – bairro em que morava –, atendia as lideranças políticas, vereadores e o povão de Deus sem a menor cerimônia. Conhecia a todos e os tratava com respeito e intimidade, chamando-os pelos nomes, sobrenomes e apelidos, dedicando carinho e cobrando quando necessário.

Se era bem recebido nos salões da nobreza, AO também era fortemente abraçado pelos mais simples, aos quais tratava com brincadeiras e gozações. Não raro era visto batendo papo nas ruas ou na praça São João, no Pontal, comportamento que não é peculiar aos políticos. Se sentia confortável ao visitar os amigos da tarifa (entreposto de pescado), permanecendo para algumas partidas de dominó.

Pescador exímio e conceituado, ministrava aula de pesca aos pescadores, informando com segurança os melhores locais onde as diferentes espécies de peixes seriam mais facilmente encontradas. Mais a simples localização não bastava, e ele complementava com o tempo e o clima ideal em que eles estariam gordos, excelentes para o consumo e o tipo de captura mais adequado.

Advogado de conceito, servidor do Ministério do Trabalho, professor, secretário do Meio Ambiente, Presidente da Fundação Universidade do Mar e da Mata (Maramata), escritor, brindava os amigos com sua sabedoria e os “causos” contados com a verve que Deus lhe deu. Era do tipo que poderia perder o amigo, mas nunca a piada, como diz o ditado, só que não, conservava os dois.

Outra grande e excelente habilidade de AO era a gastronomia, notadamente em peixes e frutos do mar. Nesse mister, formou bons chefs nos cursos em que promovia na Maramata, entre os quais me incluo (sem o adjetivo acima citado). Poderia ser considerado um bom vivant, como todos os que valorizam os prazeres da vida, generoso, bem-humorado, de bem com a vida.

Tive a felicidade de conviver um bom tempo com Antônio Olímpio, momentos que jamais serão esquecidos. Nos nossos encontros, muitos deles profissionais, elaborei boas histórias, boa parte das quais contadas em reportagens administrativas, políticas e gastronômicas. E essa convivência se transformou em amizade, daquelas que ele sabia construir e conservar por toda a vida.

Pelo que conheço de AO como irmão, valoroso maçom, servidor público, professor e amigo, acredito que ele não gostaria de deixar triste os amigos, até pelas piadas que contava. Prefiro o sentimento da saudade, que o da tristeza; da lembrança dos momentos agradáveis, do que os maçudos; da espontaneidade, do que os críticos. AO estará fisicamente longe de nós, mas perto do coração.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado