A Persistência da Violência contra a População LGBTQIAPN+ em 2025: Retrocessos Político-Religiosos e a Urgência de Resistência

por Domingos Matos
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Por José Antonio Loyola Fogueira

Em pleno ano de 2025, a sociedade brasileira segue marcada por uma brutalidade alarmante contra pessoas LGBTQIAPN+. O 17 de maio, data que marca o Dia Internacional contra a Homofobia, a Transfobia e a Bifobia, deveria ser um momento de celebração das conquistas históricas da diversidade sexual e de gênero. No entanto, permanece como um marco de dor, resistência e memória dos que tombaram em nome da liberdade de existir. A violência que atinge essa população não é fruto do acaso, mas resultado de um contexto político, social e religioso que tem incentivado e legitimado o discurso de ódio.

O aumento da violência e os requintes de crueldade

O Brasil segue liderando rankings de assassinatos de pessoas LGBTQIAPN+, especialmente travestis, mulheres trans e homens gays. Esses números, frequentemente subnotificados, denunciam não apenas a quantidade, mas a qualidade da violência: execuções com crueldade, mutilações, estupros corretivos, espancamentos públicos, incinerações. Esses não são crimes comuns, são atos de terror motivados por preconceito estrutural, que objetivam reprimir identidades consideradas dissidentes da norma cisheteropatriarcal.

O sangue derramado dessas vítimas grita por justiça em um país que insiste em negar sua responsabilidade histórica. É preciso nomear o que ocorre: trata-se de um projeto político de extermínio, silenciamento e marginalização.

A ascensão da extrema direita e os retrocessos nos direitos LGBTQIAPN+

A crescente influência de governos e lideranças de extrema direita em diversas esferas do poder tem tido impactos devastadores para a população LGBTQIAPN+. Com discursos que apelam para uma moral conservadora, supostamente ameaçada por “ideologias de gênero”, esses grupos têm atacado sistematicamente políticas públicas voltadas à inclusão e à proteção de minorias sexuais e de gênero.

Esse avanço político se manifesta, por exemplo, na retirada de verbas para campanhas de educação sexual nas escolas, no fechamento de centros de referência LGBTQIAPN+, na censura a manifestações culturais e artísticas queer, e na nomeação de representantes anti-LGBT em cargos estratégicos da educação, da saúde e da justiça. A institucionalização da LGBTfobia não é apenas simbólica: ela mata.

Fundamentalismo religioso e o discurso de ódio

É urgente denunciar o papel nefasto que parte significativa do fundamentalismo evangélico tem desempenhado nesse processo. Travestido de pregação e “amor cristão”, discursos de intolerância são propagados em templos, redes sociais e programas de televisão, apresentando a existência LGBTQIAPN+ como pecado, desvio moral ou patologia.

Esse discurso, ao se infiltrar no imaginário popular e influenciar decisões políticas, cria um ambiente propício à violência. Quando lideranças religiosas dizem que pessoas LGBTQIAPN+ devem ser “curadas” ou “libertas”, elas não estão apenas emitindo opiniões: estão legitimando a agressão, o abandono familiar, o bullying escolar, a exclusão laboral e, em última instância, o assassinato.

Resistência, memória e luto como forma de luta

Diante desse cenário, a resistência se torna não apenas um direito, mas uma obrigação histórica. Organizações da sociedade civil, coletivos LGBTQIAPN+, movimentos estudantis, universitários e militantes de base têm se mobilizado para enfrentar essa onda de retrocessos.

Memória e luto também são formas de luta. Honrar os nomes das vítimas, denunciar a impunidade, construir redes de cuidado e acolhimento são atos revolucionários em tempos de barbárie. Mais do que nunca, precisamos politizar o luto e transformar a dor em plataforma de resistência.

Não há neutralidade diante da violência

Não se trata de opinião ou crença religiosa. Trata-se de direitos humanos. De vidas humanas. De corpos que sangram. Em 2025, é inadmissível que ainda discutamos se pessoas LGBTQIAPN+ têm direito à vida, à dignidade e à existência plena.

O combate à homolesbotransfobia deve ser prioridade de qualquer projeto civilizatório. É preciso enfrentar com coragem as estruturas que perpetuam a violência: o Estado, as igrejas conservadoras, os meios de comunicação coniventes e a sociedade civil omissa. O silêncio também mata. E a história cobrará o preço da indiferença.

Que o 17 de maio seja um dia de memória, mas também de rebelião. Porque enquanto houver sangue LGBTQIAPN+ derramado, não haverá paz nem justiça neste país.

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José Antonio Loyola Fogueira é graduado em Pedagogia, Especialista em Educação Afetiva e Sexual, Especialista em Saúde Coletiva, Mestrando em Ensino Étnico Racial. Membro Fundador do Grupo Humanus, Coordenador Municipal da Aliança Nacional LGBTI. Membro da Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos, Membro Fundador do Fórum Baiano LGBT.  CEO da Rede Coração Positivo. Poli artista. @joseantonio.loyola

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