Por Maria Reis Gonçalves

Sempre ouvimos as pessoas perguntarem umas às outras: Que herança pretendemos deixar aos nossos filhos e netos? E não estamos perguntando sobre patrimônios, valores, ações. Na verdade estamos falando de uma herança diferente, algo muito maior, uma riqueza extraordinária que está sendo dizimada, dilapidada, e estamos permitindo essa dilapidação sem fazermos nada.

As nossas florestas estão sendo destruídas com uma rapidez espantosa, a natureza sofre com esse desmatamento, há uma necessidade urgente de pararmos com esse tipo de predadores, pois se continuarmos a desmatar nossas florestas, deixaremos para os nossos filhos e netos regiões áridas e semiáridas e até mesmo imensos desertos.

Nossos rios, os mananciais de água estão sendo poluídos, em seus leitos há lixo e sujeira, a falta de proteção nas nascentes os está matando, os esgotos estão sendo despejados nos leitos sem tratamento. E a cada dia a população sofre por falta de água potável, o que nos leva a pensar em racionamento. O nosso ar, o ar que respiramos está sendo poluído pelas fábricas e pelos automóveis, e a cada dia surge mais e mais buracos na camada de ozônio. A população encontra-se adoentada, com problemas respiratórios, o povo que polui é o mesmo que adoece.

A maioria desses fatores acontece pela deseducação do povo. O homem está acostumado a pensar no agora, na atualidade, no momento em que está vivendo e esquece que o futuro irá existir para os filhos, netos, bisnetos. O homem imagina que a sua vida é que importa, o que ele está vivendo é o que importa e não se preocupa como deixará o mundo para o futuro. O mundo que agora vivemos é uma herança recebida dos nossos antepassados e ao recebê-lo pegamos também a obrigação de conservá-lo para os que virão após a nossa morte. Mas estamos mudando o mundo como se o futuro não existisse e como se não tivéssemos a responsabilidade de conservá-lo.

É preciso educar para a vida. Para educar com sucesso, é necessário se autoeducar, pois, em questões morais, só o exemplo funciona a contento. Não podemos nos calar diante da corrupção que campeia os setores político e empresarial do nosso país e nem podemos ficar calados diante da exploração sexual das nossas crianças, da violência contra as mulheres e idosos, com a falta de estrutura que deixam tantos jovens sem nenhuma expectativa para vida e buscam a marginalidade como modelo para sobreviver. Mas a maioria fica indiferente com o crescimento da violência. É o egoísmo humano prevalecendo.

Que herança deixaremos para as futuras gerações se não colocamos anteparo à ganância pelo lucro, se emporcalhamos os rios com mercúrio e os mares com petróleo e esgotos? Que herança deixaremos aos nossos filhos, se erotizamos nossas crianças e depois nos admiramos que pré-adolescentes engravidem? Como podemos exigir coerência aos nossos filhos se não somos coerentes nem conosco mesmo? O que podemos fazer para mudar o quadro que se apresenta no presente e modificarmos o futuro dos nossos filhos e netos? De que maneira poderemos dar a eles uma herança melhor do que a que estamos construindo agora? Como podemos modificar todas as mazelas que se apresentam no nosso presente, para construirmos um futuro mais aprazível e melhor para a geração futura? São perguntas que, infelizmente, não tenho nenhuma resposta!

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Maria Reis Gonçalves é psicóloga