Por Walmir Rosário

O ano era 1964 e uma grande eleição prometia levar milhares de eleitores às ruas, apesar da situação político-administrativa do Brasil, com a recém-chegada Revolução Militar – para uns, e golpe militar para outros –, que provocou mudanças no comportamento civil e institucional. Para esses eleitores não havia restrição de irem às urnas e elegerem a nova diretoria da União dos Estudantes Secundaristas de Itabuna (Uesi).

Chegava ao fim o mandato da diretoria que tinha José Adervan de Oliveira (posteriormente fez carreira como bancário, jornalista e empresário da comunicação), com muitas realizações, a maior delas em obter o compromisso junto aos candidatos ao governo da Bahia, Waldir Pires e Lomanto Júnior, para a construção de um grande prédio para o Colégio Estadual de Itabuna (CEI). Eleito, Lomanto cumpriu o combinado.

Dois bons candidatos se apresentavam na liderança das chapas: Jairo Muniz e Carlos Eduardo Sodré, que vinha de um revés eleitoral no Grêmio Estudantil do CEI, perdendo para José Roberto Benjamin. Polarização inevitável em tempos que os estudantes eram altamente politizados, aos alunos secundaristas de Itabuna não se contentavam com os atos comícios nos ginásios e a proposta era ganhar as ruas.

Me lembrei deste importante fato histórico da vida estudantil de Itabuna ao receber de alguns amigos jornalistas, entre eles Joselito Reis e Maria Antonieta (Tonet), informações sobre o terceiro encontro de alunos do CEI. As lembranças de mais de 50 anos nos chegam à memória, com as imagens de colegas de sala e colégio, bem como dos grandes e eméritos professores, marcantes em nossas vidas.

Nas fotos, pouco reconheci entre os alegres grupos de senhores e senhoras que cantavam, dançavam ou somente conversavam, por certo, relembrando das lembranças de priscas eras. E não é por menos, pois muitos não encontramos há muitos anos. Até reconheci outros – que mesmo não contemporâneos de colégio – conheço-os do dia a dia e bastou retirar uns quilos a mais nas barrigas…

A promessa paga por Lomanto Júnior a Itabuna – e a José Adervan – provocou uma grande mudança em nossas vidas, pois estudávamos no centro da cidade e, de repente, tivemos que nos deslocar até o longínquo bairro São Caetano, ainda em desenvolvimento. Mesmo tendo sido criada uma linha de ônibus urbano passando em frente ao CEI, muitas das vezes éramos obrigados a ir ou vir a pé, por falta deles.

Com os ônibus cheios, muitos estudantes não queriam – às vezes nem podiam – pagar passagens e iniciavam uma pequena baderna. Os motoristas fechavam as portas do coletivo e deixavam os passageiros (estudantes) nos pontos, ou simplesmente se dirigiam à delegacia. Neste dia e até no seguinte, não paravam nos pontos em que muitos estudantes fardados aguardavam o transporte.

Voltando às eleições da Uesi, cada um dos grandes colégios secundaristas de Itabuna, a exemplo do CEI, Firmino Alves (Cenecista), Comercial, Divina Providência, e a Ação Fraternal de Itabuna (AFI) se transformaram em verdadeiras praças de batalha ideológica, muitas das vezes chegando às vias de fato, como no jargão policial. Na AFI, colégio que somente recebia alunas (sexo feminino) da classe média/alta, o clima não era diferente.

A cada dia uma passeata ganhava a avenida do Cinquentenário, com alunos de determinados colégios – ou todos juntos – portanto faixas e cartazes com palavras de ordens e reivindicações. Para “brilhar” na avenida, os comitês dos candidatos em cada colégio se esmeravam na confecção do material panfletário e na quantidade de estudantes que se juntavam às caminhadas.

Nos colégios, a divisão entre os professores no apoio às candidaturas eram visíveis e muitas promessas de expulsões por parte dos que ocupavam cargos diretivos, notadamente esquerdistas. Promessas que geralmente não eram cumpridas quando chegavam à direção-geral, o que era um “alimentador” de exaltação dos ânimos em estudantes e professores.

Por falar em exaltação, estudantes do sexo feminino se destacavam pela coragem e bravura na defesa de seus candidatos, fossem nos colégios ou nas caminhadas. Como até hoje é realizada, elas tinham como concentração o “Jardim do Ó”, descendo a Cinquentenário até a praça Adami, onde aconteciam os comícios, bem em frente ao edifício Augusto Andrade, que abrigava a sede administrativa da Uesi.

Itabuna viveu, em pleno governo militar, dias de exaltação na política estudantil, observada atentamente pelos órgãos militares. Como alguns dos professores eram da ativa do Exército, as manifestações eram permitidas, pois eles não acreditavam que os estudantes tocariam fogo na cidade, apesar do treinamento em guerrilhas e fabricação de bombas passado por alguns alunos comunistas.

Dia da eleição, a cidade se transforma numa festa cívica, com alguns excessos, como era de se esperar, mas nem tão dignos de registros. Melhor, mesmo, foi ouvir os discursos e aguardar a apuração do pleito, que consagrou a vitória de Jairo Muniz (vice-prefeito de Itabuna no período 1983/88) com expressiva votação. Esse resultado concedeu à Uesi um excelente conceito como instituição, em continuidade à administração de José Adervan.

Como somente pude ver as fotos, pois não participei do encontro dos estudantes do CEI dos anos 70, por certo alguns dos alunos antes daquela época lembraram a grande conquista da Uesi – ainda com Adervan – na construção do colégio no bairro São Caetano. Com Jairo Muniz, muita negociação com os dirigentes do CEI, com a Polícia e os empresários para o restabelecimento da rota de coletivos.

Mais a lembrar, as dificuldades sabiamente vencidas.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado