Agricultores que já viveram dias bem melhores estão em alvoroço. A propósito de uma resposta ao documentário Os Magníficos (veja trailler abaixo), produção do francês radicado na Bahia Bernard Attal, que mostrou a realidade dos ex-milionários do cacau, seu ápice, a derrocada e a retomada de suas vidas sem os luxos de outrora, conceberam um projeto que buscará, por meio também da produção de um filme documentário, conseguir o perdão de dívidas contraídas a partir do financiamento público para recuperação da lavoura após a vassoura-de-bruxa.

Não parece, mas esse é o ponto de menor complexidade da inglória tarefa. Eis agora o xis do problema: pretendem fazer isso com a comprovação de que a vassoura-de-bruxa foi trazida de forma intencional à região, para dizimar a produção numa ação de bioterroristas de extrema esquerda, quase uma Al Qaeda grapiúna, cujo líder seria o hoje deputado federal Geraldo Simões. A mesma ação já tentada através da revista Veja, agora em novo formato, o audio-visual. É a quimera multimídia.

Tem mais. Querem, com isso, que o governo, além de perdoar suas dívidas, ainda os indenize por tudo o que está retratado de forma tão clara no documentário Os Magníficos. Só que esse documentário mostra a elite do cacau como uma casta de perdulários, e isso está como uma amêndoa do fruto de ouro atravessada na gaganta desses senhores.

Mas algo estaria atribulando os produtores – do filme, diga-se. Como colher depoimentos que incriminem o deputado – que conseguiu dois mandatos consecutivos depois da primeira acusação de bioterrorismo, marchas de produtores e matérias até na grande mídia do país? Uma ‘solução’ que encontraram está em total desacordo com os propósitos, por não ter valor documental nem histórico, o que prejudica o objeto, e ainda por ser ilegal, imoral e de fácil contestação judicial.

Fala-se aqui da gravação de ‘depoimentos’ não autorizados de pessoas que possam ter alguma opinião – até pelo posicionamento político – que supostamente incrimine o alvo Geraldo Simões no caso da chegada da vassoura. Repita-se: trata-se de uma manobra ilegal, que pode reverter em uma série de processos judiciais que tomariam o restante das cuecas dos descamisados e ex-ricos cacauicultores.

Sem falar que o projeto em si já é uma despesa fora dos padrões dos ex-magníficos, que se cotizam num suposto instituto para um último investimento num ideal de lavoura que mudou de perfil faz tempo. São sementes jogadas em terra ruim, que nem as fertilizantentes lembranças dos bons tempos podem fazer brotar frutos dourados como outrora.

Como diz a mediocridade, só lamentamos. Tiveram seu tempo. Refazer o passado agora, só com trabalho de verdade. Assim como os milhares de brasileiros que estão conseguindo mudar seu padrão sem que para isso recorram a estratagemas mirabolantes e irreais, como os sonhos desses que almejam voltar ao panteão dos milionários sem passar pelas etapas necessárias da luta diária e honrada a que a grande maioria se submete no dia-a-dia pelo Brasil a fora.

Plantem batatas, até para ajudar na diversificação da lavoura.

Domingos Matos

Editor d’O Trmbone