“Não acredito em alienígenas mas que eles existem, existem!”, e estão presentes em  mais um duro golpe  imposto aos cacauicultores, dessa vez com a nomeação de uma bióloga da Embrapa Gado de Corte para dirigir os rumos da CEPLAC na Bahia e no Brasil. Até quando nossos representantes políticos continuarão alheios as coisas do cacau e a cargo de alta relevância para lidar com nossos desafios tratando a região cacaueira como um espaço burocrático e sem importância?

Desde a reforma que o Ministério da Agricultura-MAPA promoveu em 2015, ainda no Governo Dilma, a CEPLAC foi abrigada e rebaixada como uma diretoria subordinada a uma Secretaria do MAPA, sem autonomia e relevância nos debates e formulação de políticas públicas, com divisões internas profundas e sem cumprir o papel institucional de promover o desenvolvimento sustentável e integração regional que sempre nortearam sua existência.

Passaram diversos governos (Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro) e mais uma vez estamos derrapando e sem perspectivas. Está na hora de um levante da sociedade e da classe política para que a CEPLAC seja ressignificada. É preciso promover uma reforma técnico-administrativa que a coloque como instituição  vinculada, diante do descaso, ao Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, pois sua existência está vinculada às políticas públicas mais amplas e não somente à pesquisa e fiscalização de barreiras sanitárias, como infelizmente o Ministério da Agricultura se tornou.

Precisamos de uma liderança no seu comando, que para além da formação acadêmica compatível, tenha a sensibilidade de promover a construção política e institucional que o momento histórico requer. Não podemos pecar pela omissão, pelo descaso e pela conformação com que alguns, que só se preocupam em construir currículos, se ocupam de promover uma gestão burocrática e sem compromissos reais que contribuam para a transformação da realidade socioprodutiva e ambiental das regiões produtoras, na Bahia e no Brasil, instalada há 35 anos.

A bem da verdade, a tentativa de emplacar o Engenheiro Agrônomo e Ceplaqueano, lotado no Pará, Aliomar Arapiraca da Silva para dirigir os destinos da cacauicultora brasileira, já não contemplaria, do ponto de vista dos interesses da Bahia, as aspirações de quem acredita e luta por uma cacauicultura  compatível com aquilo que se discute em termos de conservação da Mata Atlântica associada à produção ambientalmente responsável.

Não que o Dr. Arapiraca, funcionário da CEPLAC no Pará, não reunisse as condições técnica e profissionais necessárias, já que atuou como Superintendente da CEPLAC no Estado do Pará e atualmente coordena a Câmara da Política Setorial de Desenvolvimento Socioeconômico, vinculada à Secretaria de Estado de Governo do Pará – SEGOV.

Legitimo o pleito. Entretanto a Bahia acreditava que seria possível avançar mais, depois de um longo período de inércia naquele órgão desde há muito esquecido. O PSB da Bahia, base do novo governo Jerônimo, com apoio de  várias instituições, indicou o nome do ex-secretário de Agricultura da Bahia-SEAGRI, também  Engenheiro Agrônomo, João Carlos Oliveira.

Professor da UNEB, Vice-presidente da Junta Comercial do Estado da Bahia;  Secretário interino do Turismo após exercer a função de Chefe de Gabinete; atuou como Secretário de Meio Ambiente e do Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais da UESC; foi coordenador regional da Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB), na região Sul do Estado.

No primeiro momento, o estabelecimento de mais uma disputa era desnecessária, e muito pouco ajudava o já combalido cacau da Bahia, parecia um erro. Com a nomeação anunciada esta semana, vê-se que daquela disputa, em muitos momentos sabotada pelo já conhecido “fogo amigo” político, resultaria em uma solução mil vezes melhor da que se tornou realidade no DOU.

Defender um nome regional que tinha o apoio de importantes setores do governo da Bahia tornaria os caminhos menos tortuosos para o enfrentamento e solução dos problemas agrícolas e ambientais do “agroecossistema cacau” do nosso Estado. Aceitar um nome “do Pará” e construir as pontes necessárias, seria uma construção mais trabalhosa, mas perfeitamente legítima. Agora, engolir uma nomeação completamente alheia à cacauicultura baiana – e à brasileira! – já é a demonstração da fraqueza – em alguns casos, da irresponsabilidade – de nossas lideranças. A cacauicultura brasileira não merecia.

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Movimento Eterno Verde; Sindicato Rural de Itabuna/SRI; Conselho de Desenvolvimento e Cidadania/CDAC; Central Nacional dos Produtores de Cacau/CNPC; Fundação Pau Brasil/FUNPAB; Centro Regional de Desenvolvimento Agropecuária/CREASA; Instituto Cacau Cabruca/ICC; Instituto Viver da Mata.