Por Walmir Rosário

Lembrei-me de tempos idos, quando o jornalista Tyrone Perrucho reuniu em sua casa, na aprazível Ilha da Atalaia, um grupo de amigos para um dia de campo, no qual seriam apresentadas as mais modernas técnicas científicas de adubação de cacaueiros.

Desocupados dos mais diversos níveis se apresentaram para aprender a labuta e salvar nossa preciosa lavoura de cacau, a partir de Canavieiras, terra mater do cultivo na Bahia.
Como bom ceplaqueano, jornalista lotado e chefe da famosa Divisão de Comunicação da Ceplac (Dicom), não se esperava outra atitude de Tyrone Perrucho, que não os cuidados minuciosos com os cacaueiros de sua propriedade, a aprazível mansão praiana. E as preocupações eram justíssimas, pelo que ele sempre escutou dos cientistas sobre o poder de disseminação do fungo da vassoura de bruxa, espalhada pelo vento.

Um amigo bem chegado, farto conhecedor das filigranas jurídicas por alisar os bancos do curso de direito, o incentivava a realizar esse dia de campo como uma contribuição ao conhecimento científico que seria repassado aos cacauicultores de fundo de quintal. E rebatia solenemente, argumentando ser, também, um dever moral de quem labutou no convencimento dos cacauicultores a cuidar de suas roças.

Conhecimentos esses que seriam repassados gentilmente pelos técnicos da Ceplac, que constavam de um extenso programa, indo do preparo do solo, passando pela preparação das mudas, clonagem, adubação, poda e colheita. Mas a cereja do bolo seria os prontos ensinamentos sobre a melhor e mais qualificada técnica sobre o controle da vassoura de bruxa e as plantas tolerantes ao temido fungo.

Mesmo em se tratando de um dia de campo num formoso embora minúsculo quintal da não menos harmoniosa Ilha da Atalaia, para Tyrone Perrucho tamanho não poderia, jamais, ser considerado sinal de reduzido evento. Pelo contrário, pois como o que abunda não vicia, os verborrágicos ensinamentos dos técnicos eram merecedores de uma efeméride com ares de conferência.

Para tanto, além de preparar convites digitais no mais alto estilo, Tyrone ainda preocupou-se em confirmar as prestigiosas presenças, com vistas a planejar o evento e adquirir bebidas e comidas para os convidados. Como bom anfitrião, não queria ser pego de surpresa por alguma falha, simples imprevisto que viesse a desmerecer a recepção e não atender a algum dos ilustres convidados.

Os convidados mais chegados não se importavam com essas minúcias, haja vista que conheciam bastante o anfitrião e suas recepções, sempre prorrogadas para o anoitecer, quem sabe o raiar do dia. Diante dessa real probabilidade, também preparavam seus farnéis e chegavam ao local do evento, no caso a residência de praia do anfitrião, com um isopor cheio de cerveja gelada e tira-gostos.

Na data aprazada, a partir das 10 horas, eis que chegam convidados tantos, animados para beber, não só do conhecimento científico que seria apresentado no dia de campo, mas, sobretudo, do interior das garrafas acondicionadas no freezer. Alguns mais afoitos fazem uma primeira vistoria nos cacaueiros, deram suas opiniões e voltaram às mesas, abastecidas que estavam de churrascos e camarão de minas (o velho e bom torresmo).

Conversa vai, conversa vem, e nada dos renomados técnicos ceplaqueanos aparecerem para brindar os presentes com seus abalizados conhecimentos científicos sobre os potentes cacaueiros. Lá pras tantas, após um telefonema, os palestrantes confirmaram suas ausências à efeméride por um simples motivo: O dia de campo foi cancelado, pois o órgão técnico não paga hora extra para o desempenho das atividades nos finais de semana e feriados.

Diante do xabu da programação, os convidados não desanimaram e fizeram uma cerimônia com a finalidade de levantar o astral do nem tanto combalido cacaueiro, até que recebesse o atendimento técnico-científico. Armados das mais diversas ferramentas, os convivas participaram da solenidade, após a abertura dos trabalhos etílicos e gastronômicos nos jardins da casa de praia, prometendo retornar em nova data.
Uma verdadeira pajelança foi realizada e até hoje os cacaueiros gozam de perfeita saúde.

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Walmir Rosário é radialista Radialista, jornalista e advogado