O Conjunto Penal de Itabuna realizou, ontem (20 de Novembro), o projeto “Consciência Negra: Caminhos de Resiliência – Celebrando a Herança Negra e Promovendo a Conscientização”. O evento teve como objetivo celebrar o Dia da Consciência Negra, ampliando os conhecimentos sobre cor, raça e negritude, para as pessoas privadas de liberdade, e teve uma vasta programação envolvendo apresentações culturais, a exemplo de RAP, palestras, comida cultural baiana (acarajé) e roda de Capoeira. Os internos também protagonizaram apresentações em cartazes, poesias e músicas em alusão à data.

A celebração do 20 de Novembro, este ano, teve como novidade exatamente uma apresentação de RAP, com diversos MCs do coletivo Razzo Records se revezando em performances que mexeram com as estruturas do racismo e de preconceitos que porventura ainda permeassem relações na unidade prisional. Foi uma catarse, que resultou na participação de dois reeducandos – uma mulher e um homem – dividindo o palco com os MCs em uma música. “Esse é o RAP. Essa é a expressão da força da poesia, que leva pessoas a simplesmente quererem dizer o que pensam”, afirma o MC Magrão, parabenizando a dupla.

Além do grupo de RAP, que transmitiu diversas mensagens de resgate e autoestima em forma de música e poesia para os reeducandos, o evento também teve palestras, com a ativista do Movimento Negro Unificado, Maria Domingas, uma referência local nas questões étnico-raciais. Outras palestras ocorreram ao longo do dia. Delliana Ricelli Ribeiro da Silva, coordenadora da Rede Feminista e participante do Movimento Negro Unificado de Itabuna falou sobre Racismo Institucional; Jeanes M. Larchert, Professora da UESC, falou sobre Orixás. Outras apresentações culturais foram apresentadas pelo ativista Pedro Albuquerque.

Houve ainda distribuição de comida cultural e afetiva baiana (acarajé) para todos os participantes. O encerramento teve uma roda de Capoeira. O Colégio Estadual Adonias Filho se fez presente, com banners que retrararam personalidades negras ao longo da história, bem como nas expressões e performances levadas ao público pelos seus discentes.

RAP no CPI

A ideia de levar o RAP ao 20 de Novembro do CPI começou com a visita, há duas semanas, do rapper Mano Brown a Itabuna, para receber o título de Doutor Honoris Causa concedido pela Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). Até ali, em que pese toda a importância histórica, a visita seria mais um ato que talvez não fizesse diferença para as pessoas em situação de cárcere. “Mas, era ‘o’ Mano, e quem já viveu em uma periferia entende o peso daquela agenda. E praticamente todos os que se encontram em privação de liberdade provêm da periferia”, analisa a educadora da Socializa no Conjunto Penal de Itabuna, Rute Praxedes.

Ela conta que, quando relatou, em sala de aula, a emoção que viveu no evento com Mano Brown, seus reeducandos logo despertaram a vontade de ter contato com a música que mais se conecta com a juventude periférica – que também é negra em sua maioria. Em outra sala de aula, do projeto Relere, a promotora de justiça Cleide Ramos, logo em seguida ao dia à visita de Mano Brown, promoveu uma oficina de RAP e Hip Hop para os alunos do projeto, fazendo crescer ainda mais o interesse por um evento com essa expressão cultural no Dia da Consciência Negra. “Buscamos essa parceria com a Razzo Records e o resultado aconteceu”, afirma o gerente da Socializa, Yuri Damasceno.

 

 

Oficinas

O diretor do Conjunto Penal de Itabuna, Bernardo Cerqueira Dutra, afirma que o evento inovador teve como objetivo incentivar o gosto pela poesia engajada entre os estudantes das escolas anexas das redes municipal e estadual no CPI. “O objetivo, para o próximo ano letivo dos projetos de ressocialização, é oferecer oficinas de RAP e Hip Hop nas aulas de leitura, a partir de sugestão da promotora Cleide Ramos, em consonância com o Setor Pedagógico da Unidade”, declara o diretor.

Para o pedagogo Saulo Andrade, o RAP é a expressão poética da periferia, e é um estilo que encontra grande ressonância na nossa população. “Em 2024 vamos ter oficinas, que certamente vão revelar, quem sabe, novos MCs, mas que com certeza darão aos nossos estudantes novas ferramentas para expressão de seus sentimentos, suas angústias e alegrias em forma de arte”.

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