Adylson MachadoQuando o tema se esgota em si mesmo, um rodapé pode definir tudo e ir um pouco além.  

Adylson Machado

                                                                              

Reforma administrativa

Ainda que não traduza ao munícipe a confiança que deveria nortear o processo de reestruturação do primeiro escalão, o Prefeito José Nilton Azevedo demonstra finalmente pretender alguma coisa. No entanto, as nomeações para a Saúde e Hospital de Base não conseguem sinalizar que as alterações sejam estruturais. Não pode ser esquecido que embates internos, como o controle dos recursos da Saúde, se não forem superados em definitivo maquiarão qualquer tentativa de mudança.

Não basta nomear, mas extrair os tumores pela raiz. Que são muitos.

Antônio Vieira

vieiraO imbróglio na transmissão de cargo na Saúde de Itabuna (ver) deixa uma vítima: a morte de qualquer projeto político acalentado por Antônio Vieira. O desgaste torna-se pá de cal nas futuras pretensões do conceituado médico no Município, difícil de ser superado.

Para o observador não deixa de ser estranho que um itabunense não possa gerir a Saúde itabunense. Nem falemos em Paulo Bicalho, mas dos muitos profissionais da Medicina ou da Administração local.

Saúde pública não é comércio

Dr. Campos da Paz, reconhecido administrador da rede Sarah Kubitschek, já afirmou que a medicina pública é incompatível com o lucro. O cidadão entenderá como único lucro possível a qualidade que receba do serviço prestado, para o qual contribui através da carga tributária.

Complementaríamos: também não é cabide de emprego.

Um detalhe, quase despercebido

O Brasil, que já foi o maior exportador de café do planeta, detendo 96% do abastecimento mundial, nos idos de 1929 – São Paulo com quase 100% da produção nacional – se debruça sobre o inusitado de importar café do Vietnã (Hélio Fernandes, na Tribuna da Imprensa on line, de 6 de janeiro).

Quando a Bahia importou cacau da África os céus desabaram…

Banda larga

banda largaO Governo Federal aprofunda a proposta de internet a preço popular, desenvolvendo política de governo voltada para a universalização da inclusão digital, coordenada pela nova Telebrás. O Ministro das Comunicações anunciou a Secretaria de Inclusão Digital. Os sinais se evidenciam com a nomeação de Cezar Alvarez, principal responsável pelo Plano Nacional de Banda Larga, ex-coordenador do Programa de Inclusão Digital da Presidência no Governo Lula como Secretário Executivo do Ministério.

Os interesses vários trabalharão contra a iniciativa. Em jogo o controle da mídia digital por alguns poucos grupos. Como ainda ocorre com a analógica.

Hoje o que está aí pode ser traduzido como a venda de carne de pescoço como filé mignon.

 Saúde

Um sistema de metas é o que pretende o Ministro da Saúde Alexandre Padilha, através de contratos de gestão com metas fixadas a partir de indicador nacional que será pactuado entre União, Estados e Municípios. Detalhes em www.advivo.com.br/blog/luisnassif – “As metas no Ministério da Saúde”, a partir de Caio Junqueira, do Valor, em 04.01.2011.

A estratégia se inspira na própria realidade do SUS, por sua dimensão federativa, acentuando o Ministro a defesa em torno da regulamentação da Emenda 29, que delimita obrigatoriedade de ampliação de repasses dos recursos federais para a Saúde, baseados na variação nominal do PIB aproximando a União do percentual de 5% da arrecadação tributária por cada ano, tendo por parâmetro o de 1999.

Considerar que o atual Ministro da Saúde foi Secretário de Relações Institucionais, com função específica de articular a política do governo com Estados, Municípios e Congresso Nacional.

Há sinais de reedição daquela “articulação” no âmbito da Saúde e os anunciados contratos de gestão, respeitando as desigualdades regionais, contemplando um mapa nacional das necessidades da área, demonstram, além do propósito, um desafio.

Educação

O Ministro Haddad pretende ensino médio em tempo integral, estudantes com formação profissionalizante em turno complementar e um concurso nacional para professor a partir de 2012, que o habilitará para ministrar aulas em qualquer unidade da Federação. Ou seja, um professor do Paraná pode ser requisitado por uma prefeitura baiana, que o trará baseando-se no seu desempenho. Claro que o deslocamento do professor ocorrerá se a remuneração convier.

O Professor e a reforma ortográfica I

Na internet (http://www.acordarmelhor.com.br/) a proposta do Professor Ernani Pimentel para simplificar a recém-chegada reforma ortográfica, disponibiliza um manifesto para ser subscrito pelo internauta visando melhorar o que aí se encontra.

Lembramo-nos de duas obras do pernambucano Nestor de Holanda, descobertas na Livraria Cairo, em Vitória da Conquista, nos idos de 1965: “Analfabetismo ao Alcance de Todos” e “A Ignorância ao Alcance de Todos”, ambas hilárias.

No “A Ignorância…” pontuava que a complicação e as renovações gramaticais somente seriam superadas no dia em que os gramáticos dispusessem de um piso salarial que lhes assegurasse a sobrevivência digna. Dizia-o no plano da gozação, porque, para ele, tanta mudança só encontrava um sentido: vender publicações. (Que diria hoje com as obras voltadas para Exame da OAB?).

O Professor e a reforma ortográfica II

Temos o sentimento particular de perda irreparável com o assassinato do trema, banido da língua portuguesa, em que pese respeitado quanto à estrangeira. E nem se fale na confusão em que se tornou o hífen, suprimido aqui e permitido ali.

Ao Professor Ernani Pimentel fica a sugestão: um manifesto pela regulamentação da profissão de ortografista da Língua Portuguesa. Talvez estanquemos as reformas. E promovamos uma contra-reforma, perdão, contrarreforma.

E a propósito do hífen, a lição de Bule-Bule

Nássara I

sebastião nery nassaraDois traços nos causam atração particular: Nássara (1910-1996) e Henfil (1944-1988). O inconsciente talvez ponha em evidência a contradição entre o expressado pelos dois: enquanto Henfil traça pela quase unicidade da linha, de conteúdo fimbrio, assegurando vida ao quase nada (como no Fradim), Nássara desnuda o gordo/quadrado, geometrizado em esferas, cones e ovóides que se combinam, onde beberia um Botero. Seu desenho exercita uma técnica próxima do logotipo ao explorar a riqueza geométrica.

Em suas incursões pela música nos fica eternamente a marcha carnavalesca Alá-lá-ô, em parceria com Haroldo Lobo, de 1941, provavelmente o seu maior sucesso.

O anedotário político de Sebastião Nery (aqui retratado pelo próprio Nássara) encontra apoio no traço que fixa na abstração real a fisionomia dos caricaturados políticos do texto neriano.

Nássara II

getulio nassaraÀ disposição o livro “Nássara Passado a Limpo”, do historiador e músico Carlos Didier, pela José Olympio, para comemorar a centúria do grande cartunista. O inusitado: lançado para o centenário já o havia ultrapassado, quando Didier descobriu a certidão de nascimento do biografado acusando o seu nascimento em 12 de novembro de 1909 e não 28 de dezembro de 1910 como se imaginava.

Aqui, um dos clássicos políticos retratados por Nássara.

Aniversário

AdeildoDo produtor cultural Ari Rodrigues http://arirodrigues.blogspot.com recebemos matéria sobre o aniversário de Adeildo Marques (70 anos), presidente do Clube dos Poetas do Sul da Bahia.

A propósito, a turma da poesia, tratada a pão e água, como a cultura local, pelo Presidente da FICC, é mais uma parcela indignada com a SNA – Síndrome da Necessidade de Aparecer de Cyro de Mattos.

Aplausos externos, silêncio interno

A chula encontra sua Geografia física na região de Santo Amaro da Purificação e poderíamos lembrar de “A Massa” (Raimundo Sodré e Jorge Portugal), como expressão mais fácil de reencontrar seu ritmo no imaginário (há uma leitura rítmica de Seu Jorge, que sustenta a originalidade na divisão de voz, não nos recursos de arranjo e acompanhamento. Tânia Alves também a gravou, com toque próprio). Integra a cultura da terra de Dona Canô e cercanias, sustentada nas tradições africanas ali eternizadas.

Enquanto desconhecemos sua importância os nórdicos de Copenhague com ela se embevecem, através do “Samba Chula de São Braz”. Melhor do que falar é ver e ouvir. E dançar.

Prejuízo I

Um comerciante da área de alimentação confessa: neste dezembro vendeu 1.000 refeições a menos, comparando com 2009. Motivo: cancelamento de dezenas de reservas de mesas de 30, 40 até 70 pessoas por causa do não-recebimento de 13º da Prefeitura e de hospitais locais. Pessoalmente encontramos restaurantes vazios em pleno pique dos festejos e uma cidade vazia, com cara de cemitério nos feriados.

Os prejuízos não ficam por aí. Uma contribuição negativa se encontra sedimentada há anos: ausência de qualquer programação festiva que atraia visitantes da região e mantenha o itabunense em sua cidade. As perdas se aprofundam, inviabilizando, inclusive, a economia informal.

Prejuízo II

O secretário Carlos Leahy, anunciava, eufórico, a Ederivaldo Benedito, no primeiro “Fórum de Debates” do ano, da TVI, a implantação de uma gama de indústrias e casas comerciais para breve. Temos, no entanto, que não solucionará problemas como o do dono do restaurante e de uma parcela da população até que os entes públicos ou a ele vinculados cumpram tempestivamente com suas obrigações trabalhistas e assumamos nossa dimensão de pólo de atração, deixando de alimentar este complexo de vira-lata recentemente assumido diante de Ilhéus.

Temos fontes promissoras: programar festejos, recuperar o folclore, promover atrações para o mês de dezembro, valorizar os bairros. Itabuna não é somente Shoping Jequitibá e Avenida do Cinqüentenário.

Só então evitaremos que o dinheiro aqui ganho pela massa trabalhadora seja gasto com a cerveja em Ilhéus quando aqui tantos também vendem a loura.

Telefonia x privatizações

A Oi, Vivo e assemelhadas são fruto do processo de privatizações promovido à sorrelfa como solução divina sob FHC. Em que pese às claras foi vendido como milagre, daí o ardil, esquecidos os aumentos da tarifa (o primeiro fez elevar de 1,90 para quase 13,00 a assinatura, no início de 1995).

Quando a tecnologia avançava e conquistava a telefonia fizeram-na confundir com a privatização e o acesso como parte do milagre. Ninguém ponderou sobre o custo do minuto e quejandos.

Disseram quebrar o monopólio estatal e, no entanto, dividiram o bolo instalando “monopólios regionais”: Norte e Nordeste para A, Sul para B, Sudeste para C e por aí criados os feudos. Quando ocorria um problema técnico caía-se de pau sobre o governo – inoperante e ineficiente para os críticos.

Um incêndio nas instalações da OI em Salvador ainda nos causa problemas. E prejuízos para o consumidor dos serviços. Na esteira a internet.

Mas ninguém diz nada.

Chumbo grosso I

“Ministério das Comunicações garante aos herdeiros dos acionistas da Televisão Paulista (hoje, TV Globo de SP) o direito de vista aos processos que transferiram o controle para Roberto Marinho, com base em documentos falsos e anacrônicos” é o título de matéria assinada por Carlos Newton na Tribuna da Imprensa on line de 5 de janeiro. Por si já diz tudo.

Para os que não acompanham o fato, tramita judicialmente uma ação anulatória pretendendo o retorno do patrimônio aos herdeiros, que já haviam buscado a documentação dita falsificada com pedido protocolado desde 2008. Enquanto Hélio Costa foi Ministro, nada. Agora a coisa parece andar.

Chumbo grosso II

Quanto aos desdobramentos… Até agora a Globo tem conseguido decisões espatafúrdias e mantido a Globo de São Paulo, que responde por 50% de seu faturamento. Em que pese o Ministério Público entender que há fortes indícios de fraude, como falecidos outorgando mandato datado de antes de 1965 incluindo número de CPF, quando ainda nem mesmo existia o cadastro.

Por essas e outras talvez a razão por que ninguém da Globo compareceu à posse de Dilma. Não é à toa que o JN no Ar já começou a voar pelo Brasil. O mesmo que durante a campanha mostrava somente o que não prestava. A novela será reprisada. Esperem para ver e não esqueça o leitor que DE RODAPÉS E DE ACHADOS profetizou a futura programação: bater no governo Dilma sem dó nem piedade.

O JN no Ar é o caminho. Contará com o Judiciário… Leia-se, a morosidade do Judiciário.

Se a moda pega!

globo“Globo multada por atentar contra a privacidade”, matéria editada por http://www.advivo.com.br, neste 8 de janeiro. A multa de 2,6 milhões decorreu de descumprimento à ordem judicial que determinava a retirada de imagens hospedadas em blogs da Platinada, em ação proposta em 2002.

Se a moda pega!

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Cantinho do ABC da Noite

caboco“Zé” – tradicional diminutivo, apócope de José – presente no imaginário brasileiro, assume especial contorno no professoral “ABC da Noite”. Ali se esconde o “Zé” na verve alencarina e por ele expressa as mazelas de todos Zés, ou todas as mazelas dos Zés. Como o boteco é escola, dispõe de um quadro-de-giz onde escritas as lições para os alunos, sempre assinadas por um “Zé”.

Nele as mais várias manifestações do Filósofo do Beco do Fuxico, manuseando frases e significados, semantizando a vida humana. Como aquela parodiando a sinceridade e a transparência:

 “Minha vida é um litro aberto” – Zé Caninha.

Ou esta metaforizando a classe política:

“Se Amazonas é o pulmão do mundo, Brasília é o intestino grosso” – Zé Romeiro.

Depois de tudo

Rir pra não chorar!

traçastraçosAdylson Machado é escritor, professor e advogado, autor de “Amendoeiras de outono” e ” O ABC do Cabôco”, editados pela Via Litterarum