Lágrimas, sorrisos, discursos emocionados e muita empatia marcaram a primeira aula do semestre 2024.1 da Universidade Federal do Sul da Bahia para os estudantes privados de liberdade que cumprem pena no Conjunto Penal de Itabuna. A aula, que já valeu como primeiro encontro para a carga horária do semestre, teve explanação de professores, depoimentos de estudantes e mensagens de boas-vindas das autoridades.

O secretário José Antônio Maia Gonçalves, titular da Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização, enviou mensagem por vídeo aos estudantes – calouros e veteranos -, na qual parabenizou a todos pela conquista, desejando sucesso no novo semestre.

A reitora Joana Angélica foi a primeira a se emocionar, ao falar dessa grande conquista para todos os estudantes privados de liberdade. “Não tem como não se emocionar”, justificou. Ela disse que lembrou de sua própria trajetória, já que veio de uma família que enfrentou a pobreza, mas hoje colhe os frutos das oportunidades que agarrou ao longo da vida.

“Nunca me imaginei nessa posição de reitora de uma universidade federal, mas o fato é que aqui estou, porque agarrei as oportunidades que apareceram. E é isso que gostaria que vocês fizessem: agarrassem essa oportunidade, porque estamos nos colocando como parceiros de vocês”.

Na mesma linha foi o diretor da Unidade, Bernardo Cerqueira Dutra, que destacou “o poder transformador da educação”. Dutra afirmou que o conhecimento é um bem que não pode ser tirado deles por ninguém. Quem também destacou a importância da conquista e o poder da Educação foi o presidente da OAB-Subseção Itabuna, Rui Carlos. “O conhecimento é a maior riqueza que podemos adquirir, aquela que vai conosco para o túmulo”.

 

 

Quem também se emocionou foi a promotora de Justiça que atua junto à Vara de Execuções Penais, Cleide Ramos. Ela elogiou a UFSB pelo olhar acolhedor e disse que a política de inclusão da universidade está transformando a sociedade itabunense.

“Essa universidade veio para fazer uma transformação social profunda. Desde 2015, quando cheguei, até hoje, observo uma grande mudança na mentalidade da cidade. Vejo que a UFSB tem um grande papel nessa mudança, com sua política de inclusão e acolhimento das minorias, colocando a filha da empregada doméstica para dentro da academia”, pontuou a promotora.

“Outro mundo”

Os estudantes foram chamados a falar sobre a experiência de estarem cursando o ensino superior, e todos relataram, além da gratidão aos professores, colaboradores da Socializa e à direção da unidade, a força de vontade que os moveu para estarem ali. “A vida no cárcere é complicada, mas se pegarmos de cada um algo de bom, o resultado é esse: estamos na Universidade!”, resumiu um dos reeducandos.

Outro emendou, dirigindo-se aos calouros: “nunca li tanto em minha vida como leio aqui na privação de liberdade. Mas quando entrei na universidade, leio três vezes mais, mas é muito bom! A nossa cabeça se abre de uma maneira que nunca experimentamos. É outro mundo”, declarou.

O Conjunto Penal de Itabuna possui 12 alunos na UFSB, que iniciarão o terceiro semestre. Este ano foram aprovados outros 72 reeducandos na universidade, que estão, em sua maioria, em processo de matrícula.