“Se Vane quiser sair do PT, não criaremos caso”

GSA informação que circula nos meios políticos de Itabuna é que o município não tem as obras que de que necessita porque forças contrárias, notadamente o deputado Geraldo Simões, trabalhariam para boicotar a cidade, barrando investimentos. Essa semana, o deputado explicou, em entrevista ao Agora, a situação do município em relação aos investimentos do governo federal. Simões falou ainda sobre temas como eleições municipais, gestão Azevedo, relação com governo estadual, crise do cacau entre outros, além do caso Vane. “Vane tem todo o direito de querer ser candidato pelo PT. O partido já tem a pré-candidatura de Juçara, então ele teria que disputar a prévia. Mas, se ele entender que deve sair, não criaremos caso, não vamos requerer seu mandato. Ficar ou não, com mandato ou sem mandato, é uma questão de foro íntimo”.

Como o senhor analisa a atual gestão municipal e o que tem feito em Brasília por Itabuna?

O prefeito Azevedo não está tendo competência para gerir a cidade. O problema de Itabuna se resume à falta de gestão. Fiquei decepcionado quando o governador esteve em Itabuna, e o prefeito apresentou como demanda a limpeza dos canais. Ora, limpar canal é algo tão básico que não se pede ao governo do estado. É preciso, para governar um município como Itabuna, pelo menos saber pedir. Em Brasília tenho lutado pela infraestrutura da região, a duplicação da Ilhéus-Itabuna, a melhoria das estradas federais, além de assuntos da Bahia como um todo e do Brasil. Mas, para Itabuna e região, meu mandato está mais focado na melhoria da infraestrutura regional.

O que se fala é que, em relação a Itabuna, o senhor trabalha para boicotar os repasses federais. Como o deputado explica isso?

O fato é que aumentaram muito, mas muito mesmo, os repasses para Itabuna. Como nós temos um governo com dificuldade de gestão, que não conhece as reais necessidades da cidade, termina que vem menos para Itabuna do que o município teria direito de receber. Por exemplo: nesse período do governo Azevedo, em obras importantes para a infra-estrutura, como barragem, canal, posto médico e outros, Itabuna recebeu R$ 81.859.811,77. Nunca Itabuna recebeu tanto dinheiro da União como nessa gestão de Azevedo. Isso sem falar no programa Minha Casa, Minha Vida, que investe mais R$ 136.681 milhões. Estamos falando aqui R$ 240 milhões, que impacta diretamente na economia, com a contratação de mão de obra, compra no comércio, utilização de serviços.

E o que faltaria então, já que a cidade bate recorde de arrecadação de verbas junto ao governo federal?

Veja que a cidade recebeu muito mais dinheiro do que qualquer prefeito. Mas é claro que a cidade precisa de muito mais verbas. Mas, cadê os projetos? Cadê a iniciativa política? Tem que saber o que é importante para a cidade e pedir certo ao governo do estado, à presidenta Dilma e aos ministros do governo. O que falta é o município se organizar para buscar esse dinheiro.

Há duas semanas o município anunciou a ampliação de casas populares, que seriam construídas na área do aeroporto Tertuliano Guedes de Pinho. Qual sua opinião sobre esse anúncio?

Itabuna tem uma área de quase 500 quilômetros quadrados. Por que escolher justamente uma área em cima do aeroporto da cidade? Esse aeroporto é muito importante, só precisa ser recuperado. Ele é importante para voos regionais, que é um filão em franco crescimento na aviação nacional. Você já pensou na utilidade de um aeroporto desses para a saúde, com a possibilidade de remoção de pacientes por uma UTI aérea? Não podemos receber sequer autoridades que queiram vir para aqui e são obrigados a descer em outras cidades.

Recentemente a Comissão de Agricultura da Assembleia se reuniu em Itabuna e ouviu de produtores o pedido de anistia das dívidas do cacau. A gente sabe que o senhor é contra essa anistia…

Entendo que o cacau é o melhor cultivo que alguém pode querer. É uma planta que passa 100 anos colhendo. O consumo de chocolate está crescendo, o preço está melhor, tem o apelo ambiental e tem um plano bom para quitação das dívidas, com desconto de 50% para os grandes e 80% para os pequenos produtores. Agora, governo nenhum vai falar em anistia de dívidas, mas o que está sendo feito, sem que se dê esse nome, é a anistia, de metade para os grandes e 80% para os pequenos, com um prazo de 20 anos para pagar. Eu recomendaria que os produtores procurassem o Banco do Brasil, o Banco do Nordeste e a Desenbahia e renegociassem suas dívidas e pegassem dinheiro novo para custeio e para aumentar a produtividade. Saímos de 100 para 140 mil toneladas/ano, mas sei que podemos chegar, facilmente, somente a região Sul, a 200 mil toneladas, e assim deixar de comprar cacau da África para atender a demanda das indústrias.

As eleições municipais se aproximam e o que se vê até agora é uma grande indefinição. O PT ainda não sabe qual será o candidato, o prefeito ainda vive dilema quanto ao partido pelo qual vai disputar a reeleição. Como o senhor avalia essa situação?

Eu acho que já existe essa definição, sim. Juçara será a candidata pela oposição, pelo PT e em conjunto com diversos partidos com os quais pretendemos formar uma grande aliança. Para isso vamos buscar os partidos da base de nosso governo federal, o que inclui o PMDB. E tem o prefeito, que é filiado ao DEM. Ele está na contramão da Bahia e do Brasil, mas é filiado a esse partido. Então, essee é o quadro, que já está definido, em minha opinião.

Mas o PT terá que conviver com o “problema Vane”, que quer ser candidato e que pode, até, mudar de partido para isso…

Todo mundo tem direito de querer. Lembro que em 2002, Lula era candidato, fortíssimo nas pesquisas, e Suplicy também queria. O partido fez uma prévia, Lula venceu e partiu para a eleição para presidente. Aqui em Itabuna, em 2008, Juçara era candidata e um militante histórico nosso, muito importante para nosso partido, que é o Iruman Contreiras, tinha o desejo de ser candidato, apresentou o nome dele e os filiados foram lá e decidiram que a candidata seria Juçara. Se o Vane tem esse sonho, esse projeto de se candidato a prefeito de Itabuna, ele tem todo o direito de apresentar o nome dele e o partido, através de seus filiados,vai escolher quem será o candidato. Eu vou votar em Juçara.

Se Vane mudar de partido, com vistas a ser candidato, o PT vai requerer o seu mandato de vereador?

A permanência de uma pessoa, com mandato ou não, dentro do partido, é uma decisão de foro íntimo. Não pensamos em tomar seu mandato, caso ele queira sair do partido para ser candidato. Isso é o de menos. Nós apoiamos Vane em várias eleições, e olhe que o PT já ajuda Vane mesmo antes de ele ser do partido; ele trabalhava com Juçara, na secretaria [de Desenvolvimento Social]. Assim como apoiamos a sua fundação, que é muito importante em Itabuna, que é a Fundação Renascer. Então essa é uma questão de foro íntimo e ele tem todo o direito de fazer uma reflexão do que é o melhor para ele, se é continuar no PT, ser candidato e disputar com Juçara a preferência do partido, se continuará sendo candidato a vereador pelo Partido dos Trabalhadores ou, até mesmo, se seu coração assim o disser, procurar outra agremiação. Quero dizer que de nossa parte não haverá dificuldade alguma.

Recentemente foi noticiado que o senhor procurou diversas lideranças políticas, algumas até ligadas ao fernandismo, visando as eleições de 2012. O PT está aberto a tantas adesões assim?

Estamos, sim, conversando com todas as forças políticas de Itabuna. A gente está vendo diversos investimentos indo para Ilhéus, como um porto, um aeroporto, uma ferrovia e uma ZPE, vemos também Vitória da Conquista se transformando, Eunápolis, Teixeira, Santo Antônio de Jesus se desenvolvendo e Itabuna estagnada. Não queremos isso, e estamos conversando, eu Juçara e o PT, com as diversas forças políticas da cidade, sem importar a que partidos pertençam. Estamos procurando todas as personalidades, instituições e partidos que se preocupam com Itabuna. Não podemos é aceitar que nossa cidade continue nesse caminho em que está.

O senhor não tem defendido uma posição em relação aos limites entre Itabuna e Ilhéus. O que o pensa disso?

Os limites de Itabuna e de Ilhéus foram estabelecidos em 1910, há um século, portanto. Ilhéus é uma cidade-irmã, importantíssima para nós e para a região, e não dá para ficarmos desperdiçando energia com essas brigas. Precisamos dar um salto além. Por que, em vez de ficar falando em mudar limites, em anexar o Salobrinho a Itabuna, Inema a Coaraci etc, a gente não pensa em criar uma região metropolitana, com cada município desenvolvendo sua vocação, se especializando nas diversas atividades e todos cuidando dos problemas comuns, a exemplo do tratamento do lixo, a questão do transporte interurbano? Então, prefiro discutir soluções para as duas cidades do que ficar procurando briga com Ilhéus ou com outro município qualquer.