Em dezembro de 2018, um grupo de seis estudantes do SESI Bahia foi convidado a participar de um novo desafio de robótica educacional: o Fórmula 1 nas Escolas (F1 In Schools, na sigla em inglês). Era o começo de uma aventura que eles não tinham ideia do quanto iria transformar suas vidas.

A proposta era, em três meses, montar um projeto de empreendedorismo, estudar conceitos de aerodinâmica e engenharia automotiva para construir um carrinho de corrida para fazer bonito no Festival Nacional de Robótica, organizado pelo Serviço Social da Indústria (SESI).

Foram envolvidos no projeto o professor de Robótica Robson Nunes, técnico da equipe, e os estudantes Beatriz Mota, líder, Beatriz Valongo, diretora de finanças, João Victor Dias, designer de engenharia, Geovane Santos, responsável pela captação de patrocínio e divulgação, Franciele Moraes, diretora de Marketing e RP e Ícaro Canela de Almeida, o engenheiro de manufatura.

No Festival SESI de Robótica, que aconteceu no Rio de Janeiro e reuniu competidores de todo o Brasil, no mês de março, a equipe não apenas fez bonito. Voltou da competição colecionando prêmios – foram cinco no total – e trazendo para a Bahia o lugar de campeã nacional da competição. A aventura, que ocupou as tardes de Verão da equipe – já que entre dezembro de 2018 e março deste ano, em vez de sol e praia, eles preferiram passar as tardes na escola se preparando para o torneio nacional –, virou um desafio muito maior.

ETAPA INTERNACIONAL

Ontem (20), os campeões da Escola SESI Reitor Miguel Calmon, localizada no Largo do Retiro, em Salvador, vão embarcar para uma aventura ainda mais emocionante, em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes. Além de representar o Brasil na etapa mundial do F1 In Schools, eles vão estar cara a cara com a elite da Fórmula 1 internacional e poderão conhecer como funciona uma prova de velocidade na modalidade esportiva que teve no brasileiro Airton Senna um dos seus principais ícones.

Mais que isso, eles voltarão da viagem trazendo uma experiência única na bagagem e aprendizados que ficarão para toda a vida. A gerente de Educação e Cultura do SESI Bahia, Cléssia Lobo, explica que para o SESI Bahia, ver seus estudantes chegarem tão longe é resultado de um esforço coletivo que tem como origem uma metodologia e um processo educacional que precisa ser celebrado. Ela destaca o importante papel de cada profissional envolvido na rede de apoio que permitiu que os estudantes conseguissem se preparar para uma competição internacional.

Ela destaca o comprometimento da equipe pedagógica, incluindo coordenação, direção da escola SESI Reitor Miguel Calmon, equipe técnica de robótica e professores como parte deste esforço coletivo. "Nós investimos para oferecer aos nossos estudantes a oportunidade de competir em igualdade com as equipes dos países mais avançados porque acreditamos que é a educação que transforma e leva as pessoas a se desenvolverem. Os nossos estudantes vão para uma competição, mas o que nós, educadores, acreditamos é que eles estão em processo de aprendizagem e que esta experiência irá somar para a construção do conhecimento nas habilidades que o futuro da educação exige que é protagonismo, capacidade técnica e criatividade", complementa.

Os aprendizados são muitos. Geovane explica: “Tenho 17 anos e aprendi que precisamos sempre ir atrás do que queremos e não nos deixar abater por um não”, revela o jovem, que descobriu também o quanto gosta de finanças e matemática e agora sonha em fazer licenciatura na disciplina. Responsável pelo disparo do carrinho de corrida na competição, Geovane diz estar preparado. “Tenho consciência do desafio que é participar de uma competição internacional, mas treinei muito e confio na minha capacidade. Vou tirar de letra”, declara, com autoconfiança.

Mais jovem integrante da Sevespeed, Ícaro é o único da equipe de 2019 que vai continuar na escola em 2020, já que ainda está terminando o 2º ano do ensino médio. Sua missão daqui para a frente vai ser compartilhar todo o aprendizado com os novos integrantes da Sevespeed, que há alguns meses já acompanham os treinos da equipe. “Pretendo passar a experiência para os novos meninos e a experiência internacional porque acho que vai agregar muito para a equipe”, explica Ícaro, que ganhou a vaga de engenheiro por se interessar por tecnologia. “Não tinha nenhuma noção de engenharia automotiva, só gostava da ideia de estudar o assunto e comecei a aprender sobre o processo e engenharia”, explica o jovem, que se sente mais “adulto” depois de tudo o que viveu e está vivendo na equipe. “A gente aprende a saber lidar com pessoas”, explica.

 

OPORTUNIDADE

Ícaro, que até o ano passado não tinha noção de que carreira seguir, agora já sabe que quer fazer engenharia mecatrônica. Em uma palavra ele sintetiza o que representa fazer parte da Sevenspeed: “oportunidade”.

Para Beatriz Valongo, a experiência com finanças fez com que ela passasse a contribuir mais para a gestão do orçamento da família. “Aprendi muito mais como controlar o dinheiro e fazer ele render para conseguir abranger todos os gastos, saber no que se está gastando e como”, detalha a estudante. Com o aprendizado, sonha fazer engenharia de produção. “Descobri que gosto dessa parte de finanças e controle de produção”, complementa.

Já Beatriz Mota exercitou com sua voz tranquila, mas assertiva, a função de liderança. “Tudo aconteceu muito rápido. Foi um ano de grandes mudanças: estou terminando o ensino médio, realizando esse sonho de ir para um torneio internacional, atingi a maioridade. A Sevenspeed e o F1 me ensinaram a lidar com tudo isso e aprendi que a pressão se combate com foco e tranquilidade”, revela Beatriz. Sobre a experiência de liderar, ela aprendeu que mesmo que haja limitações, pessoais ou profissionais, “o importante é saber lidar com as diferenças”.

Na função de liderança, ela teve que apoiar os colegas nas diversas áreas. Com isso, acredita que todos amadureceram juntos. Outro ganho, na avaliação dela, foi o fortalecimento da amizade entre os integrantes. “A gente está junto o tempo todo, inclusive nos finais de semana”, conta. E o futuro? Para Beatriz, no momento, é entrar no curso de engenharia mecânica e seguir em frente.

João também acredita que a experiência na equipe Sevenspeed o levará ainda bem longe. Designer da equipe, ele se prepara para ingressar na universidade para cursar engenharia automobilística. “A competição de F1 me ajudou a decidir o que quero fazer para o resto da minha vida”, revela, acrescentando que se tornou mais responsável e aprendeu a focar no aprendizado para atingir seus objetivos. “Estou confiante e sabendo que a gente deu nosso melhor”, complementa João.

Para Franciele Moraes, participar do torneio internacional representa também uma “oportunidade única, rica em conhecimento e experiências”, destaca. “É algo que eu não esperava e sinto orgulho de cada um que fez parte dessa história, da qual eu pude participar com muito ânimo e alegria”.

Orgulhoso com as conquistas individuais de seus alunos e tudo o que superaram para chegar até aqui, o professor Robson Nunes conta o que significou para ele embarcar nesta aventura. “Foi para mim também um novo desafio. Não conhecia esta modalidade (F1 In Schools) e tive que mergulhar fundo nas regras, ponto por ponto, junto com a equipe”, explica. Para ele, 2019 acabou sendo um ano de muito trabalho e a expectativa que “só não são maiores do que o orgulho de estar indo representar a Bahia e o Brasil e ver também estes alunos crescendo e  serem transformados pela educação. O brilho nos olhos, a vontade de vencer deles nos enche de orgulho. É maravilhoso”, complementa o mestre.