Adylson Machado

Adylson MachadoO PMDB encena como exponencial protagonista o que há de pior no teatro político, com atores outros presentes na coxia. Não porque os tablados não admitam o espetáculo, mas pela inoportuna exibição. Ainda que tido e havido como gato mestre do fisiologismo a alardeada publicidade do que deveria estar no recôndito do pudor dos bastidores o põe a nu, confessando a postura inconfessável: meu negócio é cargo. Não está só, mas se impõe como único.

Ressalvemos, de logo, que não invadimos a seara da ingenuidade para defender purista comportamento de governar com adversários. Desde que Platão e Aristóteles (séc. IV a.C.) declinaram em torno da Política, a Ética e a Moral nela inserida são abstração filosófica. Materializada no concreto do poder, nunca se regeu utilizando-se de inimigos. Assim o fosse, não haveria necessidade de situação e oposição, de defesa e de crítica.

Razão por que não somos ingênuo a ponto de negar o óbvio das relações institucionais entre o Legislativo e o Executivo, amparadas na semântica da governabilidade. Que, em singela tradução, nada mais é do que SOU vereador, deputado ou senador e, portanto, QUERO cargos para minha mulher, meu filho, meu compadre, meu amigo. Esta a primeira fase. A segunda, só votar neste ou naquele projeto se liberados recursos orçamentários (do povo, portanto) para MEU bairro, MEU estado e, comumente, MINHA ONG ou associação e, muito mais comum, para as obras que serão realizadas pela EMPRESA que financia a MINHA campanha. A defesa da comunidade é álibi para a apropriação privada do dinheiro do povo.

Nessa esteira se implanta e se espalha a chaga do patrimonialismo. O que deveria ser munus da representação – apenas remunerada para atender à sobrevivência – se torna NEGÓCIO DE FAMÍLIA.

Mas, retomando a prosa, ainda que sabido e consabido, o PMDB nacional exercita o lamentável espetáculo no início do governo Dilma com a ameaça de que se não obtiver os cargos em nível de segundo escalão o Governo não encontraria seu apoio, ainda que no discurso do me engana que eu gosto afirme estar preocupado apenas com a melhoria no salário mínimo. E o faz justamente no instante em que a Presidente defende a necessidade de preenchimento de muitos desses cargos por critério técnico, alijando o compadrio em benefício da carreira.

O partido que se ensaia famélico, em nível específico de Câmara Federal, perdeu cadeiras para pequenos de esquerda. Das 287 novas caras no Congresso elementar aritmética sinaliza para uma base parlamentar em torno de 400 congressistas com o PMDB não chegando a 100 Deputados.

Por outro lado, a bancada do PMDB – que a grande mídia (mais preocupada em ser PiG* do que notícia, informação e crítica) oferece ao leitor como uma unidade de pensamento e de interesses – não é essa coisa apresentada. Não descuremos que dois grandes grupos se enfrentam internamente: um, controlado por José Sarney e outro por Michel Temer, leia-se, paulistas. Este, particularmente, tinha em Orestes Quércia uma significativa expressão. Não fora os dois grupos citados, ainda a independência e a autonomia de figuras como Pedro Simon e Roberto Requião. Sem falar nos que se apresentam na oposição como Jarbas Vasconcelos etc.

Há sinais de que Dilma, até o momento, mais se aproxima do PMDB de Sarney, enquanto o PMDB paulista de Temer, acompanhando o passamento de Quércia, definha. Este o retrato do momento.

Por outro lado, como fizemos registrar em outra oportunidade (“Caminhos Menos Ásperos”, DE RODAPÉS E DE ACHADOS, de 2 de janeiro) a pulverização na bancada dita governista, aquela que se constitui a partir da coalizão que elegeu Dilma Rousseff, tende mais a receber dissidentes alheios que tornar-se dissidência. Assim, a tentativa isolada do PMDB não significa, como no passado, o instrumento de pressão ou chantagem tão poderoso como antes, capaz de abalar as colunas da República.

E não se afaste a possibilidade de até mesmo partidos de oposição, buscando conquistar espaço diante do resultado no último processo eleitoral, nada satisfatório especialmente para o PSDB e DEM, venham a configurar uma oposição menos para interesses localizados e mais pela afirmação de suas propostas.

Ainda que o tempo seja o senhor cremos que o PMDB deu oportunidade a que o imaginário da população o tenha como partido de interesses. Em outras palavras, a sua postura o fará estigmatizado com a pecha que é de todos, mas que pela ganância quer assumir sozinho no degradante espetáculo.

Por este caminhar tem mais a perder a médio prazo do que a ganhar com penduricalhos imediatos. Até porque lança para o público a idéia de que ser parte da base de apoio não garante nada, que não é confiável. E este é o pior dos exemplos que pode um partido político oferecer: não ser confiável.

Exemplo nada edificante, que se estende a toda a classe política, com raríssimas exceções.

* Partido da Imprensa Golpista, segundo Paulo Henrique Amorim http://www.conversaafiada.com.br/

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Adylson Machado é escritor, professor e advogado, autor de “Amendoeiras de outono” e ” O ABC do Cabôco”, editados pela Via Litterarum