Apesar de seu posto de autoridade, a juíza Antonia Marina Faleiros, 57, que atua no Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA) há 18 anos, possui uma história destoante da maioria dos que ocupam cargos parecidos. No passado, ela foi empregada doméstica, dormiu na rua e estudou com folhas de apostilas jogadas no lixo.

Em entrevista à Revista Época, a juíza disse: “Eu não sou uma iluminada, uma pessoa com estrela diferente. Não tenho nenhum componente que me diferencie das pessoas. Talvez eu tenha ficado mais noites sem dormir em relação às pessoas ao meu redor, mas isso é a desigualdade. Pregar que não é necessário nenhum tipo de apoio, nenhum tipo de ação que consiga compensar as desigualdades é extremamente perverso. Eu digo que este discurso é somente uma cortina para aplacar a consciência de quem fecha as portas, de quem não estende as mãos, de quem nega solidariedade”.

Antonia ainda fala sobre racismo e defende formas de retribuição à população que não teve as mesmas oportunidades que ela e outros magistrados: “Temos a obrigação de nos fazermos visíveis como representações sociais positivas, capazes de estimular e incentivar as novas gerações. Dizer ‘estou aqui, estamos aqui, somos visíveis, temos esse espaço, há juízes negros’.

A negritude tem um fator de exclusão muito forte no nosso país, há racismo embora disfarçado de piada, mas ele está na formação da nossa mentalidade. Cada vez que for possível desconstruir o discurso, faça”, diz.