O administrador Juvenal Maynart Cunha foi exonerado da direção-geral da Ceplac, em Brasília. Mais do que esperada, a saída do gestor não deveria causar alegria para ceplaqueanos e produtores, principalmente pelo legado que construiu em sua passagem pelo órgão, de 2011 a 2015, na Superintendência da Bahia, até a volta (por cima), em 2017, dessa vez na direção, em Brasília.

Juvenal apostou na Ceplac do futuro, quando a grande maioria dos servidores e até dos produtores só pensavam no passado. Seu maior acerto foi entender “o espírito do tempo”, como sempre diz. “A pessoa, o gestor, que não entende o espírito de seu tempo, já começa derrotado, porque é uma força invencível. Você só vence se aliando ao seu tempo, a esse sentimento de uma geração”, afirma.

Os sinais, diz, já estavam à mostra, ficaram evidentes com a Primavera Árabe e se materializaram, no Brasil, em 2013. “Mudou a forma de fazer gestão pública, e quem não entendeu se deu muito mal. Escolhi desenvolver o novo, e isso ficou claro quando associei a Ceplac à Universidade Federal do Sul da Bahia, e com a iniciativa da criação do Parque Tecnológico do Sul da Bahia, da Ceplac/UFSB/UESC e IFs”, observa.

A ida à direção deu oportunidade de promover uma transformação mais profunda no órgão. Quando assumiu, a Ceplac já havia sido transformada em departamento, e perdido a condição de órgão singular – Decreto 8.852/2016.

“O legado que eu deixo é nada menos do que a singularidade de volta, a organização da cadeia produtiva, junto com os outros atores – indústria e produtores. Mas essa é a parte que está no Diário Oficial, é tangível, assim como o fato de a Ceplac ser o órgão que cuidará de Sistemas Agroflorestais no país. Mas tem algo maior, que é intangível: a credibilidade junto aos organismos internacionais, que voltaram a ver o Brasil como um país produtor que merece fazer parte do grande jogo, novamente”.

Do “tangível”, fica a nova estruturação institucional. A Medida Provisória 870 determina o retorno da Ceplac ‘como órgão singular autônomo’. O decreto nº 9.667 criou cinco novos cargos em sua estrutura de direção, voltados para o fomento de projetos e parcerias estratégicas, e a Medida Provisória 870 deu à Ceplac novas funções e cargos na sua estrutura. Fortaleceu as bases da pesquisa e extensão, com foco na implantação de sistemas agroflorestais, que vão garantir a sustentabilidade futura da lavoura cacaueira.

Juvenal, como sempre faz em seus discursos, dirige um poema ou citação, que traduz o que ele realmente pensa daquilo que trata. Por sua exoneração, mandou à reportagem trecho do poema “Padrão”, de Fernando Pessoa:

“PADRÃO

O esforço é grande e o homem é pequeno.

Eu, Diogo Cão, navegador, deixei

Este padrão ao pé do areal moreno

E para diante naveguei.

A alma é divina e a obra é imperfeita.

Este padrão sinala ao vento e aos céus

Que, da obra ousada, é minha a parte feita:

O por-fazer é só com Deus. (…)”