“Morra quem morrer”. A frase, extremamente infeliz, pronunciada pelo prefeito Fernando Gomes, que repercutiu no Brasil e segue escandalizando a todos, está para virar fichinha. É que, enquanto todos seguem inebriados com as manchetes dos grandes veículos, a satisfazer pequenos prazeres, o prefeito já está lambendo os beiços pela aprovação do projeto de lei 004/2020, que vai permitir a venda da Emasa.

O projeto, que é polêmico por natureza, já teve mudança de relatoria e até decisão judicial determinando sua revogação. Voltou repaginado, mas igualmente perverso. A relatora original, Charliane Sousa, foi retirada da função sob alegação de perda de prazo, o que ela rebate, dizendo que não teve tempo hábil para a leitura de toda a matéria.

A nova relatoria, escolhida ad hoc, carrega como característica o fato de nunca ter assistido a uma sessão sequer que discutiu esse tema, segundo informa a relatora destituída Charliane Sousa. Foram escolhidos os vereadores Chico Reis, representando a Comissão de Legislação, e Alex da Oficina, pela Comissão de Finanças.

Uma curiosidade sobre o edil Alex da Oficina: nunca, jamais, em tempo algum, subiu na tribuna ou pronunciou, em plenário, qualquer palavra que difira das expressões “Presente”, “Não” e “Sim”. Sendo que, às vezes, quando é para dizer “sim” ou “não”, tasca um “presente!”.

Chama a atenção o prazo recorde em que o relatório foi produzido: dois dias, para um projeto de mais de 50 páginas e também mais de 50 emendas.

Mas, o que há de tão grave nesse projeto?

Este é o último obstáculo para o prefeito Fernando Gomes concretizar o antigo sonho de torrar a Emasa no cobre. Ou seja, são as formalidades finais para abrir caminho para a privatização da água e esgoto, sob condições pra lá de favoráveis para o comprador.

Pelo visto, a encomenda é que sequer tenha pelo caminho uma agência municipal reguladora dos serviços de água e esgoto. Preferem que sejam regulados pela Arsepi, que é a agência que já faz a regulação (ao menos no papel) dos serviços públicos municipais.

Como o prefeito tem ampla maioria, só restará o caminho da judicialização, vez que pelo menos os vícios dessa jornada estarão expostos nos anais da Câmara – ou, no caso de hoje, no vídeo da sessão, será transmitida pelo canal da Câmara no YouTube.

Enquanto o “morra quem morrer” vai fazendo seu sucesso Brasil a fora, por aqui, a expressão vai se materializando na forma de um projeto pra lá de prejudicial para toda a sociedade.