Por Walmir Rosário

José Maria Santos, o Nininho, nasceu em Macuco, hoje Buerarema. O primeiro apelido lhe foi dado por uma vizinha, que sempre reclamava quando ele mexia nos ninhos de suas galinhas no quintal. De tanto ele tocar nesses ninhos, essa senhora disse pra sua mãe: “Olha, o nome desse menino deveria ser Nininho, porque ele não aguenta ver um ninho de galinha que quer bulir”.

E naquela bucólica Macuco, Nininho levava uma vida tranquila, como qualquer garoto de sua época, estudando, brincando e jogando futebol. E foi justamente no futebol que ganhou seu segundo apelido: Sputnik, por ser um atacante ágil e habilidoso, como o primeiro satélite russo lançado ao espaço. E assim ele ficou conhecido no mundo futebolístico.

A casa de Nininho ficava em frente a um campinho, na cidade alta, onde jogava com os filhos de sêo Ildefonso Lins – Ernandi, Amail Lismar e Manuel Lins. E ali as pessoas da cidade baixa, viam os meninos jogar, e ele já se destacava. Aos 13 anos, Paulo Portela, diretor do Brasil Esporte Clube, o time forte da época, o colocava na reserva, e sempre o mandava para o jogo. Destacou-se no futebol.

Aos 17 anos, Nininho recebe a indicação do craque Santinho para o Fluminense de Itabuna. Em 1955 veio treinar no Flu itabunense, ano em que já participou do campeonato, mesmo ainda morando em Macuco. Na sua estreia pelo Fluminense marcou muitos gols e se destacou como um dos artilheiros ao lado de Santinho, Humberto César, Carrapeta, Brício, e outros craques.

E o centroavante Nininho, agora, Sputnik, se destacava pelos gols que fazia. Os zagueiros não dormiam direito quando sabiam que iriam marcá-lo no dia seguinte. Era rápido e abusado. Partia para cima dos zagueiros, fazendo o um-dois, tocando e recebendo na frente, até chegar na cara do goleiro. Aí ficava fácil marcar os gols e ser o artilheiro festejado.

E o menino franzino não tinha medo de gente grande. Driblava, marcava gols bonitos, do jeito que a torcida gostava. Craque e ainda por cima artilheiro de gols inesquecíveis. Reconhecido como um craque do futebol itabunense na década de 1950, Nininho ou Sputnik foi convocado para a brilhante Seleção Amadora de Itabuna.

NININHO, O SPUTNIK

E na seleção em 1955, 56, e 57, teve seu melhor desempenho. Em 57 foi quando a seleção realmente se entrosou e ganhou o primeiro Intermunicipal. Na verdade, foi o segundo título de Sputnik no ano, pois ganhara o Torneio Antônio Balbino meses antes. Em 57, foi o artilheiro do campeonato, jogando demais naquele certame. Foi aí que teve oportunidade de ir para o Rio de Janeiro.

Na verdade, em abril de 1957 Nininho teve a grande chance de sua vida, ao ser convocado para a Seleção de Itabuna, para a disputa do torneio Governador Antônio Balbino, do qual se sagrou campeã do certame. O torneio foi uma novidade e encheu de orgulho os itabunenses, pois era a primeira participação da Seleção de Itabuna em uma competição como essa, em Salvador, a capital baiana.

E foi tudo muito especial: se comemorava o aniversário do governador Antônio Balbino e a iluminação do Estádio da Fonte Nova. Festa nacional, com a presença do presidente Juscelino Kubitschek, o ministro da Guerra, Marechal Henrique Lott, e o próprio governador homenageado. E a Seleção de Itabuna tomou conta da festa ao se sagrar campeã.

Em Salvador, na quinta-feira (4 de abril) Itabuna joga contra a Seleção de Feira de Santana, que saiu à frente no marcador, até que Nininho, o Sputnik marca o gol de empate. Decisão por pênaltis, na série de cinco pra cada time, batidos por um só jogador. Na primeira série, 5X5; na segunda, 5X5; na terceira, cinco gols de Santinho e quatro gols de Feira de Santana. Todos os pênaltis de Itabuna foram batidos por Santinho e o goleiro itabunense Carlito pegou um.

No sábado – 6 de abril –, Itabuna disputa a final contra a Seleção de Alagoinhas e vence pelo placar de 2X0, gols do capitão Zequinha Carmo. E aí foi aquela sensação maravilhosa, de ganhar o primeiro torneio. E os jogadores foram condecorados com medalhas pelo presidente da República, o governador do Estado e pelo ministro da Guerra, que entregou a medalha a Nininho.

E a seleção campeã chega a Itabuna num avião da Real e é recebida por uma multidão no aeroporto Tertuliano Guedes de Pinho. Nininho e seus colegas foram tratados como heróis, com o comércio fechado em homenagem à seleção vitoriosa. Na praça Adami, palanque e muitos discursos. Os jogadores se sentiam queridos pelos torcedores. Uma vitória inesquecível para Nininho.

O reconhecimento financeiro pela vitória chegava em forma de presentes, oferecidos pelos dirigentes, já que como amadores não recebiam salários. Aos atletas eram oferecidos empregos, para que pudessem conciliar a prática do esporte com o trabalho. No segundo semestre de 1957, A seleção de Itabuna participa e vence o Campeonato Intermunicipal Amador da Bahia. É campeã!

Nininho recebe várias propostas de emprego para continuar em Itabuna, mas pretendia jogar fora: O sonho do Sputnik era jogar e brilhar no Maracanã. E foi!

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado