Comerciantes e empresários da cidade de Itabuna estão, há mais de 40 dias, aguardando ansiosos por uma resposta efetiva por parte da Desenbahia, com relação à liberação do empréstimo emergencial, a fim de retomarem as suas atividades e alavancarem os seus negócios, após as fortes chuvas que devastaram a nossa cidade e parte da região, em dezembro de 2021.

A Agência de Fomento do Estado da Bahia S/A (Desenbahia), instituição financeira vinculada à Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia, disponibilizou à época, o financiamento emergencial que concede carência de 12 meses para pagamento da primeira parcela, sem juros para empréstimos de até R$ 150 mil a todos os comerciantes e empresários afetados diretamente pelas cheias do Rio Cachoeira.

Acontece que a realidade tem sido diferente do que poderíamos chamar de “caráter emergencial”. Cerca de 400 pessoas que se cadastraram para terem acesso a esse financiamento, mas até o momento, pouco mais de 40 comerciantes tiveram a aprovação no pedido de crédito. Muitos empresários se queixam da demora na liberação e da falta de comunicação com a instituição.

O Blog O Trombone, que vem acompanhando todo esse processo desde o início, convidou Mauro Ribeiro, Presidente da Associação Comercial e Empresarial de Itabuna – ACI, para falar mais sobre como tem sido o diálogo entre a associação e a Desenbahia, diante desse embate que muito tem afetado a economia, o comércio e, por consequência, a população itabunense de um modo geral.

Confira a entrevista a seguir:

O Trombone – Quais os problemas que a ACI identificou na liberação dos créditos emergenciais para os empresários atingidos pela cheia do Rio Cachoeira?

Mauro Ribeiro – O primeiro ponto que a gente entende como sendo crítico, é o nome do empréstimo, como “empréstimo emergencial”. Nós já temos aí mais de 40 dias que foi dado o início do cadastramento, muitos lojistas deram entrada e até hoje não saiu uma resposta. Então, de emergencial só tem mesmo o nome. A demora é muito grande e muitos empresários estão aguardando por uma resposta, seja ela “sim” ou “não”, por parte da Desenbahia. O contato com a Desenbahia é muito ruim. A queixa dos lojistas, das pessoas que deram entrada é que não têm tido nenhum retorno.  Esse empréstimo deixou de ser emergencial há muito tempo e virou um prazo de um banco comum.

OT- Sabemos que alguns empresários foram atingidos indiretamente pelas águas, mas não estão sendo contemplados. Há algum entendimento sobre essa questão com o banco?

MR – O empréstimo emergencial da Desenbahia só foi liberado para quem foi diretamente impactado pelas chuvas. Quem foi impactado indiretamente não tem direito a essa linha de crédito, pois fazem parte das políticas do banco. A única coisa que nós da ACI fizemos foi levar a informação às pessoas para que buscassem essa linha de crédito. Mas todo o resto do processo é feito com o banco. A ACI não tem poder para interferir nessa parte.

OT – A ACI tem alguma posição da Desenbahia para a solução dos entraves? 

MR – Até o momento não. Eles precisam dar uma resposta, pois é uma coisa que não dá mais para esperar, já chegou ao limite. Muitos comerciantes estão em duvidas, não sabem onde buscar informação. As pessoas que deram entrada não possuem nenhum protocolo e não há um canal de comunicação para acompanhar o status do pedido. Cerca de 400 comerciantes deram entrada e a grande maioria não recebeu nenhuma resposta. Há um verdadeiro desencontro de informações.

OT- Como o senhor analisa o cenário econômico de Itabuna e região, especialmente após essa tragédia?

MR – É um cenário de reconstrução, principalmente das pessoas e dos comerciantes que foram impactados. Indiretamente, todas as atividades econômicas da cidade sofreram. Houve uma redução na arrecadação do município. Agora é um momento de reconstrução. O cartão auxilio recomeço é muito importante para as pessoas que foram prejudicadas pelas chuvas. Nós desejamos que esse empréstimo possa sair, chegar para quem precisa porque todo mundo que deu entrada está necessitando e aguardando uma resposta da Desenbahia para poder dar continuidade aos seus negócios.

OT – O Sr. tem encorajado os associados a investirem nesse momento? Como tem feito?

MR – Apesar de termos passado por toda essa dificuldade, acredito que nós temos a capacidade de reconstruir, de continuar crescendo. Nossa cidade Itabuna tem o DNA do empreendedorismo. O comércio, como a principal atividade econômica da nossa cidade, é a que mais gera empregos. Não tenho dúvidas que nós vamos, sim, superar esse momento de dificuldades que nós tivemos e que os setores de comércio, de indústria e de serviços irão alavancar, irão crescer e vamos ter um 2022 positivo. Essa é a nossa expectativa! Passamos por um momento difícil, mas tem um ditado que diz: “Depois da chuva vem o sol”. Eu acredito que teremos dias melhores de agora em diante.

OT- A economia está mudando, está cada vez mais no ambiente virtual. O senhor percebe alguma mudança de mentalidade no empresariado itabunense nesse sentido?

MR – Desde o início da pandemia, o empresário teve de se adaptar a essa mudança, o consumidor, em muitos momentos não tinha como ir a um ponto de venda, à loja física, então, o empresário teve que se adaptar para atender no ambiente virtual. Mesmo sem ter um site, um e-commerce, começou a dar um atendimento através das redes sociais, WhatsApp, então, hoje é um novo momento e eu acredito que o mercado, que o empreendedor está com a mente aberta e sabe que o ambiente virtual é uma realidade, que ele tem que ter uma presença digital, estar nas redes sociais, que ele precisa se comunicar com os clientes.

Inclusive, tudo isso foi abordado em diversos eventos que realizamos ano passado, a exemplo do Dia do Empreendedor”, Mulheres Empreendedoras, evento para jovens empreendedores também, para cumprirmos o nosso papel de levar informação e formação, não só para os associados, como para o todo o mercado da nossa cidade e região.

OT – Então o Sr. concorda que a questão da pandemia impulsionou as pessoas a se reinventarem, a saírem do lugar comum?

MR – A pandemia empurrou os consumidores para o online, mas também, as lojas tiveram de se adaptar para atender esses consumidores. Muita gente que nunca havia feito um pedido pela internet teve que começar a usar algum aplicativo para pedir um alimento, um delivery. Eu acredito que 100% dos restaurantes atualmente trabalham com delivery. O consumidor que gosta da experiência do digital, não volta mais atrás e vai permanecer dentro desse ambiente.