Por Walmir Rosário

Atesto e dou fé que o que agora passo a narrar é rigorosamente verdade, daí não retirar ou mudar uma só vírgula do assunto em questão, o futebol amador baiano. Está nos anais da história que a Seleção Amadora de Itabuna se consagrou hexacampeã (em títulos seguidos) do Campeonato Intermunicipal Baiano, feito que até os dias de hoje se encontra tremulando nos píncaros do futebol amador da Bahia.

Tudo começou no ano de 1957 – embora o campeonato seja relativo a 1956 – em 27 de outubro, com um empate em 3X3, em casa, no campo da Desportiva, numa partida cheia de emoções. É que até os 45 minutos do segundo tempo, a Seleção de Itabuna perdia por para a Seleção de Belmonte. Aí, um chute de Tertu marca o gol salvador da pátria. Do meio de campo ele consegue colocar a bola na gaveta superior, onde as corujas dormem.

Bastava caprichar no próximo jogo, na casa adversária, e tomar a dianteira. Não deu outra, Itabuna venceu por 3X1 e deu início a um próspero período de vitórias e títulos. A próxima vítima foi a Seleção de Ubaitaba, vencida por 2X1, na Desportiva e por 4X0 em Ubaitaba. E a partida foi bastante tumultuada, com a expulsão do goleiro itabunense Asclepíades, substituído pelo atacante Santinho, ainda com 20 anos de idade.

Daí pra frente Itabuna venceu Valença em sua casa por 4X3 e repetiu a vitória na Desportiva por 4X1. Para finalizar o campeonato, ganhou da Seleção de Salvador – no campo da Graça – por 2X1 e liquidou a fatura contra os soteropolitanos por 3X1, em Itabuna. Era uma equipe pra ninguém botar defeito, que já tinha mostrado seu potencial ao vencer o Torneio Antônio Balbino em abril de 1957.

No Bicampeonato não foi diferente e a Seleção de Itabuna, mesmo tendo que esperar por três anos para o reinício do campeonato, em 1961. Pra começo de conversa, ganhou da Seleção de Itajuípe, em sua casa, por 3X1, com 2 gols de Zé Reis e um de Florizel. No jogo de volta, em Itabuna, ganhou pelo placar de 3X2, todos marcados por Florizel, considerado o maior centroavante que já atuou em Itabuna.

Nas quartas de final, a Seleção de Itabuna vence o Jequié em sua casa por 3X2, e no jogo de volta abate o selecionado da Cidade do Sol por 4X0, no campo da Desportiva. Na semifinal empata com a Seleção de São Félix em 0X0, na casa adversária, e aplica 1X0 em casa, num gol magistral de Santinho. Com essa vitória Itabuna tinha tudo para colocar a mão da taça, mas o adversário na final seria a Seleção de Feira de Santana.

E como o primeiro jogo seria disputado em Itabuna, os jogadores fizeram de tudo para sair com um bom resultado, goleando a Seleção de Feira de Santana pelo elástico placar de 6X0. No jogo de volta, em 28 de janeiro de 1962, em Feira de Santana, bastou empatar por 1X1 para que a taça permanecesse em Itabuna. Foi uma festa sem precedentes, que continuou após a chegada a Itabuna.

Porém a Seleção de Itabuna queria mais, era chegada a hora de ficar com a taça do Intermunicipal, de forma definitiva, vencendo o Tricampeonato em 1962. E a campanha foi iniciada justamente contra Ilhéus, um adversário difícil. No primeiro jogo, em Itabuna, um empate chorado de 1X1. No jogo de volta, em Ilhéus, Itabuna vence por 2×0, com gols de Tombinho e Gajé. Neste dia Fernando Riela deu um show na ponta esquerda, que culminou com a expulsão de seu marcador, o excelente Coquita.

Agora bastava ganhar de Alagoinhas para chegar ao tri. Numa partida difícil, saiu perdendo com um gol contra de Abieser, mas conseguiu virar para 3X1, na casa adversária e pode decidir o título junto de sua torcida, pronta para festejar no Campo da Desportiva, com todas as honras. Em 17 de dezembro de 1962, o selecionado itabunense ganha de Alagoinhas por 1X0, gol de Zé Reis. Foi comemoração que varou a semana, com direito a música inspirada em Jackson do Pandeiro, “Vocês vão ver como é”, da Seleção Brasileira.

Com a taça em definitivo, era a hora da campanha pelo Tetracampeonato. E mais uma vez começávamos o zonal em 1963 contra a Seleção de Ilhéus, aplicando uma goleada por 4X0, todos marcados pelo centroavante Zé Reis. No segundo jogo, agora no Estádio Mário Pessoa, em Ilhéus, Itabuna joga pela vantagem do placar, perde por 3X0, e continua avançando no Campeonato Intermunicipal.

Agora era só jogar a final contra a Seleção de Santo Amaro, no Campo da Desportiva. Em decorrência de um erro da defesa Itabuna toma um gol, mas se recupera e vence pelo placar de 3X1. Na partida decisiva, Itabuna volta a tomar um gol e vence a catimbeira e poderosa Seleção de Santo Amaro por 2X1, com gols do atacante Gajé. Era só comemorar mais um feito inédito no esporte baiano.

Parece até ironia, mas em 1964 o Pentacampeonato da Seleção de Itabuna é iniciado justamente contra a Seleção de Ilhéus, no Mário Pessoa. Na primeira partida vitória itabunense por 1X0. No jogo de volta, no Campo da Desportiva, Itabuna toma um gol inesperado e parte pra cima virando o placar para 3X1, um gol de Gajé e dois de Santinho, para o delírio da torcida, que já sentia o “gostinho” do Pentacampeonato.

E a decisão era contra a Seleção de Feira de Santana. No primeiro jogo Itabuna sequer tomou conhecimento do selecionado da Princesa do Sertão e goleou por 4X0, com 3 gols de Gajé e um de Santinho. Na segunda partida, em Feira de Santana, perde por 1X0 (com três gol de Fernando Riela anulados). Com a mudança do regulamento, um terceiro jogo é marcado, também para Feira de Santana, e Itabuna vence por 5X3, liquidando a fatura.

Em 1965 Itabuna parte para a conquista do Hexacampeonato. No primeiro jogo, em Ilhéus, vence o selecionado ilheense por 2X1. Na segunda partida, com o Campo da Desportiva lotada, um cartaz recepcionava os ilheenses com a sugestiva frase: “Os Penta saúdam os ilheenses”. E volta a vencer o selecionado praiano pelo placar de 3X1. Agora era só partir para a final, mais uma vez contra Alagoinhas.

Com o Campo da Desportiva superlotado, Itabuna fica no empate 3X3 com Alagoinhas. Na partida finalíssima, encara Alagoinhas em sua casa e vence por 1X0, gol de Pinga, de cabeça, aos 35 minutos do segundo tempo. Enfim, Hexacampeã. O prefeito de Alagoinhas, Murilo Cavalcante, organizara uma festa para comemorar a vitória de sua seleção. Mesmo perdendo confraternizou com os itabunenses. Era 30 de janeiro de 1966. Só alegria!

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado