Adylson Machado

Adylson MachadoDa observação se extrai uma lição, não tão elementar para muitos: diante de fatos não há bola de cristal. A análise dispensa o esotérico e a verdade factual nunca se eximirá da verdade palpável em favor da especulação abstrata.

As eleições de 2010 deixaram lições que permitem reflexões contínuas, ainda não esgotadas, mesmo passado um semestre de seu término. Os que estamos na província pouco dimensionamos o que representaram para o PSDB, DEM e PPS os resultados eleitorais Brasil a fora. Derrotas como as de Arthur Virgílio, Tasso Jereissat, Heráclito Fortes, José Carlos Aleluia, Raul Jungman e aliados como Mão Santa retiraram da oposição não somente quadros importantes. Reduziram a força do discurso, agora limitado a alguns que o fazem ressabiados, como gato escaldado temendo água fria.

A eleição do “poste” Dilma Rousseff arrastou no caudal uma avalanche de resultados que só podem ser atribuídos ao efeito Lula, finalizando o mandato com aprovação inimaginável. Ainda que o Partido dos Trabalhadores não tenha alcançado um crescimento proporcional, outras siglas a ele aliadas encontraram proveitos significativos que repercutem na composição do Congresso.

A oposição está desnorteada. Sabe que o discurso do quanto-pior-melhor, ainda que respaldado por sistema midiático invejável, não produziu/produzirá resultados e mais perde diante das conquistas obtidas pela população em geral com as políticas desenvolvidas nos anos Lula, justamente porque tendem a continuar.

Sob esse particular, a pesquisa que o Ibope realizou para a Confederação Nacional da Indústria– CNI, publicada no Estadão de sábado 2, mostra a Presidente Dilma com apoio de 56% contra apenas 5% dos que lhe são absolutamente contrários – existindo 27% de regular e outros 12% que não souberam ou não quiseram responder – repercute com a delicadeza de um direto de Maguila em queixo de um peso pena.

Isso porque, se afastamos os 12 que não quiseram ou não souberam emitir ponto de vista, e considerarmos a os números absolutos de 88% (100% – 12%) o apoio alcança em torno 62%. Se Dilma obteve 56% de votos válidos e Serra 44 no segundo turno de 2010 e traduzirmos a pesquisa recente, permitido é concluir que o eleitorado de Serra (PSDB-DEM-PPS) não se mantém no patamar de outubro. O apoio à oposição encolheu.

O que há – imprescindível considerar – é que instrumentos que alimentaram a popularidade de Lula permanecem: a política salarial (que terá impacto já previsível com o reajuste futuro, na ordem de 12 a 13 por cento a partir de janeiro de 2012); o Bolsa Família, engordado com um aumentozinho; o desemprego recuando de 9,7 para 6,1%, tornando a busca por emprego menos angustiante. O consumo mantém-se aquecido e a melhoria na renda faz permanecer a política de distribuição que mudou a cara do Brasil.

Enquanto Aécio Neves não traduz no Senado a atuação de um Arthur Virgílio e Kassab arranja um meio de se aproximar do Planalto, milhares por este Brasil, do cenário nacional ao municipal, buscam engrossar as fileiras do universo “governista”.

A oposição – em xeque para manter-se com a atual representação no Congresso e nas Assembleias Legislativas – enfrenta o legado de Lula e a perspectiva oferecida por Dilma ao povo brasileiro, traduzidos em números das pesquisas.

PSDB e DEM estão sem rumo, sem alternativa imediata, sem discurso. O que dizer ao eleitorado em 2012? Sabem que a opinião pública não será alterada no imediato.  Ainda que trabalhe para 2014, tentando melhorar o trampolim 2012. E têm consciência de que a consolidação das políticas postas nestes oito anos acuam a oposição em duas frentes: uma com a possibilidade de  reeleição de Dilma; a outra, com a perspectiva de uma nova eleição de Lula. No momento é quase um beco sem saída.

O expressado pela senadora Kátia Abreu em entrevista ao Estadão nesta terça 5, de que “Oposição não é empresa de demolição; não precisa de adjetivos, mas de caráter”, partindo da Lacerda de saias, reflete a dimensão dos conflitos que afligem o DEM, privado de rumo e de um discurso que lhe seria fundamental: convencer as bases de que falava a verdade. Certamente perdeu “o caráter” quando buscou destruir a imagem de Lula quando esta se consolidava no imaginário popular e tornou-se (ela, a oposição) uma encrenqueira com dor de cotovelo. Ingressando no partido de Kassab, ainda afirma a senadora que “O PSD não vem fazer duelo ideológico” e que “busca uma tribuna mais eficaz” para a defesa de seu ideário, esgotado – deduzimos – pela via do DEM como instrumento político.

Os angorás da Bahia já lançaram seu manifesto: precisamos ocupar espaço (vemos mais como “não perder espaço”) e preparar as liças para 2014 (O TROMBONE, “‘Rodapés’ já o dissera”, de 5 de abril). Reproduzem o reflexo da apatia do discurso que não convenceu e se encontra repudiado pela maioria da população.

Dessa forma, retornando à província de todos nós – das Oropa, França e Bahia, como o diria o surrealista Zé Limeira – não nos causa espécie Azevedo saindo do DEM, ato ensaiado há muito. Ele é apenas um dos muitos que deixarão o partido já pensando nas próximas eleições. Como aqui, ali e alhures.

Por essas e outras não há melhor bola de cristal que observar a realidade que nos cerca.

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Adylson Machado é escritor, professor e advogado, autor de “Amendoeiras de outono” e ” O ABC do Cabôco”, editados pela Via Litterarum