Luís Carlos

Há coisas que precisamos ficar atentos ao que está a acontecer na Bahia. Há aqueles que querem o desenvolvimento sustentável, há aqueles que tentam impedir por razões políticas e há aqueles que, o quanto pior, melhor. Vejamos resumidamente o que está a acontecer na Bahia. Ela tem um portfólio de commodities impressionante; nas alimentícias, quando não é a primeira, está entre os cinco estados mais produtores do país, por exemplo: soja, milho, algodão, cacau, celulose, seringa, mamão, melão, laranja, café, uva, manga, cebola, cana, dendê, coco, maracujá… Nas minerais temos: ferro, bauxita, vanádio, níquel, ouro, diamantes, esmeraldas, salgema, talco… Nos minerais raros, a princípio temos duas minas descobertas; Barreiras, tálio; Jequié, cerio. Ainda nas commodities minerais, temos a retomada de exploração da Bacia do Recôncavo e gás, no campo de Manati; mais o potencial de petróleo a ser explorado nas bacias em terra bem como Camamu-Almada e a Bacia do Jequitinhonha.

No setor industrial, temos a Região Metropolitana e a segunda região mais industrializada ficando com o extremo-sul. Segundo o Estado de São Paulo, numa série de reportagens sobre o NE, haveria mais de trezentos protocolos de intenções de algumas empresas que querem se instalar aqui. Para algumas regiões do estado de setores produtivo, algumas como Ducoco, Maguary, já estão; chineses e coreanos virão. Há, também, a pecuária; temos nós, o sexto rebanho e a terceira produção de leite do país, assim como o primeiro rebanho ovino. No turismo ficamos atrás de SP e RJ.

Tudo isso é muito bem vindo e precisa ser bem elaborado para que se traga desenvolvimento com sustentabilidade e melhor distribuição de renda, para que não se repita em nosso estado, os modelos de sociedade que tivemos com o açúcar e com o cacau. Ou seja, o velho modelo oligárquico de concentração de renda, baixa escolaridade e feudos políticos. Há um grupo de neozelandeses no sudoeste, que já deu um ar diferente a tudo isto; eles moram na fazenda, os filhos estudam com os filhos dos empregados, com escola bilíngue e já produzem 50 mil litros de leite dia e pretendem chegar a 150 mil litros dia. Se outros chegarem, haverá mais produtividade, haja vista o know how deles.

A NZ é do tamanho do RS e produz quinze bilhões de litros de leite por ano. Espero que se eles não conseguirem isto, uma vez que disseram que o sudoeste pode produzir mais, uma vez que, a hectare é três por um relação a NZ, possam alcançar metade. O que quero dizer com tudo isso? Além da necessidade da agroindustrialização e não apenas exportar in natura, pois sabemos que isto é suicídio, está aí o exemplo do cacau, a Bahia apenas com a maioria das commodities in natura, está a crescer economicamente.

Para se ter uma ideia, na safra de 2010, o oeste produziu mais de três milhões de grãos. Para 2011, a perspectiva é de mais de seis milhões e um faturamento de sete bilhões. Isso certamente gerará: continuidade da construção civil em Salvador e no interior, empregos, viagens, bens de consumo duráveis e não duráveis, faculdades, enfim, haverá uma uma injeção de dinheiro considerável, apenas do setor de cereais do oeste, investindo dentro do estado. Isto significa que a Bahia está enriquecendo. Logo, a briga política será mais intensa, mais destrutiva.

Não sei se já foi percebido, mas a Globo já começa a transmitir sempre imagens negativas da Bahia. Quando do período do carnaval, ela queima; ao longo do ano, mostra imagens sempre negativas. A Rede Bahia escolhe a dedo reportagens negativas para mostrar sobre o estado, isso acaba interferindo no turismo baiano. A Globo é uma emissora comercial, logo, seus interesses são comerciais, então não há interesse de ela mostrar o carnaval baiano, haja vista transmitir o carioca e ter seus interesses naquele estado e seu bairrismo inconteste.

No plano estadual, as reportagens negativas geram expectativas de o carlismo voltar ao poder, pois mostrar imagens negativas sempre, haja vista a Rede Bahia pertencer à família, torna-se uma maneira de manter vivo o grupo. O DEM está a diminuir, por conta de forças políticas. Se cai na Bahia, provoca efeito dominó em todo o NE. Logo, fortalecer o DEM para sobreviver no NE, é fortalecer as velhas oligarquias e, para isso, a Bahia será usada como foi o Rio de Brizola, ou seja, imagens negativas sempre que agradem à Globo bem como ao grupo baiano que perde espaço. É o jogo político perverso que perdemos todos os bainos, infelizmente. Mas o resultado disso tem consequências funestas para o estado, cai o turismo e não atrai investimentos como se deseja.

O que ocorre com o Porto Sul é emblemático. Há uma série de obstáculos, mesmo sabendo que não é apenas uma empresa a ser beneficiada, mas todo o oeste e sudoeste baiano para escoar nossa produção e com isto continuar gerando emprego e renda, pois assim funciona uma cadeia econômica bem estabelecida. Por outro lado, os sistemas cabruca e agroflorestal recuperam consideravelmente a Mata Atlântica, na medida em que muitos estão retomando o cultivo do cacau. Claro que há o sistema irrigado no extremo sul, mas o fato é que há lugares na região que o cabruca é insubstituível.

O que quero dizer com tudo isto? Que na medida em que a Bahia for melhorando economicamente, mais ferozes e maléficas serão as disputas políticas, pois é o potencial de um estado que, de sexta, poderá vir a ser a terceira economia do país. Então, o jogo que já é pesado, aumentará. É preciso que cada vez mais nos tornemos esclarecidos acerca disso. Não podemos perder esta oportunidade de nos desenvolvermos por conta de intrigas políticas, seria um absurdo. É preciso compreensão e esclarecimento acerca de nossos potenciais; nos dias atuais, nossas commodities/riquezas que a princípio têm donos, mas nem todas são particulares. Há aquelas que pertencem ao governo e que, são elas governamentais ou privadas, que movimentam nossa economia, nosso sustento, pois é a cadeia econômico-produtiva do estado. Com a chegada mais intensa do desenvolvimento, haja vista uma Ásia sedenta por commodities, compreendermos e querermos sustentabilidade é importante.

O Porto Sul precisa sair, há interesses contrários para que o projeto não ocorra. Mas o fato é que, não saindo, como ficará o escoamento das produções do oeste e sudoeste? Soluções plausíveis seriam: Ir para Goiás e ser transportado pela Norte Sul, que iria para SP, CE, MA ou então iria para PE, para ser transportado por Suape. Ah, mas pode ir pelo Porto de Aratu. Ah, tá, o Porto de Aratu nem as frutas do norte recebe completamente, metade disso sai via PE.haja vista as exportações do Recôncavo e da Região Metropolitana. São coisas que precisamos pensar e atentarmos para interesses políticos que nem sempre objetivam o desenvolvimento do estado, mas por trás, há grupos diversos que pretendem outras soluções. Estamos, na verdade, sendo vítimas da velha política. Infelizmente.

Vale lembrar que a indústria de construção de estaleiros foi retomada no estado. Em São Roque e Paraguaçu estão sendo construídos dois para a Petrobras e o Porto de Aratu não poderia comportar toda a produção do estado. Teríamos mais um Porto de Santos, com filas enormes de caminhões e vagões de trens para serem descarregados. O que seria sugerido, claro, parte disto para outros estados. É preciso pensar com mais atenção a Bahia que queremos e vermos se os interesses contemplam empregos e geração de renda para o estado ou se são interesses de grupos oligárquicos. Melhor dizendo, políticos.

Luís Carlos  é leitor assíduo do blog O Trombone