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Domingos Matos | [email protected]

Temos por princípio reconhecer a legitimidade de qualquer partido lançar-se em candidaturas próprias em qualquer eleição. Por isso, não vemos como absurdo o anúncio de que o Partido Comunista do Brasil vá lançar candidato à prefeitura de Itabuna no próximo pleito, em 2012. Apenas ‘não acreditamos’ que isso vá ocorrer.

Esse ceticismo, um mês após o primeiro turno das eleições gerais na Bahia, em que saiu consagrado com uma ‘vitória moral’ o vereador Wenceslau Júnior, que concorria a uma cadeira na Assembleia Legislativa pelo PC do B, até poderia soar como algo totalmente irreal, uma vez que além da legitimidade institucional, há o invejável patrimônio de mais de 30 mil votos acumulado pelo edil nessa disputa (embora em Itabuna tenha alcançado apenas 13.676 votos). Mesmo assim, não acreditamos.

Os motivos básicos de nossa desconfiança são aqueles que todos já conhecemos; não trazemos novidades, nem inventamos a roda. Em Itabuna, PC do B é aquele partido que ainda vive uma espécie de crise existencial, que sabe de sua importância como fiel da balança mas, também, reconhece que não consegue ir tão além de seus próprios redutos, quais sejam os movimentos sociais ligados aos trabalhadores. Uma liderança que não ultrapassa muito os limites de sua própria casa. No máximo, chega ao passeio, mas não alcança a rua, se é que me entendem.

Acrescentamos outro ingrediente: a maturidade política que o partido já alcançou será maior que a vontade juvenil de querer alçar voos de Ícaro. Não quer (ou não deveria querer) repetir 1996. Todos lembram, foi quando, com uma candidatura sem chances, o PC do B acabou por garantir a eleição de Fernando Gomes, na medida em que seus seguidores, que votariam em Renato Costa, pela afinidade com as esquerdas, desviaram esses votos para Davidson Magalhães. Esse protagonismo coadjuvante garantiu a Davidson pecha de candidato-laranja por algum tempo – uma ‘homenagem’ de Manuel Leal.

Como saber se aquele episódio contribuiu para o amadurecimento político do PC do B? Não temos essa garantia, uma vez que sempre baixa um espírito de Ícaro nos seus comandantes… Mas, com certeza, aprendeu-se algo com a repetição do roteiro de 96 em 2004, ali já com os papeis invertidos – foi a candidatura de Renato Costa quem ganhou o prêmio Laranja de Ouro.  O mesmo veneno de 96 foi oferecido aos comunistas, apenas trocaram os cálices: Geraldo Simões tinha como companheira de chapa Conceição Benigno (PC do B), mulher de Davidson Magalhães.

A coisa é simples: esquerda só ganha, aqui, se estiver bem fechadinha. Uma candidatura posta em momento errado pode dar nova vitória à direita, que dessa vez tende a ser representada pelos algozes de GS & Cia em 2004: Fernando Gomes e Capitão Azevedo. Deverá ser uma disputa interessante, Geraldo x Fernando x Azevedo. Ao PC do B, caberá decidir quem quer ver no Centro Administrativo Firmino Alves.

É um papel importante, o de melhor ator coadjuvante. Numa analogia com o Oscar, o “prêmio máximo”* do cinema mundial, um reconhecimento que não deve em nada ao do ator principal.  Mas, como diz o ditado, é cada um na sua, e a amizade continua. Se a ideia da candidatura própria ganhar corpo, a legitimidade do PC do B é sagrada. As conseqüências disso é que devem ser bem avaliadas enquanto há tempo.

Um devaneio: quem sabe 2016 não seja um número mais adequado a essas pretensões emancipatórias?  De nossa parte, vemos o pós-Copa e o pós-Olimpíadas como o melhor cenário para a afirmação definitiva do PC do B, com apoio do Ministério dos Esportes…

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* Um dos pretendentes do PC do B à prefeitura, Luís Sena, cinéfilo de carteirinha, entenderá as aspas, assim também como todos os que gostam de cinema.

Domingos Matos é repórter e editor d’O Trombone