Por Domingos Matos

Em 2008 Itabuna teve e perdeu uma grande chance, talvez ainda maior do que a de 2004. Naquele ano, caso tivesse votado de forma pragmática, o itabunense poderia entrar em 2009 com uma gestão petista, enquanto aproveitaria o já embalado governo Jaques Wagner, que teria completado, então, seus dois primeiros anos à frente do Estado.

De quebra, ainda pegaria o auge do PAC no governo Lula, além de todas as políticas públicas que o então presidente desenvolvia para provar ao mundo sua tese da marolinha, em relação à crise que se abatia sobre a economia global. Ainda daria tempo de retomar as rédeas e reverter as perdas pelo tiro no pé que fora, em 2004, a não reeleição do então prefeito Geraldo Simões. Mais: naquele momento, Itabuna contaria com um secretário estadual muito influente no governo Wagner ou, caso exonerado, com um deputado federal injetando dinheiro no município.

Os personagens: Juçara Feitosa, candidata a prefeita, numa aliança com o PC do B, de Luís Sena, seu vice; e Geraldo Simões, deputado federal licenciado e secretário estadual da Agricultura. Só não fazia chover. A acusação: Geraldo queria impor sua mulher, Juçara, como prefeita, numa tentativa de arregimentar um projeto familiar, o que lhe conferiria uma imensa capilaridade eleitoral. Dominaria a política regional por longos anos.

O tempo se encarregou de mostrar que a escolha pelo adversário de Juçara, o outsider Capitão Azevedo, foi um imenso erro de cálculo, visto que de lá para cá Itabuna nunca mais se aprumou. As idas e vindas da política se encarregaram de levantar e derrubar Azevedo, eleger Claudevane Leite e jogá-lo no ostracismo e ressuscitar Fernando Gomes, ao mesmo tempo em que Itabuna se viu com a saúde pública caindo ladeira abaixo – culminando na sua privatização velada nos dias de hoje.

Os dias de hoje. Qual foi o primeiro projeto posto em prática pelo atual governo, do prefeito Augusto Castro? O hospital de campanha? A revitalização da avenida Manoel Chaves? Nada. Foi a implantação de um autêntico projeto familiar. Não se está aqui a falar do clássico nepotismo, já tão cantado desde o início do atual governo.

O projeto de Augusto Castro é um projeto de poder, que passa, também, pelo nepotismo na gestão, mas que vai além, e consiste numa estratégia de inflar a Secretaria de Assistência Social, na qual figura como titular a mulher do prefeito, Andréa Simas. Que, como parte do tal projeto, passou a usar politicamente o sobrenome do marido, passando a assinar Andréa Castro.

O que se pretende é transformá-la numa deputada, enquanto o marido é prefeito. Com qual propósito? Não se sabe, porque não se tem, com o atual governo, um projeto de desenvolvimento para o município que tenha sido sequer debatido com a população.

Alguma diferença entre 2008 e 2021? Talvez nos métodos.

Mas a grande diferença é que hoje em Itabuna não se fala nisso. Em 2008 – como, de resto, seria em qualquer ano – a ordem era enfraquecer a liderança do ex-prefeito e ex-deputado Geraldo Simões. Hoje, os críticos dos projetos familiares estão com outras prioridades.

Alguns usam uma expressão tão simplista quanto canalha para justificar essa acriticidade: “torcida por Itabuna”. Então, tá.

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